Um vídeo surgiu nas mídias sociais na última quarta-feira (19) em meio à violência étnica em Manipur, no estado do nordeste da Índia. O vídeo, que está se tornando viral, retrata um incidente de 4 de maio, de acordo com o Fórum de Líderes Tribais Indígenas (ITLF), mostrando duas mulheres sendo forçadas a andar nuas no meio de uma multidão de homens totalmente vestidos.
O vídeo angustiante, que foi visto pela CNN, mostra as vítimas aterrorizadas cercadas por uma multidão de homens, muitos brandindo longas bengalas como armas. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, abordou a situação no estado pela primeira vez nesta quinta-feira (20), dizendo antes do início da sessão das monções do Parlamento: “Meu coração está cheio de tristeza e raiva. O incidente em Manipur é vergonhoso para qualquer sociedade civil”.
“O que aconteceu com as filhas de Manipur nunca pode ser perdoado”, continuou Modi, acrescentando que “a lei seguirá seu curso com todas as suas forças”.
A sessão da Câmara Alta do Parlamento foi adiada minutos depois de se reunir novamente depois que os parlamentares da oposição provocaram protestos pela recusa em discutir a questão de Manipur.
A ITLF divulgou um comunicado na quarta-feira, escrevendo: “Um vídeo que se tornou viral hoje mostra uma grande multidão de Meitei desfilando duas mulheres da tribo Kuki-Zo nuas em direção a um campo de arroz para serem estupradas”.
A declaração continuou dizendo que o “incidente desprezível” ocorreu na vila de B. Phainom, no distrito de Kangpokpi, e “mostra os homens molestando constantemente as mulheres indefesas, que choram e imploram a seus captores”.
Nos últimos meses, Manipur lutou contra a violência. Os confrontos eclodiram na capital do estado, Imphal, em 3 de maio, depois que milhares de estudantes, a maioria da tribo Kuki, participaram de uma manifestação contra a maioria da comunidade étnica Meitei, que fez uma petição por status tribal especial.
Entre outras coisas, o status tribal permitiria aos Meitei comprar terras e oferecer mais oportunidades de empregos no governo. Mais de 100 pessoas foram mortas e dezenas de milhares deslocadas desde então.
O incidente de 4 de maio ocorreu depois que a vila das mulheres foi incendiada e dois homens foram espancados até a morte, de acordo com o ITLF.
O principal partido de oposição da Índia, o Congresso, tem criticado veementemente a maneira como Modi lidou com a questão, com o presidente do partido, Mallikarjun Kharge, twittando na quinta-feira, antes da abertura do Parlamento: “A humanidade morreu em Manipur. Modi Govt e o BJP transformaram a democracia e o estado de direito em mobocracia, destruindo o delicado tecido social do estado”.
Marcando Modi, seu tweet continuou: “A Índia nunca perdoará seu silêncio. Se resta alguma consciência ou um pingo de vergonha em seu governo, então você deve falar sobre Manipur no Parlamento e contar à nação o que aconteceu, sem culpar os outros por sua dupla incompetência – tanto no Centro quanto no Estado.”
Logo depois, o ministro-chefe do estado, N. Biren Singh, twittou que uma prisão havia sido feita. “Depois de tomar conhecimento Suo-moto sobre o incidente imediatamente após o vídeo aparecer, a Polícia de Manipur entrou em ação e fez a primeira prisão esta manhã. Uma investigação minuciosa está em andamento e garantiremos que medidas rigorosas sejam tomadas contra todos os perpetradores, inclusive considerando a possibilidade de pena de morte. Que se saiba, não há absolutamente nenhum lugar para tais atos hediondos em nossa sociedade”.
O conhecimento de Suo-moto é um procedimento na lei indiana que permite ao tribunal tomar medidas em um caso sem que uma queixa seja apresentada. O governo indiano emitiu uma ordem para o Twitter e outras plataformas de mídia social, instruindo-os a não compartilhar o vídeo viral, disse uma fonte familiarizada com o assunto à CNN na quinta-feira, acrescentando que é “imperativo para as plataformas de mídia social aderirem às leis indianas, pois o assunto está sob investigação”.
A Polícia de Manipur também emitiu um comunicado no Twitter na quarta-feira, escrevendo que “um caso de sequestro, quadrilha (sic) e assassinato” foi registrado no distrito de Thoubal “contra criminosos armados desconhecidos” e a investigação foi iniciada.
