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segunda-feira, 12 maio 2025
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Governo anuncia investimento de R$ 27 bilhões da China no Brasil

Ricardo Stuckert/PR

A china é uma importante parceira comercial e econômica para o Brasil, sendo o principal destino das exportações brasileiras e a principal investidora asiática em território brasileiro

Em meio ao Fórum Empresarial Brasil-China, realizado nesta segunda-feira (12) em Pequim, o presidente da  Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, anunciou a chegada de R$ 27 bilhões em novos investimentos chineses no Brasil.

O evento contou com a presença de mais de 700 empresários dos dois países e autoridades, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) e o presidente da Federação de Indústria e Comércio de Toda a China, Gao Yunlong.

“Estamos anunciando hoje 27 bilhões de reais de  investimentos de grupos e empresas chinesas no Brasil. Isso nunca aconteceu. É um fato inédito, extraordinário. 4,5% de tudo que a China importa vem do Brasil e 25% de tudo que o Brasil importa sai da China”, declarou Viana. 

O valor anunciado será aplicado em diversos setores da economia brasileira, como indústria, comércio e mineração. O maior investimento confirmado será feito pela montadora GWM, uma das maiores da China, que confirmou a destinação de R$ 6 bilhões para expandir suas operações no Brasil e transformar o país em uma plataforma exportadora para toda a América do Sul e México

A Meituan, plataforma de delivery, vai aplicar R$ 5 bilhões no lançamento do aplicativo Keeta, com previsão de gerar quatro mil empregos diretos e 100 mil indiretos em cinco anos e instalar uma central de atendimento no Nordeste.

A CGN, estatal chinesa de energia nuclear, anunciou R$ 3 bilhões para criar um HUB – espaços físicos e/ou virtuais em que empresas e startups trabalham e têm acesso a contatos, investidores, mentores e fornecedores – de Energia Renovável no Piauí, com foco em geração eólica, solar, armazenamento e termosolar, e geração de cinco mil empregos.

A empresa Envision, referência global em tecnologia verde, vai investir até R$ 5 bilhões na construção do primeiro Parque Industrial Net-Zero da América Latina, dedicado à produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF), hidrogênio verde e amônia verde.

A rede de bebidas chinesa Mixue aportará R$ 3,2 bilhões para iniciar suas atividades no Brasil, com projeção de gerar 25 mil empregos até 2030 e adquirir produtos brasileiros. Já o grupo minerador Baiyin Nonferrous Group adquiriu a mina de cobre Serrote, em Alagoas, por R$ 2,4 bilhões.

“O Brasil lidera os esforços de transição energética. Nossa matriz elétrica já é uma das mais limpas do mundo, com 90% de energias renováveis. Estamos descarbonizando a matriz de transporte e mobilidade, aumentando o percentual de etanol na gasolina e de biodiesel, e também a geração de energia eólica e solar, que cresce a cada ano. Aprovamos também o marco legal que confere segurança regulatória e jurídica para investimentos em combustível sustentável de aviação e para o hidrogênio verde”, garantiu o presidente Lula, em discurso durante o encerramento do Fórum Empresarial.

Além disso, a DiDi, controladora do aplicativo 99 Táxi, anunciou investimentos em seu setor de delivery e na instalação de 10 mil pontos públicos de recarga para veículos elétricos em todo o país. A Longsys, da área de semicondutores, fará um aporte de R$ 650 milhões para expandir sua capacidade produtiva nos estados de São Paulo e Amazonas

Na área da saúde, a Nortec Química firmou parceria com as chinesas Acebright, Aurisco e Goto Biopharm para construir uma plataforma industrial de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) no Brasil, com investimento total de R$ 350 milhões.

“É importante lembrar que em 50 anos de relações bilaterais, nosso comércio evoluiu de maneira extraordinária. O nosso comércio de 2003 até 2025 cresceu aproximadamente 30 vezes. Essa é uma demonstração de que o potencial da relação entre China e Brasil é inesgotável”, afirmou Lula

Outros acordos

A ApexBrasil também assinou acordos com a Luckin Coffee, para promover o café brasileiro; com a Huaxia Film, para divulgação do cinema nacional; e com a rede de supermercados Hotmaxx, para venda de produtos brasileiros no varejo chinês.

O Brasil ainda avançou nos acordos entre empresas. A Eurofarma e a Sinovac anunciaram a criação do Instituto Brasil-China para a Inovação em Biotecnologia e Doenças Infecciosas e Degenerativas. Nesse sentido, a Fiocruz e a farmacêutica chinesa Biomm também firmaram compromisso para investimento na produção local de insulina.

A Raízen Energia e a SAFPAC estabeleceram bases para um contrato de longo prazo de fornecimento de bioetanol, com foco na produção de SAF na China. Já a REAG Capital Holding e a CITIC Construction fecharam cooperação para conversão de pastagens degradadas em áreas de produção agrícola e florestal sustentável no Brasil. 

A ABES e o ZGC vão fomentar parcerias em inteligência artificial, infraestrutura de dados, expansão de mercados e capacitação de talentos. Ainda na manhã desta segunda-feira, o presidente Lula também teve encontro com o presidente da Windey Energy, Chen Qi, o que rendeu um acordo para instalação de um centro de pesquisa sediado em território brasileiro.

“A cooperação entre o Senai Cimatec e a Windey permitirá a instalação de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em energia solar, eólica e sistemas de abastecimento. A experiência chinesa de refino de minerais críticos contribuirá para valorizar a produção em nosso território, inclusive com transferência de tecnologia nos ciclos de montagem de baterias elétricas”, comemorou Lula. 

A China é, hoje, a segunda maior economia do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Em relação ao Brasil, o país é um importante parceiro comercial e econômico, sendo o principal destino das exportações brasileiras e a principal investidora asiática em território brasileiro. 

Essa relação bilateral contribui significativamente para o crescimento do agronegócio, a modernização da indústria e o desenvolvimento tecnológico no Brasil. “Nós vamos ter um crescimento exponencial na relação e no fluxo de comércio Brasil-China. É uma integração que vai além e abrange parcerias econômicas, comerciais e culturais na relação Brasil–China. E, obviamente, a mais importante, que ajuda e amplia, que é a relação política”, acrescentou o presidente da Apex, Jorge Viana

Guerra comercial com os EUA

O anúncio do montante bilionário de investimentos chineses no Brasil ocorreu em meio à guerra comercial entre a China e os Estados Unidos. Nesta segunda-feira, as duas potências econômicas firmaram um acordo para reduzir, temporariamente, as tarifas que ambos os países aplicam em produtos uns dos outros. 

O acordo foi efetivado após autoridades das duas maiores economias do mundo passarem um fim de semana de intensas negociações em Genebra, na Suíça. Ao final do encontro, os dois países concordaram que, até os EUA reduzirão suas tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30%, enquanto a China reduzirá seus impostos sobre importações americanas de 125% para 10%. 

Os países têm até 14 de maio para reduzir as tarifas e, a partir do dia em que ocorrer a redução, passará a contar o prazo de 90 dias acordado entre as partes. A China e os EUA ainda concordaram em estabelecer um mecanismo para dar continuidade às discussões sobre as relações econômicas e comerciais. Esse diálogo será liderado pelo vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, pelo secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e pelo representante comercial dos EUA, Jamieson Greer. 

Os dois países chegaram nesse consenso depois de um mês de uma crescente rivalidade. No início de abril, o presidente norte-americano, Donald Trump, disse que aplicaria uma taxação de 34% sobre produtos chineses. A China respondeu a decisão na mesma moeda, aplicando mais tarifas às importações estadunidenses

Isso gerou um cabo de guerra, com aumento significativo nas tarifas de ambos os lados. A taxação dos EUA contra a China somou 145% e, do lado chinês, 125% em produtos importados da maior potência econômica do mundo. 

Sobre isso, o presidente Lula falou que não concorda com a taxação imposta por Trump. “Eu não me conformo com a chamada taxação que o presidente dos Estados Unidos tentou impor ao planeta Terra do dia para a noite. Porque o multilateralismo, depois da Segunda Guerra Mundial, foi o que garantiu todos esses anos de harmonia entre os estados. Não foi o protecionismo. O protecionismo no comércio pode levar à guerra, como já aconteceu tantas vezes na história da humanidade”, alertou. 

“O que nós queremos é o multilateralismo para que a gente possa praticar o livre comércio. A gente exporta o que a gente quiser, a gente compra o que a gente quiser, sem precisar ninguém tentar impor qualquer diminuição na soberania de nenhum país”, acrescentou Lula.

Lula não vai escolher um lado

O Brasil se beneficia desse momento de trégua entre os dois países, já que, além de ter uma importante parceria com a China, também mantém relações com os EUA que são primordiais para o desenvolvimento da economia brasileira. 

Os Estados Unidos são o segundo principal destino das exportações brasileiras, ficando atrás apenas da China, e a terceira maior origem das importações. Além disso, são o maior investidor estrangeiro no Brasil, com um estoque de investimentos que ultrapassa os 350 bilhões de dólares, e quase quatro mil empresas americanas operando no país, de acordo com dados da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil).

Justamente por isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assegurou, também nesta segunda-feira, que o presidente Lula não iria escolher um lado na rivalidade entre EUA-China. 

“A China é o maior parceiro comercial do Brasil. O Brasil precisa exportar. Os EUA tem a tecnologia de ponta que ninguém domina, a China está correndo atrás e fazendo um excelente trabalho de buscar alcançar a tecnologia americana, mas o Vale do Silício está na frente. Nós dependemos de tecnologia como o mundo inteiro depende, e essas parcerias são fundamentais para o Brasil se desenvolver”, explicou Haddad.

O ministro reconheceu que os EUA e a China estão buscando uma maneira para equilibrar as disputas comerciais e econômicas e que o crescimento exponencial das duas nações gera incômodo uma à outra.

“Os Estados Unidos se promoveram muito com a globalização. Não resta dúvida, se você pegar a renda per capita americana, se você pegar o crescimento americano frente ao Japão e Europa, os Estados Unidos se beneficiaram da globalização, mas a China talvez tenha se beneficiado muito mais. Isso gera incômodo para um país que, até outro dia, enfrentou União Soviética e Japão, agora está com um desafio maior. A China é uma potência militar, uma potência econômica”, avaliou.

Nesse sentido, Haddad reforçou que, dada a posição do Brasil frente às duas potências e o quanto a economia brasileira depende dos investimentos de ambas, o presidente Lula defende o trabalho em conjunto e cooperação internacional. “O presidente Lula acredita no multilateralismo. Ele pensa que o Brasil, pela sua dimensão, nem pode pensar em outra política que não seja multilateral. O fato de que na mesma semana eu estar nos EUA e ele na China deveria significar alguma coisa para um observador isento”, disse, em entrevista ao UOL.

Por isso, em seu discurso no encerramento do fórum, Lula destacou a integração. “Frente ao ressurgimento de tendências protecionistas, apostamos na redução das barreiras comerciais e queremos mais integração. Os empresários são protagonistas de um dos eixos mais dinâmicos do relacionamento bilateral, com a estruturação de novas cadeias de valor, a transição para uma economia de baixo carbono e o fortalecimento do intercâmbio científico e tecnológico. Juntos, mostramos ao mundo que a cooperação é o caminho a seguir em face dos desafios que emergem no cenário geopolítico internacional”, afirmou.

Lula deve se encontrar com o presidente da China, Xi Jinping, na terça-feira (13). Essa será a terceira reunião entre o brasileiro e o mandatário chinês durante o atual mandato do petista. Por outro lado, Lula e Trump ainda não conversaram desde que o norte-americano assumiu a presidência dos EUA pela segunda vez, em janeiro deste ano.

“Nesse mundo de conflitos, nesse mundo de tensão e de insegurança pro comércio, o presidente Lula segue firme defendendo o multilateralismo, o livre comércio. Isso é extraordinário pros produtores brasileiros”, concluiu o presidente da Apex durante o fórum em Pequim.



Fonte: iG

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