O mercado cambial tem despertado a atenção de investidores após o dólar registrar quedas expressivas em relação ao real. Nesta quarta-feira (22), a moeda fechou cotada a R$ 5,946, marcando o menor valor desde novembro de 2024.
A pergunta que surge entre os investidores é: é o momento certo para comprar ou vender dólares?
A baixa do dólar tem relação direta com o cenário internacional. A recente posse de Donald Trump para um novo mandato nos Estados Unidos trouxe expectativas de mudanças nas políticas comerciais e fiscais.
De acordo com Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, “o recuo recente do dólar tem sido influenciado principalmente por dois conjuntos de fatores: ajustes técnicos no mercado e um cenário internacional favorável”.
As primeiras medidas do governo Trump, incluindo decretos e sinalizações sobre tarifas de importação, despertaram preocupações no mercado global.
A expectativa de uma política fiscal menos agressiva, somada à queda inesperada nos pedidos de auxílio-desemprego nos EUA, também contribuiu para o fortalecimento do real frente ao dólar.
Cenário doméstico
No Brasil, o Banco Central tem adotado medidas para conter a volatilidade cambial. Um leilão de até 15 mil contratos de swap cambial foi realizado para gerenciar o vencimento previsto para março de 2025.
Além disso, especula-se que novas medidas fiscais no país possam melhorar a confiança dos investidores.
“Os recentes andamentos quanto a medidas de contenção têm melhorado a confiança dos investidores, contribuindo para a valorização do real”, afirma Lima.
No entanto, ele alerta que “as incertezas políticas e fiscais podem representar riscos que levariam a um novo aumento da moeda”.
Comprar ou vender?
Para quem busca uma resposta direta sobre o momento ideal para comprar ou vender dólares, especialistas apontam que a decisão depende de objetivos individuais e do contexto econômico.
Carolina Araujo, especialista em câmbio e sócia da Kótto, enfatiza a necessidade de uma análise cuidadosa: “É preciso que a nação tenha uma análise cuidadosa das movimentações, além de uma adaptação rápida às possíveis mudanças”.
A compra de dólares pode ser atrativa para aqueles que buscam proteção cambial ou planejam viagens internacionais. A queda recente oferece uma oportunidade para adquirir a moeda por um valor mais baixo.
Por outro lado, a venda pode ser vantajosa para quem acredita que o cenário atual representa um pico de valor do real frente ao dólar, especialmente em um ambiente de incertezas.
“As taxas atuais estão atrativas e momentos de volatilidade são ideais para quem tem estratégia. Em vez de tentar adivinhar o fundo do poço ou o pico do mercado, o melhor é manter aportes consistentes, ajustando conforme o cenário. No longo prazo, quem tem disciplina costuma sair ganhando. Mas, no fim, é impossível prever o dólar e ainda mais complexo prever o futuro do Brasil nesse momento. Portanto, eu sigo sempre pelo equilíbrio”, analisa Raul Sena, educador financeiro e CEO da AUVP Capital.
Riscos e estratégias
Apesar do alívio recente, a volatilidade no câmbio deve persistir. Sidney Lima alerta: “a volatilidade no câmbio pode persistir, refletindo a complexidade e a incerteza dos fatores econômicos e políticos envolvidos”. Por isso, investidores devem considerar estratégias diversificadas.
No mercado internacional, Títulos do Tesouro Americano (Treasuries) são vistos como uma opção segura para proteção cambial. Segundo especialistas, esses títulos oferecem segurança quase absoluta e podem se beneficiar de uma eventual valorização do dólar.
“Diversificação é a palavra-chave. Treasuries oferecem proteção cambial e segurança, enquanto a renda fixa brasileira traz um juro real muito alto, difícil de ignorar”, destaca Araujo.
Embora não haja uma resposta definitiva para a questão de comprar ou vender dólares, o equilíbrio e a diversificação são recomendados. Analisar os objetivos financeiros pessoais e as condições do mercado é essencial para tomar uma decisão informada.
“Aqui é uma questão de entender o contexto. Treasuries oferecem segurança quase absoluta e podem ser beneficiados pela valorização do dólar, como vimos em 2024, quando o real perdeu 27% frente à moeda americana”, explica Raul Sena.
“Já o Tesouro Prefixado paga 15%, mas carrega riscos maiores, como volatilidade fiscal e econômica no Brasil. Comparar as taxas sem olhar o risco e a moeda é como escolher um carro só pela velocidade máxima, sem pensar em segurança ou consumo de combustível”, completa.
Diante de um cenário global incerto, especialistas recomendam cautela e consistência nas estratégias de investimento. “Momentos de volatilidade são ideais para quem tem estratégia. No longo prazo, quem tem disciplina costuma sair ganhando”, conclui Lima.