Da Redação Avance News
Desde os primeiros dias em que a Covid-19 começava a se espalhar, cientistas e autoridades sanitárias voltaram seus olhares ao Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan, em Wuhan, na China. Isto porque os primeiros humanos a adoecer tinham alguma ligação com o estabelecimento, conhecido por vender animais silvestres vivos ou recém-abatidos.
Agora, um relatório ainda não revisado e publicado por cientistas de diversos países sugere que cães-guaxinim possam estar envolvidos na cadeia de transmissão do vírus Sars-CoV-2 para os humanos naquele primeiro momento.
O nome científico do cão-guaxinim chinês é Nyctereutes procyonoides, que é diferente do cão-guaxinim japonês (Nyctereutes viverrinus).
São animais que têm o rosto semelhante ao de um guaxinim, com uma pigmentação nos pelos dos olhos que lembra uma máscara. Eles costumam ter 45 cm e 71 cm e pesar de entre 7 kg e 10 kg.
O Nyctereutes procyonoides é encontrado na porção leste da China, justamente onde fica a cidade de Wuhan.
Eles se alimentam de uma série de animais, incluindo frutos do mar, pássaros, sapos, e também de vegetais.
Na indústria da moda, o pelo dos cães-guaxinim é usado para a confecção de casacos.
O estudo
Sabe-se que o reservatório natural do vírus são os morcegos, mas estes não transmitiram o vírus com tanta facilidade para pessoas, uma vez que vivem em áreas selvagens. É necessário que exista um hospedeiro intermediário.
Entretanto, ao capturar cães-guaxinim de florestas e levá-los para a cidade, havia o risco de que alguns deles tivessem contato com secreções de morcegos previamente e estivessem infectados.
“O fato de esses traços genômicos estarem presentes em amostras nas quais o Sars-CoV-2 foi detectado identifica essas espécies selvagens como potenciais hospedeiros intermediários entre o reservatório animal Rhinolophus spp. (morcego-ferradura) e humano”, diz o documento.
O convívio de humanos com os animais em um local com o mercado aumenta as chances de ocorrer o que cientistas chamam de “jump”, em português, “salto” do vírus para as pessoas, após uma série de mutações que o deixaram adaptado.
“Nossa análise desses dados descobriu que evidências genéticas de várias espécies animais estavam presentes em locais do mercado onde amostras ambientais positivas para Sars-CoV-2 foram coletadas. Isso inclui cães-guaxinim, que são suscetíveis à infecção por Sars-CoV-2 e liberam vírus suficientes para transmitir a outras espécies”, escreveram os autores do artigo.
O trabalho também avaliou outras espécies de mamíferos como possíveis hospedeiros intermediários.
“Embora mamíferos vivos já tivessem sido observados no mercado de Huanan no final de 2019, suas localizações exatas não eram conhecidas de forma conclusiva, e algumas das espécies animais que identificamos no relatório abaixo não foram incluídas na lista de animais vivos ou mortos testados no mercado de Huanan, conforme relatado no relatório conjunto OMS-China de 2021 sobre a origem da pandemia de Covid-19. Nossos resultados mostram que eles estavam presentes. Em alguns casos, a quantidade de material genético animal foi maior do que a quantidade de material genético humano, o que é consistente com a presença de SARS-CoV-2 nessas amostras devido a infecções animais”, continuam os pesquisadores.
Sequências de DNA mitocondrial de outros quatro mamíferos selvagens também foram identificadas; são eles:
• Porco-espinho malaio;
• Porco-espinho Amur;
• Civeta-das-palmeiras;
• Rato-de-bambu.
O cão-guaxinim chama atenção dos cientistas porque o material genético deste animal foi encontrado “em seis amostras de duas barracas no canto sudoeste do mercado, ambas previamente identificadas como vendendo produtos da vida selvagem”.
“O material genético do cão-guaxinim era abundante em uma amostra positiva para SARS-CoV-2 de um carrinho, e muito mais do que o material genético humano da mesma amostra. Esta descoberta apoia a evidência fotográfica da presença de cães-guaxinins vivos nesta área”, acrescentam os especialistas.
Não foi apenas em animais que o vírus foi encontrado no mercado. Os pesquisadores também amostras positivas do Sars-CoV-2 em que o DNA humano era mais abundante, “indicando que em outras amostras o vírus havia sido eliminado por pessoas infectadas”.
A hipótese de que a doença teve uma origem animal acaba, por fim, reforçada pelo estudo.
Os resultados surgem no momento em que os Estados Unidos adotam outra posição em relação à origem da pandemia.
No fim de fevereiro, o diretor do FBI, Christopher Wray, afirmou que “muito provavelmente”, o vírus vazou de um laboratório de Wuhan.
“O governo chinês… tem feito o possível para tentar impedir e ofuscar o trabalho aqui, o trabalho que estamos fazendo, o trabalho que nosso governo e os aliados estão fazendo”, disse Wray à Fox News.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) tem pressionado a China a ser transparente com as informações que possui, o que não ocorreu até o momento, na avaliação da entidade.
Não é a primeira vez que um animal selvagem ganha protagonismo envolvendo a Covid-19.
Logo no início da pandemia, cientistas chineses apontaram que o pangolim poderia ter alguma relação com a cadeia de transmissão, algo que nunca foi provado.