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Veto de federação deixa russos fora de Paris-2024 no atletismo – 24/03/2023 – Marina Izidro

Sebastian Coe sempre soube como política e esporte se misturam, seja durante a carreira de atleta, seja como dirigente. Nesta semana, no comando de uma das organizações esportivas mais poderosas do planeta, tomou uma decisão que deixa praticamente inviável a participação de russos e belarussos no atletismo nos Jogos Olímpicos de Paris, no ano que vem. Atitude ousada, mas não surpreendente.

Como atleta, Coe ganhou dois ouros nos 1.500m, em Olimpíadas dominadas por questões geopolíticas: Moscou-1980, em meio a um boicote liderado pelos Estados Unidos por causa da invasão soviética ao Afeganistão, e Los Angeles-1984, quando soviéticos e aliados deram o troco e não foram.

Os anos se passaram, o britânico deixou as pistas, mas seguiu crescendo no esporte. Seb Coe, para os íntimos, ou formalmente Lord Coe –honraria que recebeu no ano 2000–, ficou ainda mais conhecido ao se tornar presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Londres de 2012. Anos depois, assumiu a presidência da Federação Internacional de Atletismo (então IAAF, hoje World Athletics) e logo mostrou que teria tolerância zero para certas questões. Para desespero de Yelena Isinbaeva, Vladimir Putin e companhia, a IAAF foi uma das federações internacionais que suspenderam os russos e os tiraram dos Jogos do Rio de 2016, em meio ao escândalo de doping que a Rússia protagonizara anos antes.

Na última quinta-feira (23), Coe anunciou o fim da punição aos russos no atletismo que durava mais de sete anos, mas acrescentou que atletas de Rússia e Belarus que desde março de 2022 estavam proibidos de disputar suas competições internacionais por causa da invasão russa à Ucrânia continuam banidos. Significa que por enquanto eles estão fora de Paris-2024 no atletismo.

A atitude tem poder também por outros motivos: coloca a World Athletics frente a frente com o Comitê Olímpico Internacional, que defende que atletas não devem sofrer punições por causa de seu passaporte e que o esporte deveria ficar neutro em questões políticas. E, como o atletismo é um dos esportes olímpicos mais nobres, pode servir de exemplo para que outras federações façam o mesmo.

E se a guerra acabar nos próximos meses? Se isso acontecer, Coe disse que está aberto a debater uma possível volta de russos e belarussos. Só que parece que o conflito não vai terminar tão cedo.

Na mesma coletiva de imprensa, deu outra notícia bombástica: que a World Athletics vai excluir das categorias femininas atletas transgênero que passaram pela puberdade masculina. O anúncio teve destaque maior na imprensa esportiva na Inglaterra do que a proibição dos russos, até porque esse é um tema quente por aqui.

Sinto pelos atletas limpos e que são contra a guerra e têm que pagar pelos feitos de seus governantes. Ao mesmo tempo, penso no lado da vítima. Os ucranianos estão conseguindo treinar? Quantos já morreram na guerra ou perderam familiares ou amigos? Tiveram seus locais de treino destruídos? Terão condições de se preparar em alto nível para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos?

Em uma semana de protestos nas ruas da França contra a reforma da previdência proposta pelo presidente Emmanuel Macron e de embates também no campo esportivo, parece ser o momento mais tenso da preparação olímpica até agora, a exatamente um ano e quatro meses do início dos Jogos de Paris.


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Fonte: Folha de S.Paulo

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