O acesso a recursos para implantação do ensino integral no Brasil é considerado muito difícil para 61,9% dos dirigentes de ensino do país, enquanto apenas 7,3% dizem não haver nenhum revés. Os dados fazem parte de uma pesquisa inédita do Itaú Social, que avalia os desafios dos anos finais do ensino fundamental (do 6° ao 9° ano).
Na modalidade integral de ensino, o aluno permanece na escola por pelo menos sete horas diárias ou 35 horas semanais.
De acordo com o estudo, 60,4% dos dirigentes enfrentam muitas dificuldades em relação à falta de infraestrutura física, enquanto apenas 9,3% não têm nenhuma objeção com este aspecto.
Apesar da falta de aportes, os líderes se mostram empenhados na implantação da modalidade. Segundo o estudo, no Brasil, 57,5% afirmam ter ações para expansão ou implementação da educação integral nos anos finais do fundamental.
O estudo aponta que o Nordeste se destaca em relação às demais regiões, com 70% das redes agindo pela expansão da proposta, seguido pelas regiões Norte (52,7%), Sul (51,1%), Sudeste (46,5%) e Centro-Oeste (24,1%).
Entre as estratégias de ampliação da educação integral, a mais comum é a oferta de disciplinas eletivas ou atividades extras. Conforme o estudo, 42,8% das redes já
implantaram essas medidas, enquanto 18,5% ainda não têm planos para colocar essas estratégias em prática.
Outra iniciativa apontada no caminho para a implantação do modelo de ensino é o aumento do quadro de professores, já efetivado por 39,9% dos dirigentes. Por outro lado, 20,8% deles estão sem perspectiva para essa evolução.
Embora tenham intenção de ampliar a oferta de educação integral em suas escolas, 26,9% das redes municipais ainda não planejaram a extensão da carga horária existente, e 29,8% não têm planos para o aumento do número de componentes curriculares.
Em relação a esses dois quesitos, as regiões Centro-Oeste e Sul possuem mais de 40% de suas redes declarando não possuir planos de implantação.
Para elaborar o levantamento foram ouvidos representantes de mais de 3,3 mil redes municipais de ensino de todo o país. O objetivo da pesquisa foi levantar os principais desafios enfrentados na oferta e gestão dos anos finais.
Formação de profissionais
A formação continuada dos professores é um dos principais desafios das secretarias municipais de Educação, de acordo com que aponta a pesquisa.
Nas redes que disponibilizam anos finais do ensino fundamental, 49,2% oferecem formações uma vez a cada dois meses para docentes, enquanto 26,1% oferecem uma vez a cada seis meses para esses profissionais e 6,8% uma vez ao ano.
As proporções são semelhantes na oferta de formação para outros profissionais, como diretores escolares, coordenadores pedagógicos e das secretarias.
Entre as formações que aparecem com maior frequência estão as que abordam formas lúdicas, críticas e participativas de aprendizagem (30,4%), usos de metodologias que promovam a aprendizagem autônoma e participativa (26,9%), e conteúdos específicos das áreas e componentes curriculares (28,4%).
Medidas para aumentar envolvimento de alunos
O levantamento aponta ainda a busca das redes municipais por adotar medidas para aumentar o envolvimento dos alunos do 6º ao 9º ano. Segundo o estudo, 69,2% indicam realizar com frequência a implementação de ações para melhorar a convivência escolar.
Além disso, 68,6% das redes promovem avaliações e/ou reflexões sobre os processos de aprendizagem em conjunto com os estudantes.
O levantamento foi realizado entre 18 de maio e 26 de junho deste ano, por meio de um questionário virtual, e contempla respostas de 60% de todas as redes municipais do país.
Programa Escola em Tempo Integral
Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sancionou o programa Escola em Tempo Integral, destinado a estados e municípios. O governo federal pretende investir R$ 4 bilhões para ampliar em 1 milhão o número de matrículas integrais em escolas básicas de educação, ainda em 2023.
Além da ampliação do tempo de permanência, o programa também considera o uso dos espaços dentro e fora da escola e a articulação com os campos da saúde, cultura, esporte, ciência e tecnologia, meio ambiente e direitos humanos, entre outras estratégias para melhorar as condições de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes.