Da Redação Avance News
“Preciso proferir que te Senhor”. Essa frase é escrita de forma cotidiana pelo artista e comunicante Ariel Superior. Foi com ela que Ariel “sobreviveu ao suicídio”, uma vez que ele mesmo descreve. “No último segundo, eu lembrei de registrar o que seriam as minhas últimas palavras. Com certeza, eu estou vivo hoje por conta da minha capacidade de produzir trova”, diz.
A história está registrada no filme curta-metragem Preciso Expor que Te Senhor, disponível online. O filme passou por mais de 30 festivais, tanto no Brasil quanto no exterior, obtendo reconhecimento do público no Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, além de ter sido eleito o melhor curta no festival Goiânia Mostra de Curtas e ter recebido indicação ao Grande Prêmio de Cinema Brasílico. O projeto também se transformou em campanha de prevenção de suicídio de homens trans.
“O Preciso Expor que Te Senhor é uma extensão da minha existência e conta uma vez que me tornei quem sou a partir da minha perspectiva e de companheires de jornada”, diz, ao ampliar: “Essa é a mensagem que eu tenho para proferir para mim mesmo em público.”
Por meio da arte, Ariel Superior labareda atenção para uma veras que não é exclusivamente a dele. O Brasil é o país que mais mata pessoas LBGTQIA+ no mundo. O número de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e outras foram assassinadas no Brasil em 2022 mantém o país no topo mundial entre aqueles que realizam pesquisas sobre esse tipo de violência. Foram 242 homicídios – ou uma morte a cada 34 horas –, além de 14 suicídios.
Dados uma vez que estes também deram origem a outra obra de Ariel Superior, 14 cartas escritas para 14 líderes. Em 2023, pela 14ª vez, o Brasil foi o país com o maior número de assassinatos de trans, segundo levantamentos da organização não governamental (ONG) suíça Trans Gender Europe, confirmados pela Associação Pátrio de Travestis e Transexuais (Antra). Foram 131 trans e travestis assassinados no país em 2022.
Superior escreveu, logo, 14 cartas à mão para líderes influentes da indústria da informação, para sensibilizá-los sobre a prestígio da formação de líderes trans. Um registro com o texto da missiva também está disponível online. “Me sinto injustiçado quando dizem que pessoas uma vez que eu destroem famílias. O que eu mais quero é ser e ter família. E apesar de tudo acredito que sou digno de vida, trabalho e paixão”, diz um trecho da missiva, que labareda atenção para o mercado excludente de trabalho e para a urgência de políticas de inclusão nas empresas.
Mais vozes trans
Ariel Superior defende não exclusivamente um mercado corporativo mais inclusivo, mas também medidas inclusivas na espaço das artes. O filme Preciso Expor que Te Senhor foi realizado, por exemplo, por conta de um edital que tinha cotas para pessoas trans. O artista conta que, na idade, ele compartilhava a própria história no Facebook e chegou a ser procurado por jornalistas e outros profissionais interessados em reproduzir essa história.
“Eu compartilhei minha história muitas vezes, mas, depois de um ano, eu vi que eu estava com os mesmos problemas. Eu contei, contei minha história, algumas pessoas ganharam prêmio de jornalismo, ganharam prêmio de outras áreas, e eu não. Eu continuei tendo os mesmos problemas. Foi aí que eu pensei, eu não tenho um real, eu não sei uma vez que vai ser a minha vida no mês que vem, estou no limite da sobrevivência, mas eu preciso entender que a minha história tem valor, porque essas pessoas estão contando a minha história e elas estão ganhando prêmio”, relata.
Para ele, é muito importante que as pessoas trans possam elas mesmas narrar as próprias histórias, tutelar os próprios interesses, ocupar cargos de liderança. Para que isso aconteça, são necessárias principalmente políticas públicas, além de políticas privadas, uma vez que a inclusão em empresas.
“Portanto, eu entendi que eu precisava narrar a minha história e eu precisava lucrar com a minha história. E a partir daí eu entendi, assim, eu parei tudo o que eu estava fazendo para esse edital e nesse processo também de narrar a história, eu entendi que a minha história passava por outras histórias”, acrescenta ele.
Segundo Superior, com mais inclusão e mais visibilidade, o Brasil passará a ter conversas, muitas vezes difíceis, mas necessárias. “A gente está adiando essa conversa e, quando a gente adia essa conversa, a gente está adiando vidas, a gente está adiando pundonor, a gente está adiando abraços, a gente está adiando ensino, sabe? A gente está adiando a reconciliação que o Brasil merece, que as famílias merecem”, defende.
Para o comunicante, quanto mais oportunidade as pessoas trans tiverem de narrar as próprias histórias a partir da própria perspectiva, “vai ser mais difícil expulsar a gente de lar”. “Vai ser mais difícil, sabe? Quanto mais as mães e os pais, os cuidadores ouvirem as conversas de o que aconteceu depois: Dia 1 – expulso de lar, Dia 2 … Um mês, dois meses e todas as consequências emocionais e econômicas daquilo, daqueles traumas, quanto mais mães e pais ouvirem essas notícias, mais difícil vai ser de expulsar de lar”, diz.
Para marcar a visibilidade trans, cuja data é 29 de janeiro, a Filial Brasil publica histórias de cinco artistas trans na série Transformando a Arte, que segue até o dia 31 de janeiro.