Em recuperação após a cirurgia de transplante cardíaco,
o apresentador Fausto Silva
segue evoluindo como o esperado e já começou a etapa de fisioterapia
, segundo boletim médico do Hospital Israelita Albert Einstein. Os cuidados de um paciente que passa por esse tipo de procedimento, no entanto, devem se estender ao longo da vida, a fim de evitar possíveis complicações ou, em um caso mais grave, uma rejeição ao órgão.
Em conversa com o
iG
, a médica especialista em transplante cardíaco, que atua na área de cardiogenética do Instituto do Coração (InCor) e é membro da Doctoralia, Fernanda Almeida Andrade, tira algumas dúvidas sobre como é o processo de recuperação dessa cirurgia
e em relação aos cuidados que o apresentador deve ter a partir de agora.
Após a cirurgia, acabam-se os riscos?
A cardiologista explica que, após realizar o transplante cardíaco,
é necessário explicar ao paciente e à família dele que ele está quase que “ganhando uma nova doença”, porque ele vai precisar administrar ao menos quatro medicações, sendo mais ou menos oito comprimidos ao dia para cuidar do novo órgão.
“A partir do momento que ele entra na fila e é submetido ao transplante, a maioria das pessoas acha que vai ter vida normal e que não vai ser necessário tomar todos aqueles remédios, e isso, na verdade, é um engano”, afirma.
Os remédios, chamados de imunossupressores,
atuam de modo a abaixar a imunidade do paciente a ponto que ele fique suscetível a doenças infecciosas, já que o corpo não entende o que é o órgão transplantado e, naturalmente, tende a rejeitá-lo.
E a longo prazo, ainda é necessário ter cuidados?
Nos primeiros dias, os principais cuidados são para evitar que o paciente contraia uma infecção hospitalar
ou tenha rejeição aguda, isto é, quando o novo coração altera de tamanho e se torna insuficiente, assim como o anterior, explica a especialista.
A longo prazo, no entanto, as chances de rejeição
do órgão continuam existindo. “Alguns pacientes, depois de 10 anos do transplante, por exemplo, desistem das medicações e podem ter rejeição”, afirma.
De acordo com a médica, o infarto
também é um risco e pode acontecer no coração transplantado, sendo mais difícil de diagnosticar, já que o paciente transplantado não vai sentir os sintomas comuns da condição, como a dor no peito. “Isso acontece porque a enervação do órgão é incompleta. Então, o paciente precisa fazer consultas com o cardiologista e realizar exames recorrentes para checar todos os riscos e as condições do coração
transplantado.”
Além disso, outra possível consequência após o transplante cardíaco
é a evolução para uma doença renal crônica,
devido ao uso das medicações, que acabam lesando o rim de alguma forma. “Muitas pessoas, inclusive, acabam entrando na fila de transplante renal depois de um tempo e, nesse caso, eles têm prioridade”, explica.
Por quanto tempo o paciente deve tomar os imunossupressores?
Os remédios devem ser tomados até o final da vida. “Às vezes o paciente esquece ou subestima as medicações e fica quatro dias, por exemplo, sem tomar, mas isso já é o suficiente para a imunidade
da pessoa se reestruturar e começar a atacar o coração, entendendo como algo estranho”, pontua.
Em quanto tempo volta à vida normal?
Depois de sete a 14 dias de alta, a vida já volta ao normal, de forma gradual. “A gente recomenda geralmente uma reabilitação cardíaca, mas é muito bonito de ver que os sintomas que a pessoa sentia antes são praticamente zerados. De imediato ele já não tem mais aquele cansaço, é um coração novo.”
Para o retorno à prática de atividades físicas e ao dia a dia normal, a recomendação é de 15 dias a um mês. A cicatrização completa ocorre em torno de três meses depois.
As consultas médicas ocorrem a cada quanto tempo após a cirurgia?
Nos primeiros três meses após o transplante, as consultas acontecem de forma mensal para acompanhar como os remédios estão reagindo no corpo do paciente e analisar se é preciso fazer alterações nas doses, a fim de evitar complicações.
No primeiro ano de transplante,
o paciente geralmente passa em uma consulta a cada três meses. Depois, após aproximadamente três anos da cirurgia, as consultas acontecem a cada seis meses, segundo a cardiologista.
Mesmo assim, a pessoa que passou por um procedimento como esse deve manter contato direto com a equipe de transplante para que qualquer ocorrência que possa interferir no processo de recuperação ou diretamente no novo órgão
seja avisada e a consulta possa ser antecipada.
Quando acaba o período que possa haver rejeição do órgão trasplantado?
De acordo com a médica, sempre pode haver o risco de rejeição,
principalmente no paciente que tem má adesão ao tratamento, por isso a importância do acompanhamento médico recorrente.
No entanto, a rejeição
também pode acontecer no paciente que realiza o tratamento da forma correta, mas é acometido por um resfriado, por exemplo. “Um episódio como esse altera a dose do remédio dele no sangue, então a gente precisaria aumentar, mas se a próxima consulta do paciente for dois meses depois, por exemplo, e ele não avisar a equipe de transplante, ele pode ter um quadro de inchaço e falta de ar, que precisa ser verificado para garantir que não se trata de uma rejeição”, pontua a médica.
Além da administração correta dos imunossupressores
e das visitas frequentes ao cardiologista, a médica pontua que é necessário que o paciente busque um estilo de vida saudável após a cirurgia, evitando o consumo de álcool,
não fumar
e controlar a ingestão de sal.