“Barbie” é um dos lançamentos mais esperados da indústria cinematográfica de 2023, tendo tornado a boneca loira de mesmo nome relevante novamente para uma nova geração, mais de 60 anos após sua estreia nas lojas de brinquedos.
Mas o slogan do filme imediatamente identifica Ken, seu companheiro apaixonado, como um pedaço menor de plástico: “(Barbie é) tudo. Ele é só o Ken”.
data-youtube-width=”500px” data-youtube-height=”281px” data-youtube-ui=”entretenimento” data-youtube-play=”” data-youtube-mute=”0″ data-youtube-id=”uvQoZown4lw”
Enquanto as marcas estão produzindo colaborações de “Barbie” e os cinéfilos disputam lugares nas salas de cinema, a influência de Ken é relegada aos memes.
Mas quem é Ken, realmente, além do “às vezes namorado” da Barbie e acessório não essencial?
Mergulhe na história da contraparte masculina da Barbie, desde suas origens como Kenneth Carson até seu tumultuado rompimento com a boneca, em meados dos anos 2000, e seu renascimento, via Ryan Gosling, nas telonas.
(Warner Bros., que está por trás de “Barbie”, compartilha a controladora Warner Bros. Discovery com a CNN.)
11 de março de 1961: quando Ken conheceu a Barbie
Ken (abreviação de Kenneth Carson) chegou aos corredores das lojas de brinquedos como o namorado comprável da Barbie dois anos após sua estreia, em 1959.
Ele estava disponível em dois estilos — loiro ou moreno, feito de plástico rígido — e vinha vestido com um calção de banho vermelho bem curto. Ele custava US$ 3,50 e dividia o nome com o filho da criadora da Barbie, Ruth Handler.
A dupla de plástico se conheceu durante as filmagens de seu primeiro comercial no mesmo ano, segundo a Mattel.
O anúncio em preto e branco mostrava Barbie, a “famosa boneca modelo adolescente”, participando de um baile em um vestido caracteristicamente chique e estola de pele com o cabelo preso em seu rabo de cavalo alto característico.
Ken a observava de longe em um smoking. A dança foi ambientada em Willows, no estado do Wisconsin, nos Estados Unidos, sua cidade natal canônica.
Foi amor à primeira vista. “De alguma forma (Barbie) sabia que ela e Ken estariam juntos”, disse o narrador no anúncio original de 1961 que os uniu.
Eles iam a festas de fraternidades — Barbie era uma estudante universitária –, piqueniques e, claro, inúmeras viagens à praia. O narrador onisciente até provocou um casamento entre os dois.
Mas Ken não era exatamente popular ou mesmo considerado essencial entre os colecionadores obstinados da Barbie.
No livro “Forever Barbie: The Unauthorized Biography of a Real Doll” (Para sempre Barbie: A biografia não autorizada de uma boneca real, em tradução livre), M.G. Lord escreve que Ken era alguém sem característica marcante, “com genitália seriamente abreviada que não era muito importante na vida (da Barbie)”.
Ele teria uma batalha difícil para provar seu valor para os consumidores — e para sua namorada de brinquedo.
1970 a 1990: Ken tenta estar na moda
Mesmo com uma companheira sempre na moda como a Barbie, Ken nunca conseguia ficar em evidência quando se tratava de estilo pessoal, embora ele certamente tentasse.
Ele estreou uma variedade de looks que só poderiam ter funcionado em suas respectivas décadas e, mesmo assim, nem sempre conseguiu.
Ken Mod Hair: Um boneco essencialmente dos anos 1970, com um enorme tufo de cabelo, costeletas extralongas e pelos faciais bônus feitos para misturar e combinar. Ele veio vestido com uma gola rulê branca e um blazer xadrez marrom e branco.
Ken Encontro dos Sonhos: Esta versão de 1982 do Ken “smoking de dança” — sendo o original de 1961 — apresentava um boneco de cabelos negros em uma camisa de musselina e faixa rosa claro por baixo de uma jaqueta preta de smoking com uma rosa rosa presa à lapela. Ele se vestiu para impressionar a Barbie Encontro dos Sonhos, que chegou para o encontro com um vestido cheio de babados. Essa foi uma das raras roupas em que ele ofuscou a Barbie.
Ken Cabelo Total: É o que parece — esse Ken dos anos 1990 veio com uma “juba” longa e desgrenhada, gel de cabelo de verdade e um pequeno pente, que seus donos poderiam usar para estilizá-lo como quisessem. É claro que ele usava algo chamativo, optando por calças roxas fofas e uma camisa colorida com gola alta. Mas a Barbie combinando veio com um penteado frisado muito mais bem-sucedido.
Fevereiro de 1993: Ken Mágico de Brinco se torna um ícone LGBTQIA+ acidentalmente
Há muito tempo, Ken é alvo de comentários daqueles que fazem suposições sobre a sexualidade ou masculinidade do boneco com base em seu guarda-roupa e relação com a Barbie. Em 1993, o boneco entrou no discurso ao seu redor por acidente com um novo visual “hiper” – Ken Mágico de Brinco.
Este Ken usava uma camisa de malha que revelava seu abdômen por baixo de um colete sem mangas lavanda e um pingente de anel em volta do pescoço, junto com um único brinco na orelha esquerda.
O boneco estreou em uma época em que “brincos em homens ainda eram considerados uma flexão de gênero não convencional”, de acordo com a New York Historical Society.
O que a Mattel provavelmente não previu foi o quão popular o Ken se tornaria entre os consumidores LGBTQIA+.
O colunista sobre LGBTQIA+ Dan Savage observou que o guarda-roupa de Ken Mágico de Brinco se assemelhava a roupas vistas em raves gays alguns anos antes. E para muitos que viram o boneco, o anel em volta do pescoço parecia um certo brinquedo sexual popular entre homens heterossexuais e gays.
“Queer Ken é o ponto alto de, dependendo do seu ponto de vista, infiltração queer na cultura popular ou apropriação impensada da cultura queer por heterossexuais”, escreveu Savage sobre o lançamento de Ken Mágico de Brinco.
A Mattel se esforçou para retirar o boneco das lojas, mas não antes de Savage e milhares de outros fãs comprarem seu próprio Ken Mágico de Brinco.
Mesmo que a Mattel negue que ele foi projetado com homens gays em mente, ele foi um dos poucos brinquedos populares na época que atingiu os consumidores LGBTQIA+.
13 de fevereiro de 2004: Barbie e Ken se separam
Foi a separação de celebridades que ninguém esperava, exceto talvez os analistas da indústria de brinquedos.
Afinal, Barbie e Ken estavam juntos há mais de 40 anos — eles permaneceram apaixonados mesmo quando entravam e saíam das casas dos sonhos, dirigiam dezenas de conversíveis e mudavam de carreira inúmeras vezes.
Mas as vendas da Barbie estavam em declínio em 2004. Foi quando Bratz reinaram supremas — e isso pareceu afetar o relacionamento entre o casal central da Mattel.
Dias antes do Dia dos Namorados, o porta-voz da Mattel, Russel Arons, anunciou que Barbie e seu brinquedinho decidiram “passar algum tempo de qualidade — separados”. O New York Times relatou que a separação foi ideia de Barbie.
A declaração chocante aconteceu porque Barbie “não queria passar por um feriado tão romântico sob falsos pretextos”, explicou Arons à imprensa.
E no mesmo dia em que anunciou a dramática separação, a Mattel também revelou que estaria produzindo uma linha de Cali Girl Barbies, garotas surfistas notavelmente solteiras.
A Mattel também anunciou um novo interesse amoroso para a recém-solteira Barbie: Blaine, um praticante de bodyboard com madeixas loiras grossas.
Ken tinha sido oficialmente classificado como amigo.
9 de fevereiro de 2006: Ken recebe um facelift
Desesperado para reconquistar a Barbie, Ken fez um exame de consciência. O New York Times relatou que o boneco viajou pela Europa e Oriente Médio e explorou o budismo e o catolicismo para se reinventar.
Ao retornar aos Estados Unidos, ele abandonou o espiritualismo e voltou a se concentrar na moda, voltando-se para o estilista de celebridades Phillip Bloch para orientação de estilo.
A Mattel lançou um boneco Ken “novo e melhorado” quase dois anos depois de seu rompimento com a Barbie.
O novo Ken, disponível novamente em loiro e moreno, veio com calça cargo, jaqueta de couro e colares grossos de corrente. Mas, claro, havia também uma roupa de praia disponível.
Ele também tinha uma mandíbula notavelmente mais nítida e um olhar mais suave para dar a ele uma aparência mais “despreocupada”. O objetivo, disse Bloch, era garantir que Ken estivesse “gostoso”, citando Matthew McConaughey e Orlando Bloom como inspiração.
“Ken renovou sua vida – mente, corpo e alma”, disse Bloch em comunicado aos repórteres. Mas levaria um pouco de tempo para os consumidores comprarem.
18 de junho de 2010: Ken e Barbie se reúnem para Toy Story 3
Estrelando ao lado de Woody e Buzz Lightyear, os bonecos apareceram na aclamada sequência da Pixar, indicada ao Oscar de melhor filme.
A Barbie e Ken em animação vestiram looks direto dos anos 1970 e 1980, com Barbie em seu macacão de aeróbica e polainas e Ken em seu lenço — Michael Keaton foi o dublador.
No filme, seus personagens não se conheciam, mas imediatamente se apaixonaram um pelo outro — e fazer o filme aproximou Ken e Barbie mais do que antes do rompimento.
E Ken recuperou seu ritmo — a Mattel disse que estrelar o filme o ajudou a “(encontrar) sua voz na cultura pop” e finalmente aceitar a personalidade adorável que ele cultivou por acaso.
14 de fevereiro de 2011: Ken reconquista a Barbie
Pouco antes do Dia dos Namorados, outdoors começaram a aparecer em Nova York e Los Angeles, aparentemente encomendados por Ken, implorando pela Barbie de volta com apelos românticos como “Barbie, podemos ser de plástico, mas nosso amor é real”.
O apelo funcionou inexplicavelmente, e Barbie levou Ken de volta no Dia dos Namorados de 2011.
A dupla anunciou a notícia alterando seus status no Facebook para “em um relacionamento”, informou a CNN na época — isso depois que a Mattel perguntou aos usuários do Facebook que votassem se eles deveriam voltar a ficar juntos.
Para monetizar o reencontro, a Mattel lançou um conjunto “Juntos de novo” de uma Barbie e Ken reunidos, com ela usando um vestido com uma versão atualizada de seu icônico maiô preto e branco e ele usando uma versão de bermuda de seu minúsculo calção de banho vermelho um pouco menos icônico.
20 de junho de 2017: Ken se torna todos os homens
Os dias de Ken como um boneco branco e tipicamente loiro terminaram em 2017, quando a Mattel finalmente lançou uma linha inclusiva de Kens em uma variedade de cores de pele, estilos de cabelo e tipos de corpo. Dois até ostentavam coques masculinos.
Desde 2017, a Mattel continuou a lançar mais versões de Kens, incluindo bonecos com pele escura e cabelos naturais, outros com vitiligo e alguns que usam cadeiras de rodas.
15 de junho de 2022: começa o Kenaissance
Quando a conta do Twitter da Warner Bros. Pictures compartilhou a primeira foto de um Ryan Gosling loiro e bronzeado, vestindo um colete jeans sem mangas, Ken ascendeu a um novo nível de celebridade.
Gosling foi escalado para estrelar como o “pedaço de brinquedo” em “Barbie”, dirigido por Greta Gerwig, e este foi o primeiro “pedaço de carne” que os fãs receberam do live-action de Ken.
Alguns dias depois que a foto oficial deixou os fãs em frenesi, fotos de paparazzi de Gosling e Robbie patinando em Venice Beach em trajes esportivos neon dos anos 90 surgiram online e apenas enfatizaram novamente que este seria o evento imperdível de 2023.
Também ajudou o fato de Gosling ter dado inúmeras entrevistas inexpressivas enfatizando seu recém-descoberto “Kenergy” que antecedeu a estreia do filme em julho de 2023, caindo cada vez mais fundo no personagem conforme a turnê de imprensa se arrastava.
“Eu me importo com esse cara agora. Eu sou como o representante dele”, disse Gosling à GQ em maio.
Mas Gosling também usou sua plataforma, como muitos fizeram antes dele, para enterrar publicamente Ken.
“Ken não tem dinheiro, não tem emprego, não tem carro, não tem casa”, disse Gosling ao ET em 2022 enquanto promovia um filme sem Ken. “Ele está passando por algumas coisas.”
Em julho, Gosling foi ao “The Tonight Show” para o referido filme sem Ken e novamente voltou a conversa para Ken.
“Ninguém brinca com Ken, cara”, disse Gosling ao apresentador Jimmy Fallon. “Ele é um acessório, e nem mesmo um dos legais.”
Clipes do filme parecem reforçar a postura de Gosling, mostrando Ken derramando lágrimas reais em um vison falso sobre o desinteresse de Barbie antes de começar a cantar: “Eu sou apenas Ken – em qualquer outro lugar eu seria um 10”, ele canta para ninguém.
Os espectadores que viram “Barbie” sabem como a história de Ken termina no filme – ou melhor, onde termina quando o deixamos.
Quando Gosling transforma um personagem sofredor na estrela de um filme aclamado, uma sequência estrelada por Ken é quase inevitável.