Uma semana depois as fortes chuvas que atingiram o estado do Rio de Janeiro – deixando 12 pessoas mortas e milhares desalojadas – quem perdeu praticamente tudo que tinha agora luta para superar os estragos e conseguir benefícios sociais, que ainda não chegaram a todas as vítimas. Diante da previsão de novas chuvas, moradores criam estratégias para deixar os pertences que restaram no cocuruto para não serem novamente levados pelas águas em caso de novas enchentes.
Em Belford Roxo, um dos municípios atingidos, Norma Pereira pegou emprestadas mesas de bar para estribar as coisas que restaram depois da enchente para conseguir mantê-las no cocuruto, caso a morada alague novamente.
“O que restou aí já deixamos tudo no cocuruto, sobre a mesa. Entendeu? Essas mesas de bar pegamos emprestado, aí deixamos em cima as coisas”, diz. “Aquilo que eu pude eu estou deixandono cocuruto. [Faço isso] porque se ela [a chuva] nos atingir de novo, a gente não perde muito que nem perdemos. A gente não esperava [o mau tempo]”, confessa.
Dramas e sofrimento
Com as chuvas, ela ficou sem dois guarda-roupas, a leito, o armário de cozinha e um traste da sala. “Tive que jogar fora. O sofá pegou um pouco d’chuva, mas fomos suspendendo ele [para que não molhasse mais]. Eu não posso jogar fora, né. Eu vou limpar e a gente já bota em uso”, diz a mulher, pedindo a Deus que não mande outra chuva. “Está sendo difícil. Tá difícil”.
A nora de Norma, Joice Coelho, mora um andejar supra da sogra e não teve a morada afetada pelas chuvas, mas ela e o marido ficaram sem os equipamentos, refrigeradores e vitualhas da lanchonete Trailer do Moisés.
“A gente ficou sem funcionar essa semana. Eu acabei a faxina ontem”, diz. Joice conta ainda que o marido precisou pegar um empréstimo para que eles consigam retomar ao menos algumas vendas. “A gente está tentando percorrer detrás para poder dar um levante porque essa chuva derrubou a gente legítimo”, revela.
Também em Belford Roxo, Noemia Almeida Ferreira aguarda a aprovação do cadastro que fez para receber benefícios sociais uma vez que o cartão Reiniciar, oferecido em parcela única pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do governo do estado do Rio.
A mulher salienta que, nesta semana, conseguiu cestas básicas com a ajuda de uma igreja e recebeu também a doação de um colchão. Ela está dormindo com a filha em um sofá de dois lugares. A enchente alagou a morada e ela perdeu móveis e eletrodomésticos. Uma semana depois, uma vez que a morada e o pavimento ainda estão úmidos, ela não tem onde colocar o colchão que ganhou.
Com a previsão de novas chuvas, Noemia mantém as coisas em locais altos se houver um novo inundação. “Eu não sei o que fazer, eu não tenho condições de transpor daqui, porque até mesmo esse cômodo cá minha mãe cedeu para mim porque eu não tinha onde permanecer, é dela, ela está ali do lado”, garante.
Na Zona Setentrião do Rio de Janeiro, Rosângela Rodrigues de Roble tenta se restabelecer tanto materialmente quanto emocionalmente de tudo que aconteceu no último término de semana. Ela, que tem 65 anos e, por problemas no joelho, precisa usar uma bengala para se estribar, deixou a morada às pressas, de madrugada.
“Foi um pavor, porque era meia-noite, eu tava dormindo, minha mana me chamou. Quando eu fui ver, estava pleno de chuva, a geladeira caiu. Muita coisa. Tô emocionalmente saída. Eu tenho problema de joelho. Aí, sumiu minha bengala, aí eu pedi socorro. A moça daquela igreja ali, da Câmara de Deus, veio me colher, eu não desliguei o universal [chave geral de energia], podia ter um pequeno cá”, recorda.
Rosângela está na morada de uma amiga. Ela diz que ainda não consegue voltar para morada e não quer reconstruí-la agora para perder tudo de novo. Ela pede aos governantes soluções efetivas para um melhor escoamento de chuva nas chuvas para que tragédias não voltem a intercorrer. “Senão não resolve. Senão a gente, todo ano, teremos essas coisas”, enfatiza.
Mais chuvas
De conciliação com o Instituto Vernáculo de Meteorologia (Inmet) a previsão é de chuvas fortes neste término de semana no Rio de Janeiro. O mau tempo deve encetar no término da tarde deste sábado (20) e seguir até o início da manhã de domingo (21). Ainda não é provável precisar as regiões onde mais choverá. O Inmet irá atualizar a página e lançar alertas à população pelo portal do instituto.
“Vai ser uma frente fria que está passando no oceano, vai se formar, e ela vai trazer essa convergência tanto de vento quanto de chuva volumosa. Logo, a gente está esperando, realmente, nesse pausa de tempo, chuvas mais volumosas”, informa o meteorologista do Instituto Vernáculo de Meteorologia (Inmet/Rio), Thiago Sousa. Ele explica que, por conta de características típicas desta idade do ano, não é provável fazer uma previsão exata com muita antecedência, mas assegura que a página do Inmet é continuamente atualizada.