A expectativa de alta de 1 ponto percentual na Selic nesta quarta-feira (29) é amplamente compartilhada entre analistas do mercado financeiro. A reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), a primeira de 2025, deve seguir a sinalização dada em dezembro, elevando a taxa básica de juros para 13,25% ao ano.
O movimento faz parte de uma estratégia do Banco Central para conter a inflação.
O BC já havia indicado que mais duas altas de 1 ponto percentual eram esperadas, o que levaria a Selic para 14,25% em março. O mercado, entretanto, segue dividido sobre os passos seguintes, que trazem mais incertezas.
Segundo o economista Geraldo Almeida, a inflação fugiu do centro da meta estabelecida pelo Banco Central, que era de 3%, com margem para até 4,5%. “Ela terminou o ano em 4,83%. Tanto que o Banco Central fez uma carta explicando o porquê a inflação não chegou a essa meta. Então, o Banco Central tem que usar os juros para tentar corrigir a inflação”, explica Almeida.
A partir de janeiro de 2025, o BC vai calcular a meta de inflação acumulada em doze meses, apurada mês a mês, também conhecida por “meta contínua”. Por exemplo, ou seja, a inflação acumulada em doze meses é comparada com a meta e seu intervalo de tolerância. A ideia é verificar o deslocamento ao longo do tempo, não ficando mais restrito ao mês de dezembro de cada ano.
Almeida destaca que os juros ajudam a controlar o câmbio: “Juros e câmbio andam em sentido inverso. Quanto maior é o juros, cai a taxa de câmbio. Então você também baliza um pouco o câmbio”, completa.
Para Almeida, o Boletim Focus sugere que a Selic deve encerrar 2025 em 15% ao ano. A maioria dos cenários prevê o seguinte cronograma de elevações: janeiro (13,25%), março (14,25%), maio (14,75%) e junho (15%).
A XP Investimentos apresenta uma projeção mais conservadora, com uma taxa de 15,50% no final do ano. Caso se confirme, os juros em 2025 alcançarão o maior patamar desde 2006.
A decisão de elevar a Selic reflete a tentativa de conter o aumento generalizado de preços. Com crédito mais caro, o consumo e a produção tendem a desacelerar, diminuindo a pressão inflacionária.
Impactos internacionais e alimentos
Outro fator destacado por Almeida é a relação com os Estados Unidos, parceiro econômico relevante do Brasil. “Você tem muita questão da incerteza dos Estados Unidos. O Brasil é um parceiro econômico de relevância. Inclusive, os EUA têm superávit com o Brasil. Tem muita incerteza no que o presidente Donald Trump vai fazer. Ele tá prometendo muita coisa. Inclusive, desdenhou nosso país. Falou que a gente depende mais deles do que eles de nós. Isso é errado, porque eles ganham mais com a gente do que nós vendemos para eles”, afirmou o economista.
Almeida também chamou atenção para o impacto do câmbio no aumento do preço dos alimentos: “O aumento do preço dos alimentos é porque você teve um problema climático, tem o câmbio, porque quando ele sobe vale mais a pena vender para o exterior do que para o mercado interno”.
Ele alertou, no entanto, sobre medidas inadequadas: “É preciso tomar cuidado com essa questão de alimento, mas não fazer bobagem que se fazia lá atrás, como tabelar preço”.