Da Redação Avance News
A “formiga” Traumatomutilla bifurca é encontrada na Caatinga, bioma exclusivo do Brasil – e possui uma coloração “ultra-preta”, capaz de absorver quase toda a luz visível. Isso foi apontado por um novo estudo publicado no periódico Beilstein Journal of Nanotechnology e realizado por cientistas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
Popularmente conhecidas como “formigas feiticeiras”, esses insetos são, na verdade, vespas fêmeas. Diferente dos machos, elas não têm asas – ficando mais parecidas com formigas. Já a cor ultra-preta não se deve apenas à pigmentação (como a melanina em corvos e panteras negras). A tonalidade resulta de uma sofisticada combinação de microestruturas em seu exoesqueleto aveludado, incluindo camadas sobrepostas de tecido (lamelas) sob densas cerdas.
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Essa estrutura, combinada com um pigmento preto, “aprisiona” a luz visível e ultravioleta, permitindo que menos de 1% escape. Tal característica é extremamente rara no reino animal, tornando a “Traumatomutilla bifurca” o primeiro membro ultra-negro conhecido da ordem Hymenoptera, que engloba mais de 150 mil espécies, incluindo formigas, vespas, abelhas e moscas-serra. Além dela, apenas algumas borboletas apresentam essa coloração.
Ser ultra-preta é bom para a natureza
A cor ultra-preta oferece diversas vantagens evolutivas. Em outras espécies, como aranhas-pavão e aves do paraíso, ela intensifica outras cores vibrantes para atrair parceiros. Em peixes das profundezas, atua como camuflagem. Em algumas víboras, auxilia na regulação da temperatura.
No caso das formigas feiticeiras, a hipótese mais provável é que a cor sirva como um sinal de alerta para predadores. As vespas já são conhecidas por suas picadas dolorosas, veneno potente e exoesqueleto resistente, o que lhes rendeu o apelido de “insetos indestrutíveis”. A cor ultra-preta reforçaria essa mensagem.
O bom dos tons extremos na tecnologia
Na tecnologia, existem inovações que apostam na cor ultra-preta, inspiradas na natureza, para melhor captação de energia solar – ou até mesmo, na produção de joias e na criação de telescópios de alta precisão. Cientistas também buscam o equivalente ao ultra-preto: o ultra-branco, que reflete quase toda a luz solar, com potencial para resfriar edifícios – e veículos (incluindo aviões).
Apesar das descobertas, ainda há perguntas a serem respondidas sobre o inseto. Por exemplo, o que faz apenas as fêmeas das formigas feiticeiras de veludo possuírem a coloração ultra-preta? E quais pressões evolutivas levaram a essa diferença entre machos e fêmeas?