Uma nova espécie de fungo, com alta resistência a mercúrio, foi descoberto por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) na região do Pantanal e pode ajudar na remediação de solos contaminados por garimpos “artesanais”.
A doutoranda do Programa de Pós-Gradução em Rede em Biotecnologia e Biodiversidade (PPGBB), Jaqueline Senabio, contou que desenvolvia um estudo sobre os mecanismos que os fungos utilizam para resistir ao mercúrio e remediar o solo contaminado com este, quando se deparou com a nova espécie.
De acordo com o Laboratório de Biotecnologia e Ecologia Microbiana (Labem) da UFMT, em homenagem ao Pantanal, a pesquisadora deu ao fungo o nome de Pseudomonodictys pantanalensis.
Para a pesquisa, Jaqueline utilizou um grupo de fungos do banco de microrganismos do laboratório da universidade. Segundo ela, o banco é uma caixa com vários tubos plásticos, cada um com um microorganismo vivo e preservado em congelamento.
A UFMT informou que o grupo que a pesquisadora escolheu é composto por fungos chamados de “endofíticos”, que crescem dentro do corpo das plantas em uma relação mutualística, isto é, em que tanto a planta quanto o fungo são beneficiados pela união.
No entanto, dentro dos tubos de ensaio escolhidos havia um fungo cuja identificação não parecia corresponder a nenhuma outra espécie conhecida, o que gerou um desdobramento da sua pesquisa.
Descoberta
Os fungos raramente apresentam uma “forma” identificável a olho nu, então a pesquisadora precisou utilizar um microscópio para a observação das células e verificar seu crescimento em diferentes meios de cultura.
“Não observamos a reprodução sexuada do fungo em condições laboratoriais. Essa espécie diferencia esporos assexuados chamados de conídios com produção de pigmento alaranjado. Além disso, esse fungo diferencia células de resistência (clamidósporos) de coloração marrom. O micélio atinge aproximadamente 40 mm após 7 dias de crescimento. As hifas são de coloração marrom clara a escura e com septos”, explicou.
Além das diferenças morfológicas, a pesquisadora investigou o material genético da espécie e verificou que ela também tinha marcadores genéticos (grupos de genes) diferentes das espécies já conhecidas.
Conforme o estudo, esse fungo também tem a capacidade de aguentar concentrações altíssimas de mercúrio, mesmo comparado com outros fungos endofíticos.
Os cientistas do Labem trabalham com três possibilidades:
Transformação química do mercúrio que está no solo em uma versão gasosa, que volatiliza e sai do solo para a atmosfera – Como nossa atmosfera é massiva, a concentração de mercúrio nela não é o suficiente para contaminar as pessoas;
O corpo do fungo dentro da planta aprisionar o mercúrio dentro de sua própria célula. Isso impede que essas partículas continuem afetando o ambiente ao seu redor, ou que sejam transportadas para os rios e lençóis freáticos durante uma chuva;
O fungo também pode prender o mercúrio no corpo da própria planta.
Durante a pesquisa, Jaqueline Senabio se deparou com uma nova espécie por acidente.
A nova espécie já foi divulgada no “Brazilian Journal of Microbiology” e, agora, a pesquisadora trabalha para concluir sua tese e divulgar também as novidades sobre os mecanismos que fazem destes tipos de fungo aliados importantes na biorremediação de mercúrio.