sexta-feira, 22 novembro 2024
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Chuvas intensas durante o verão devem levar a aumento da produção de grãos, diz entidade

Da Redação Avance News

Os primeiros meses de 2023 foram marcados por chuvas intensas em grande parte do Brasil. Segundo o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, as precipitações mantiveram as condições de umidade do solo, mas também atrapalharam ao impedir o pleno rendimento das lavouras.

“Quando se tem vários dias sequenciais de chuva, a temperatura diminui, alongando o ciclo da planta”, diz Santos. “A nebulosidade afeta a fotossíntese, o enchimento do grão e o desenvolvimento da planta. Além disso, o produtor não consegue ir a campo para fazer as pulverizações e adubações necessárias.”

Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a estimativa da produção de grãos na safra 2022/2023 é de 309,9 milhões de toneladas. Esse número representa um aumento de 13,8% em relação ao ano anterior, quando foram produzidas 272,4 milhões de toneladas de grãos.

“É importante que a chuva ocorra de forma frequente, regular e abrangente, mas tem momentos como a floração e o enchimento dos grãos em que a lavoura precisa de mais umidade no solo”, diz Candice Santos, superintendente de informações agropecuárias da Conab .

Ela também afirma, contudo, que as precipitações contribuíram para o atraso da colheita em alguns estados, principalmente da soja. Apesar disso, não houve comprometimento significativo da qualidade do produto.

Em Minas Gerais, produtores de café se beneficiaram com o alto índice pluviométrico após longa estiagem no ano de 2021.

As chuvas deste ano foram importantes para recarregar os níveis de água do solo, de acordo com Bernardino Cangussu, coordenador técnico de cafeicultura da Emater-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais).

“É necessário que o solo esteja com a umidade correta para que a planta absorva mais nutrientes e consiga produzir grãos de melhor qualidade. Isso também vai refletir na própria próxima safra”, diz ele.

O cafeicultor Mauro Grossi, que planta nos municípios de Imbé de Minas e Piedade de Caratinga, obteve saldo positivo. A chuva deu uma trégua em fevereiro naquela região, possibilitando a exposição das plantas ao sol. “A lavoura está pronta para a maturação. Acho que a colheita será no período normal, entre maio e junho.”

Ele acredita que a colheita será um pouco maior que a de 2022 —que, além do déficit hídrico, foi impactada pelas geadas que atingiram o estado na safra anterior.

Carlos Henrique de Oliveira, que produz café em Santa Rita do Sapucaí, sul de Minas, também viu as chuvas do início de 2023 como positivas. No entanto, sua produção não será tão boa neste ano: parte de sua plantação foi atingida pelo granizo em 2022.

“A chuva é boa porque ajuda na absorção do adubo no solo, melhorando o preenchimento dos grãos e a produtividade. Mas também é ruim, porque choveu muito, e as áreas que pegam menos sol tiveram mais doenças, aumentando os gastos”, diz Oliveira.

Em Mato Grosso, o agricultor Lucas Beber, de Nova Mutum, afirma que, apesar do alto volume de precipitação no verão, houve escassez no plantio da soja e excesso no período da colheita. As estradas ficaram danificadas, o que dificultou o escoamento da produção.

A consequência, segundo ele, foi o prolongamento do ciclo da soja, que precisou ficar no campo de 10 a 15 dias a mais que o normal devido a temperaturas mais baixas no plantio. Isso contribuiu para a redução do prazo disponível para a colheita, que precisou ser feita no período chuvoso.

Alana Tomen, pesquisadora nas áreas de fitopatologia e fitotecnia, diz que as principais doenças da soja ocorrem quando o ambiente está mais úmido e com alta nebulosidade. Além disso, o excesso de umidade aumenta perdas por abertura de vagens.

Ela afirma que, como houve aumento na produtividade, os problemas devem ser compensados. Ainda assim, há preocupação com eventuais perdas geradas pelo atraso no plantio de outras culturas, a exemplo do milho e do algodão.

O Paraná também teve grande atraso na colheita da soja, que representa 91% da área cultivada no estado. Ainda assim, o engenheiro agrônomo Edivan Possamai diz que há expectativa de alta produtividade.

“A expectativa é muito boa no Paraná, por conta do período de plantio e das chuvas regulares durante a safra”, afirma Possamai, que coordena o programa Grãos Sustentáveis, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná.

A preocupação no estado é também com o atraso na semeadura da segunda safra, que é ocupada em sua maioria por plantações de milho. O prazo ideal para plantio variou entre os meses de fevereiro e março. Agricultores que perderam a janela de plantio não conseguem ter acesso ao financiamento rural e ao seguro agrícola.

O agrônomo e agricultor Daniel Rosenthal, de Rolândia (PR), afirma que a chuva atrapalhou muito a colheita na região. Segundo ele, esse processo foi concluído em apenas 65% da área, aumentando o risco de perdas a cada dia.

Em Mato Grosso do Sul, o agricultor familiar Genivaldo dos Santos, que planta soja e milho na cidade de Taquarussu, viu o alto volume de chuvas com olhar positivo. No ano anterior, ele teve prejuízos devido à seca.

“Em 2021 e 2022 tivemos uma frustração de safra por conta da estiagem. Neste ano, ficamos preocupados com a previsão de muita chuva, mas não sofremos perdas, só tivemos benefício”, afirma.

Segundo Izabel Pereira, gerente de desenvolvimento da Agraer-MS (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), o principal problema foram os danos nas estradas rurais. Isso comprometeu o transporte da produção e dos insumos.

A agricultora familiar Cícera de Andrade, que mora no assentamento Aba da Serra, em Ponta Porã (MS), afirma que perdeu todas as folhosas de sua horta. “Foi um impacto muito grande, porque a gente trabalha com feira e já tem quase quatro meses que não conseguimos produzir”, diz ela.

De acordo com Anete Fernandes, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o excesso de chuvas nessas regiões ocorreu pela formação da chamada zona de convergência do Atlântico Sul.

O fenômeno se caracteriza como um canal de umidade formado na região amazônica, percorrendo as regiões Centro-Oeste e Sudeste e se prolongando até o oceano.

Esse fenômeno aconteceu com maior frequência nos últimos três anos, devido a atuação da La Niña, que causa o resfriamento das águas do oceano Pacífico, interferindo na circulação de toda a atmosfera.

A tendência é de enfraquecimento e neutralidade da La Niña durante o outono. “No fim de março e no início de abril, ainda temos temperaturas elevadas e pancadas de chuva, mas a tendência natural é de redução e, a partir de maio, as chuvas ficam mais escassas porque começa o período seco”, diz ela.

Já áreas como a região central da Bahia e o estado do Rio Grande do Sul tiveram um cenário oposto. Essas regiões registraram falta de chuvas e foram impactadas negativamente nas produções de feijão, arroz e soja.

Fonte: Folha de SP

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