Da Redação Avance News
Por quase cinco milênios, comunidades da atual Taiwan mantiveram um ritual surpreendente e doloroso: remoção de dentes frontais saudáveis. Sem anestesia. E uma nova pesquisa conduzida por arqueólogos da Universidade Nacional da Austrália e da Universidade de Guam revelou detalhes sobre motivos e métodos por trás deste costume ancestral.
Essa prática, que atravessou gerações desde o período Neolítico até o início do século 20, tinha propósitos que iam da busca pela beleza à marcação de passagens sociais importantes, como a entrada na vida adulta. O estudo foi publicado no periódico Archaeological Research in Asia.
Arrancar dentes em prol da beleza era comum do norte ao sul de Taiwan
Em 40 sítios arqueológicos, crânios bem preservados com dentes ausentes lançam luz sobre a prática conhecida como ablação dental. O estudo indica que o ritual era comum em diversas comunidades ao longo da ilha, cada qual com métodos próprios de extração.
Tribos do norte, por exemplo, martelavam para soltar os dentes. Já grupos do sul preferiam usar fios, aplicando força para remover os dentes frontais superiores, como incisivos e caninos. O procedimento costumava ser realizado no inverno, para minimizar riscos de infecção.
A cavidade deixada pela remoção do dente era preenchida com cinzas de plantas, ajudando a estancar o sangramento e a prevenir inflamações.
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O motivo mais frequente? Embelezamento. A ablação era considerada um meio de diferenciar os humanos dos animais, aumentando o sex appeal. Os pesquisadores apontam que a remoção dos dentes criava um efeito visual desejável, com a língua carmesim visível através da lacuna entre os dentes restantes.
Outros motivos incluíam a melhoria da pronúncia, a prevenção da hiperdontia (excesso de dentes) e, também, a exibição de coragem e bravura – especialmente em rituais que envolviam jovens se tornando adultos.
Simbolismo perdido no tempo
A pesquisa revela que a remoção dos dentes também tinha um simbolismo forte na cultura dessas comunidades. Os dentes extraídos eram enterrados em lugares especiais, como em frente ao celeiro ou sob a cama.
O ritual de ablação dental foi aos poucos abandonado a partir do século 20, especialmente após a imposição armada que visava subjugar as populações indígenas, pondo fim a essa tradição milenar.