Neste domingo (11), o papa Francisco elevará à santidade a primeira mulher santa de sua terra natal, a Argentina, em um evento no Vaticano com a presença de um de seus ex-críticos ferrenhos, o presidente argentino Javier Milei.
No passado, Milei fez diversos insultos e críticas ao papa, tanto nas redes sociais quanto em entrevistas. Ele já chamou o pontífice de “imbecil”, “representante do maligno na terra”, “personagem inapresentável e nefasto” e o acusou de ser um “jesuíta que promove o comunismo”, mas suavizou o tom após vencer as primárias argentinas, em agosto do ano passado, e principalmente depois que assumiu o cargo de presidente em dezembro.
O papa, por sua vez, disse à emissora mexicana N+, após a vitória de Milei, que não prestou muita atenção aos insultos, e que o que importa é o que os políticos fazem no cargo, e não durante a campanha.
Francisco deve presidir a missa de canonização de Maria Antonia de Paz y Figueroa, mais conhecida como “Mama Antula”. Nascida no século 18 e filha de um rico proprietário de terras e de escravos, renunciou às riquezas de sua família para se concentrar na caridade e nos exercícios espirituais jesuítas.
Ela promoveu os exercícios espirituais – uma mistura de orações e meditações – caminhando milhares de quilômetros descalça, apesar de os jesuítas terem sido, na época, banidos da América Latina.
Francisco, ele próprio um jesuíta, descreveu-a na sexta-feira (9) num encontro com peregrinos da Argentina como um “presente para o povo argentino e também para toda a Igreja”, elogiando a sua dedicação aos pobres.
Encontro bilateral
Além de se encontrar com o presidente argentino na Basílica de São Pedro neste domingo (11), durante a saudação protocolar do pontífice às autoridades presentes, o papa deve ter um encontro bilateral com Milei na segunda-feira (12).
“Ele [Milei] pediu para me ver. Aceitei e, portanto, nos veremos. E estou preparado para iniciar um diálogo, de palavra e escuta com ele. Como acontece com todos”, disse o papa em entrevista ao jornal italiano “La Stampa”, no final de janeiro.
Já Milei, disse neste sábado (10), de Roma, em entrevista a uma rádio argentina, que espera ter um encontro “frutífero” com o pontífice na segunda.
Ele também deverá se encontrar com o presidente da Itália, Sergio Mattarella, e com a primeiro-ministra italiana Giorgia Meloni.
Viagens
Na semana passada, Milei estava em Israel, seu primeiro destino internacional após assumir como presidente argentino.
Com os braços abertos e a cabeça apoiados no Muro das Lamentações, em Jerusalém, usando um quipá (espécie de touca religiosa judaica), Milei rezou e, após abraçar rabino Axel Wahnish, atual embaixador argentino em Israel e seu guia espiritual na aproximação ao judaísmo, chorou.
Há expectativa para uma visita do papa à Argentina ainda em 2024. “Está prevista a possibilidade de fazer esta viagem durante o segundo semestre do ano”, disse o pontíficie numa entrevista ao talk show italiano “Che Tempo Che Fa”, transmitido pelo canal italiano NOVE, bem como pela CNN.
Se isso acontecer, seria a sua primeira ida à sua terra natal desde assumiu como papa em 2013.
Em uma carta em 8 de janeiro, o líder da Igreja Católica foi convidado pelo presidente argentino para visitar o país. Na entrevista à rádio no sábado, Milei disse que espera que “tenhamos a possibilidade de que a saúde da Sua Santidade esteja em condições para que ele venha visitar os argentinos”.
Ataques ao papa
Milei fez várias declarações controversas sobre o papa durante a sua ascensão como figura pública e, depois, durante a corrida à Casa Rosada, embora tenha moderado marcadamente entre as eleições primárias de agosto de 2023 e o segundo turno em novembro, em que foi eleito presidente.
Em novembro de 2020, Milei, que iniciava sua campanha para ocupar uma vaga na Câmara dos Deputados, afirmou no programa argentino Nada pessoal, do Canal 9: “Vou falar logo de cara. O papa é o representante do maligno na terra, ocupando o trono da casa de Deus (…) O papa promove o comunismo, com todos os desastres que causou e que vão contra as próprias escrituras sagradas.”
Três anos depois, quando estava no meio de sua campanha presidencial, Milei despontou na mídia americana em uma entrevista ao apresentador Tucker Carlson. Mais uma vez, as suas declarações contra o pontífice tiveram eco nos diversos meios de comunicação nacionais e internacionais: “O papa joga politicamente. Ele é um papa que tem forte interferência política. Ele também demonstrou grande afinidade com ditadores como Castro ou Maduro. Ou seja, ele está do lado de ditaduras sangrentas.”
O então candidato presidencial disse ainda que Francisco “tem afinidade com comunistas assassinos. Na verdade, não os condena. Ou seja, ele é bastante condescendente com eles e também é condescendente com todos da esquerda, mesmo quando são verdadeiros criminosos.”
Suas declarações provocaram repúdio dos padres na Argentina, a tal ponto que a equipe de Padres de Vilas e Bairros Populares, pertencentes à Igreja Católica, organizou uma “missa em reparação ao papa Francisco” em plena campanha presidencial.
No seu caminho de moderação em relação ao pontíficie, depois das primárias Milei declarou que iria respeitá-lo “como chefe da Igreja Católica”, repudiando figuras do seu partido, La Libertad Avanza, que chegaram a propor romper relações com o Vaticano.
Reação do pontíficie
O papa, por sua vez, sem nomear Milei, deixou uma mensagem clara sobre os líderes da extrema-direita no mundo em setembro do ano passado: “às vezes, meninos e meninas se apegam aos milagres, aos messias, às coisas que se resolvem de forma messiânica. O Messias foi o único que salvou a todos nós. Os outros são todos palhaços do messianismo”, disse em entrevista à agência de notícias estatal argentina Télam.
No dia 21 de novembro de 2023, dias depois de Milei ser eleito presidente no segundo turno, o pontíficie ligou para ele para parabenizá-lo, algo que o político agradeceu em sua conta oficial na rede social X. Segundo comunicado do gabinete de Milei, o papa fez a ligação “para parabenizá-lo e expressar seus votos de união e progresso.”
*Com informações da Reuters e CNN
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