A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as ações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ouviu um casal de ex-integrantes do grupo ativista nesta terça-feira (30), mas que deixou a sessão antes do fim. A base governista diz que eles foram induzidos a isso pelo relator Ricardo Salles (PL-SP).
Após uma das discussões entre Salles e Tarília Petrone (PSOL-RJ) e pedidos de ordem, um bate-boca entre alguns parlamentares tomou conta do plenário.
Em seguida, o presidente da CPI, Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), disse: “Os nossos convidados, em função, talvez, da forma cordial que nós estamos conduzindo, eles querem sair (sic). São convidados, eles querem sair. Então eu pergunto: senhora Nelcilene e senhor Ivan, os senhores querem se retirar?”.
Os convidados responderam afirmativamente à pergunta de Zucco, causando revolta em deputados presentes, muitos dos quais não haviam conseguido fazer perguntas aos ex-integrantes do MST. Alguns alegaram que Salles teria induzido o casal a deixar a sessão.
Em outro momento, Tarília Petrone observou que “apenas um deputado do PT fez perguntas aos depoentes, todos os outros se inscreveram depois da saída dos depoentes orientada pelo relator Ricardo Salles”.
Salles rebateu a fala, destacando que não houve orientação e que Petrone estaria mentindo. “Eu não orientei a convidada, ela simplesmente reclamou da agressividade e ela e o marido disseram que queria ir embora”, pontuou.
Sobre a situação, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que também estava na sessão, destacou que acionará a Justiça e que há “vícios regimentais” na CPI. “Do jeito que ela está sendo conduzida, não está primando pelo processo legal da nossa Câmara”, avaliou.
Ela ressaltou que foi “constrangedora a cena que nós vimos aqui agora”, pontuando que a mesa diretora teria induzido os convidados a sair do plenário.
“Isso só tem uma palavra: medo. Medo das contradições que os depoentes iriam cair e das mentiras que eles falaram sobre essa mesa, porque foram mentiras”, observou.
“Vocês quiseram tirar os convidados na hora que iríamos fazer as perguntas e aparecer as contradições, porque os senhores querem apenas a versão dos senhores. Vocês não querem investigar. Os senhores já estão determinados a criminalizar o movimento, a criminalizar a reforma agraria”, adicionou.
Gleisi diz que crimes atribuídos ao MST devem ser provados
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também afirmou que os crimes atribuídos ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) na CPI precisam ser provados.
Ela ressaltou que o “jogo agressivo” feito na CPI não vai “colaborar em nada para o Brasil”, destacando ainda que “isso aqui não vai levar a lugar nenhum, a não ser um relatório que já está pronto na cabeça do relator, que é de tentar criminalizar o MST”
Também durante a sessão da CPI do MST desta terça-feira (30), Nelcilene Reis, ex-integrante do grupo, afirmou que seria feito, por exemplo, uso de trabalho escravo pelo movimento social.
Sobre isso, Gleisi destacou que os supostos crimes precisam ser comprovados e que Nelcilene responderia por aquilo que não pudesse comprovar. “Crime sem você provar que é crime, é crime também”.
“A depoente várias vezes imputou crimes como tortura, violência, perseguição e foi seguida por outros parlamentares, que, na mesma toada, fizeram isso. Portanto, se não tiver essa responsabilização pela depoente, essa sessão é nula. Nula para efeitos de indiciação, criminalização e nula para efeitos para o relatório”, pontuou.
A ex-integrante do MST respondeu, então, que falava sobre o que viveu.
Em seguida, o presidente do colegiado, Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS) negou os pedidos da petista e ressaltou que as pessoas são convidadas e podem fazer o testemunho daquela forma.
Ex-integrante diz que MST usava “trabalho escravo” e que havia promessa de chácara
Nelcilene Reis, ex-integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), afirmou durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados que investiga as ações do grupo que ela trabalhava em um mercadinho do movimento das 08h às 17h, sem receber salário.
Observou também que não haveria outro tipo de comércio no local e que o que arrecadavam era coletado por dirigentes.
Indagada por Caroline de Toni (PL-SC), Nelcilene Reis falou que os valores praticados no mercado seriam até cinco vezes maiores que mercearias próximas, pontuando que o trabalho seria análogo à escravidão.
Entretanto, explicou que não trabalhava no mercadinho todos os dias, revezando com outros integrantes.
Ainda durante perguntas de Caroline de Toni, disse que não se sentia livre “lá dentro”. Porém, ponderou que não se arrepende, hoje, de ter entrado no movimento, pois conseguiu o que era seu objetivo, que era um “local para plantar” — mesmo ainda não tendo o título de propriedade.
Ainda assim, disse que não recomendaria para outras pessoas, atualmente, que entrem no grupo.
Em nota enviada à CNN, o MST afirmou que “são acusações sem nenhum tipo de comprovação. Fazem diversas acusações e em nenhuma delas apresentam um boletim de ocorrência, inquérito, processo ou condenação. São mentiras”.
Em outros momentos da CPI, Nelcilene também disse que era prometido aos integrantes uma chácara de três hectares, mas que a concessão desse espaço nunca foi feito. A afirmação foi feita em resposta a pergunta do relator, Ricardo Salles (PL-SP).
“A promessa que seriam passados para cada uma das pessoas uma mini chácara de três hectares. Mas eram muitas pessoas pra essa promessa. (…) Não foi feita [a regulação fundiária e concessão dos títulos]. A gente foi ver que isso jamais iria acontecer”, colocou.
Ela também falou sobre a saída dela e do marido do movimento social. “Eu e meu esposo saímos no começo de 2019, porque não aceitávamos a maneira que éramos tratados. Resolvemos nos desligar do MST. Saímos porque éramos massa de manobra do MST”.
Sâmia Bomfim critica diligência da CPI e diz que Salles incentivou invasão
A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) criticou a diligência realizada na segunda-feira (29) por integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
Segundo a parlamentar, visitaram acampamentos da Frente Nacional de Luta (FNL) — não do MST — e que uma mulher acompanhou os deputados, “assediando os acampados, dizendo: ‘você tem que sair, essa terra é minha’” e que seria estimulada pelo relator, Ricardo Salles.
Ainda de acordo com Bomfim, o pedido de reintegração de posse da mulher foi negado mais de uma vez pela justiça, pois ela não teria os documentos para comprovar que a terra era dela.
A deputada também disse que os parlamentares presentes invadiram barracas das pessoas ali acampadas, o que configuraria “abuso de autoridades”, e que Ricardo Salles teria feito invasão e que defende grileiro.
Salles disse apenas que a barraca estava “vazia”, mas Sâmia afirmou que as pessoas não ficariam nas barracas em uma “segunda-feira à tarde”, mas trabalhando.