Cada vez mais, o mundo vem enfrentando acontecimentos catastróficos de forma desordenada e sem precedentes, atingindo várias regiões do Brasil, vide as atuais enchentes no Rio Grande do Sul. Mesmo com o Acordo de Paris, assinado por 196 países, em 2015, para estabelecer uma série de ações a serem seguidas para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa, ainda há muito o que ser feito.
Segundo o Dr. Evaldo Stanislau, embaixador nas áreas de imunologia, infectologia, one health e medicina de precisão da Inspirali (ecossistema de educação médica), o aumento da temperatura coloca a vida em risco e traz consequências muito sérias.
“As mudanças climáticas trazem alterações na estrutura de todo o ecossistema terrestre, nas águas dos oceanos, na diversidade das espécies e, infelizmente, impactam negativamente também as doenças. Está se formando um ambiente nocivo para a saúde de todos. Um exemplo é o aumento da poluição, que só vai fazer aumentar casos de problemas cardiovasculares, alergias e câncer”, afirma.
O especialista explica que, com o calor aumentando desde 2019, os países já sentem o impacto das mudanças climáticas, com 5 milhões de mortes associadas ao fenômeno. Os
jovens
são os que mais devem sofrer com estas alterações. “Quem nasceu nos anos 2000 vai ter muito mais exposição a alterações climáticas. Meus filhos e netos vão sofrer muito mais, com sete vezes mais exposição a estes eventos”, relata.
Impacto das mudanças climáticas na saúde pública
Além dos impactos já citados, o médico alerta para o aumento de doenças infecciosas e transmissíveis. “A temperatura quente colabora para a migração de agentes, que estão cada vez mais resistentes. Doenças que já foram consideradas extintas estão voltando a aparecer, como malária, cólera, sarampo, entre outras. Enfrentaremos a chegada de novos agentes, novas pandemias”, diz o Dr. Evaldo Stanislau.
Segundo o médico, todo o movimento causado pela crise climática potencializa a transmissão de
doenças.
“Gases de efeito estufa aquecem oceanos, derrete gelo, aumenta nível do mar, gera eventos climáticos extremos como furacões, seca, inundações, calor. A infusão de água salgada onde só tinha doce, a migração de pessoas e animais, a cadeia de produção de alimentos. Tudo isso favorece o aumento e criação de novos agentes”, alerta.
E as consequências não param por aí. No caso da dengue, por exemplo, o médico explica que as alterações climáticas favorecem a proliferação do mosquito. “[…] Nestas temperaturas mais altas, eles conseguem se replicar melhor, aumentando o ciclo de vida, a voracidade e o comportamento. Temos como exemplo as mutações sofridas pela dengue. Quanto mais calor, mais vetores e mais doenças”, explica.
Papel dos profissionais de saúde
Conforme o Health Care’s Climate Footprint, o setor de saúde é responsável por 5% das emissões globais de gases de efeito estufa. Algumas medidas contribuem para mudar este cenário, como descarte correto de materiais, manuseio do lixo hospitalar, otimização de processos e compromisso com fornecedores conscientes.
“Educar profissionais pode levar a práticas clínicas mais sustentáveis e só teremos ganhos recorrentes disso […]”, diz o Dr. Evaldo Stanislau, que acredita que há esperança se juntarmos esforços e muito o que conquistar com o avanço da tecnologia.
“Já estamos acostumados a vencer desafios na saúde. Com saneamento,
vacina
e antibiótico, tivemos um aumento significativo na expectativa de vida, que antes era de 40 anos e agora são 80 anos. As pessoas morrem menos de doenças infecciosas, tirando COVID, que desequilibrou”, diz o médico.
Segundo ele, é preciso criar uma resiliência climática, pois já é possível prever o que está por vir. “E nós, da saúde, somos agentes de mudança. Temos o poder de convencimento usando nossa credibilidade para falar sobre mudança climática e saúde. Precisamos sair da posição de inércia e espectadores porque somos protagonistas”, finaliza.
Por Juliana Antunes