sábado, 30 novembro 2024
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Startups e corporações: algumas lições, provocações e caminhos

Felipe Matos

Startups e corporações: algumas lições, provocações e caminhos

Desde 1999 trabalho com startups, quando esse termo nem existia no Brasil e unicórnios eram só seres mitológicos. Em 2002, com a fundação do Instituto Inovação, da qual participei, pude participar de dezenas de projetos de transferência de tecnologia entre universidades e grandes corporações, e também com startups.

De lá para cá muita coisa mudou e o ecossistema empreendedor cresceu e floresceu. Ao longo dos anos, é visível o aumento do interesse por organizações grandes e até mesmo médias pelas startups. Também pudera. Com o mundo em transformação digital acelerada, é fundamental manter-se atualizado com as inovações para a sobrevivência dessas organizações e startups são um veículo excelente para isso. São organizações pequenas, ágeis, conectadas às mais novas tecnologias e ávidas em desafiar o status quo. Têm capacidade de produzir novidades num passo muito mais rápido, disruptivo e a custos menores do que projetos internos nas organizações.

A relação, contudo, não é simples. De um lado, um gigante com compliance, setor jurídico, regras compras, e todo o peso de uma grande corporação, que pode facilmente sufocar uma startup. De outro, uma empresa pequena e informal, com poucos processos definidos, que não fala a língua da grande empresa. Ambas precisam aprender a lidar umas com as outras para o namoro dar certo.

Um dos principais erros no começo dessa relação foi achar que startups são versões em miniatura de grandes empresas, que poderiam oferecer produtos prontos para serem consumidos pela grande organização. Na verdade, as soluções não estão prontas e há muita necessidade de co-criação e adaptação por ambas as partes para que seja possível uma solução viável.

Vale destacar também os aprendizados do lado do processo dessa relação, que precisou evoluir do tradicional processo de compras de fornecedores padrão, para algo adaptado ao tamanho e às necessidades das startups. POCs (provas de conceito) pagas, prazos de pagamento facilitados, exigências de compliance simplificado foram algumas das ações das melhores empresas no sentido de facilitar a inovação aberta no relacionamento com startups.

Outro aprendizado importante está na forma de acessar as startups. Foi preciso entender que elas estão organizadas em um ecossistema, com agentes facilitadores, como incubadoras, aceleradores, hubs de inovação e investidores e que a corporação era mais um player nesse jogo e precisaria aprender a fazer parte desse ecossistema.


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Os instrumentos usados pelas empresas para estabelecer essa relação também variaram e evoluíram ao longo do tempo. No começo eram muito usados os hackatons, reconhecidos pelo seu custo baixo e choque de cultura que ficava ótimo na foto, mas muitas vezes sem resultados duradouros. Há algum tempo, as empresas foram aprendendo que precisavam criar programas específicos para o relacionamento com startups, que precisava ser mais sistêmico.

O processo começou com os bancões, o Itaú e seu CUBO e o Bradesco com o InovaBRA e foi se espalhando para empresas dos mais diversos setores, do agro ao aço. E até mesmo fora dos grandes centros econômicos do país. Com o tempo, as áreas de M&A (fusões e aquisições) passaram a se envolver, mas aqui muito foi aprendido também. Dependendo da fase da startups, uma aquisição completa não faria sentido, podendo até matar a própria startup.

E para operar de forma independente, a startup deve estar livre de amarras contratuais comuns nesse tipo de operação. É por isso que, salvo nos casos em que a aquisição faz mesmo sentido, as corporações evoluíram seu entendimento e passaram a adotar o CVC, ou corporate venture capital. São fundos de investimento com recursos das empresas para investir em startups, geralmente nos moldes dos fundos de venture capital tradicionais.

E para onde vai o futuro dessa relação? Eu acredito que veremos ainda um forte crescimento de corporate venture capital, atingindo novos setores e também empresas médias. É bem provável que essas empresas colaborem entre si para a criação de novos fundos, já que podem ser muito pequenas para bancar uma empreitada sozinhas – o que é ótimo.

Também acredito que algumas empresas vão se aventurar no modelo de venture builder, estimulando a geração dentro de casa de novas startups que resolvam problemas latentes, algo ainda pouco comum.

É preciso lembrar que não existe bala de prata e nenhuma iniciativa isolada irá resolver os problemas de inovação da empresa. Uma boa estratégia de inovação na relação com startups usa um mix de diferentes ferramentas, mais adequadas para diferentes fases de startups e diferentes tipos de inovação – mais centradas no core business da empresa ou complementares.

Para ilustrar isso, eu criei um modelo que usa uma matriz de dois eixos, sendo um deles o estado de maturidade da startup e o outro o nível de relevância para o core business da empresa daquela inovação. Em cada quadrante, há ferramentas e ações mais adequadas para aquele estágio. E vale lembrar que é crucial que a empresa continue fazendo prospecção ativa de startups, bem como ações estruturantes de apoio ao ecossistema (eventos, patrocínios, ações com comunidades).

Empresas maiores e mais relacionadas ao core business tem um melhor encaixe com o M&A. Já aquelas complementares ao core business se encaixam melhor com o investimento de corporate venture capital. Já para empresas menores, formatos de incubação e aceleração e programas de relacionamento são mais indicados.

O quanto e por que cada ferramenta será usada depende da estratégia de inovação da empresa, lembrando sempre que inovação está na estratégia de longo prazo.

A relação entre startups e grandes corporações vem se desenhando no país como uma história de sucesso na busca pela inovação. A Inovação Aberta não apenas acelera o desenvolvimento de tecnologias e produtos inovadores, mas também ajuda as empresas a permanecerem relevantes em um mundo em constante evolução. Para empreendedores de startups e executivos de grandes corporações, a mensagem é clara: a colaboração é a chave para o futuro da inovação corporativa. Ao unir forças, ambos os lados podem colher os benefícios da Inovação Aberta e moldar o mercado de amanhã.



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Fonte: iG

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