Donald Trump
Em uma postagem feita nesta sexta-feira (30) de maio em sua rede Truth Social, o presidente republicano Donald Trump acusou a China de descumprir um acordo tarifário firmado recentemente com os Estados Unidos.
A declaração veio logo após o secretário do Tesouro, Scott Bessent, admitir que as tratativas comerciais entre os dois países haviam “esfriado” e se encontravam em um momento de estagnação.
Na publicação, Trump ironizou o desenrolar das negociações. As críticas foram direcionadas ao que o presidente considera uma traição por parte do governo chinês, após os dois países concordarem, apenas duas semanas antes, em suspender temporariamente tarifas por um período de 90 dias com o objetivo de avançar em um entendimento mais amplo.
Apesar da tensão, Bessent indicou que as conversas ainda não haviam sido totalmente interrompidas, embora reconhecesse que “o progresso parou”. Questionado sobre a possibilidade de retomar tarifas anteriores, que chegaram a atingir 145%, o representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, optou por não comentar o assunto durante uma coletiva na Casa Branca.
O acordo provisório surgiu em meio a uma escalada de tensões econômicas. Trump havia imposto duras tarifas sobre produtos chineses, medida prontamente respondida com tarifas similares sobre importações americanas. A suspensão temporária foi vista como um alívio, mas agora corre o risco de se desfazer.
A retórica acalorada de Trump e as incertezas nas negociações sugerem que a trégua comercial com a China pode estar próxima do fim — reacendendo o risco de uma nova onda de tensões no comércio internacional.
A semana do tarifaço: suspensão
A declaração de Trump não foi o único fato relevante envolvendo o ”tarifaço” desta semana.
Na quarta-feira (28), uma decisão judicial suspendeu a aplicação das tarifas comerciais anunciadas recentemente pelo presidente dos Estados Unidos. A medida tem impacto direto sobre o chamado “Dia da Libertação”, revelado no início de abril como um marco na estratégia econômica da Casa Branca.
A suspensão foi determinada por um grupo de três juízes do Tribunal de Comércio Internacional (USCIT), com sede em Nova York. Na avaliação do colegiado, o presidente extrapolou os limites legais ao utilizar a Lei de Poderes Econômicos de Emergência de 1977 (IEEPA) para impor tarifas amplas sobre produtos de mais de 180 países. Segundo a decisão, esse tipo de ação não está contemplado na autoridade presidencial prevista pela legislação.
No entanto, a ordem judicial não afetou as tarifas incidentes sobre automóveis, aço e alumínio — impostas com base em outro dispositivo legal, a Seção 232 da Lei de Expansão Comercial — e que seguem em vigor.
O conjunto de medidas tarifárias, apelidado informalmente de “tarifaço”, estabeleceu alíquotas que variam de 10% a 50% sobre importações de diversas origens. A Ásia foi o continente mais afetado, com destaque para a China, que enfrentou uma taxa de 34%, somando-se a tarifas já em vigor. O Brasil também foi incluído na lista, com uma tarifa de 10%, enquadrando-se na faixa mínima estipulada.
A semana do tarifaço: retomada
A Casa Branca recorreu ainda na quarta-feira e, já na quinta-feira, reagiu com firmeza à suspensão. Em nota, a porta-voz Karoline Leavitt classificou os magistrados envolvidos como “ativistas judiciais” e afirmou que decisões como essa ameaçam a credibilidade dos Estados Unidos no comércio global — destacando que um dos juízes foi indicado pelo próprio Trump.
No mesmo dia, o Tribunal de Apelações restabeleceu temporariamente a cobrança das tarifas suspensas, concedendo ao governo uma vitória provisória. Em sua decisão, a corte afirmou que as ordens permanentes do USCIT estão suspensas “até novo aviso”, enquanto analisa os documentos apresentados pelas partes. O tribunal determinou que os autores das ações judiciais apresentem resposta até 5 de junho, enquanto o governo deverá apresentar sua argumentação até 9 de junho.
O conselheiro de comércio da Casa Branca, Peter Navarro, afirmou que, mesmo com os desafios legais, o governo Trump pretende manter sua política tarifária. Segundo ele, caso perca a disputa nos tribunais, a Casa Branca buscará “outros meios legais” para aplicar as tarifas. Navarro reforçou ainda que, apesar das decisões judiciais, as tarifas continuam em vigor e que o governo segue negociando acordos comerciais com parceiros internacionais.
Caso o Tribunal de Apelações não restabeleça de forma definitiva as tarifas até a conclusão do julgamento, o governo norte-americano já sinalizou que poderá levar a disputa à Suprema Corte.
Impacto econômico e incerteza prolongada
O pacote de tarifas foi apresentado por Trump em 2 de abril como parte de uma ofensiva contra o déficit comercial dos EUA, classificado por Trump como uma ameaça à segurança nacional. No entanto, o argumento é contestado por juristas, que afirmam que a lei invocada não autoriza a imposição de tarifas com base nessa justificativa.
Além disso, ações judiciais abertas por pequenos empresários e por estados norte-americanos alegam que as medidas foram arbitrárias, desprovidas de respaldo legal e causaram prejuízos expressivos à economia. Entre os casos mais emblemáticos está o de uma importadora de vinhos, que afirma correr risco de falência devido às novas tarifas.
O impasse jurídico reforça a análise da professora Cristina Helena de Mello, especialista em economia da PUC, que já alertava sobre o “ambiente de insegurança” criado por Trump.
“Ele mobilizou parceiros tradicionais da economia americana para fazerem acordos entre si, mas criou um cenário adverso para os negócios. Mesmo com uma eventual mudança na presidência, essa percepção de risco na economia americana deve persistir” , avalia, em entrevista o Portal iG.
A professora também destaca os efeitos práticos das tensões comerciais: “Os americanos já sentiram o desabastecimento, especialmente com a China suspendendo entregas estratégicas. No verão, faltaram peças para ar-condicionado, algo crítico devido ao clima implacável. Esse tipo de situação aumenta o apoio interno ao protecionismo, mas expõe a fragilidade da estratégia.”