sábado, 23 novembro 2024
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Agência Brasil faz 33 anos e desafio é consolidar jornalismo público

Da Redação Avance News

Tem coletiva no Planalto. Tem greve de ônibus. Tem projeto sendo votado agora no Congresso. Quem vai? E o julgamento no STF? E os relatórios sobre racismo? Os dados novos de violência contra as mulheres já chegaram no e-mail? As fotos já estão no sistema! 

Esse clima de urgência de todos os dias, de todas as horas, na redação da Agência Brasil, veículo de comunicação na web que completa nesta quarta-feira (10) 33 anos de existência, é mais do que uma rotina desafiadora. A informação gratuita, como direito público e de qualidade, faz a diferença para o país, avaliam especialistas.

O professor de comunicação Rogério Christofoletti, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ressalta que todas as pessoas têm direito à informação e de saber o que se passa em sociedade. “Esses conteúdos precisam ter qualidade, o que significa dizer que precisam ser corretos, claros, precisos, bem apurados, envolventes, éticos e responsáveis”. Ele diz que, entre os desafios do jornalismo público estão o de “ampliar seu público, produzir com qualidade e manter a independência do governo”.

Também pesquisador dos temas da comunicação pública, o professor Josenildo Luiz Guerra, da Universidade Federal de Sergipe (UFSE), entende que as organizações jornalísticas precisam investir no fortalecimento de sua credibilidade com inovações editoriais e tecnológicas interligadas. 

“Essas inovações devem não apenas resultar em produtos jornalísticos melhores, mas permitir a extração de indicadores de qualidade editorial. capazes de demonstrar que a qualidade sugerida pelos veículos é efetivamente entregue em seu conteúdo noticioso”, afirma o professor da UFSE.

Jornalismo público deve liderar processos

Guerra aponta que a pluralidade não deve ficar apenas no discurso dos veículos e dos jornalistas. Isso precisa estar provado nas métricas e indicadores que demonstrem equilíbrio e diversidade. “O jornalismo público tem o dever de liderar esse processo, de abrir esse movimento”. Por um lado, avalia o pesquisador, porque tem uma rotina a prestação de contas à sociedade. Por outro, porque o jornalismo público pode estimular o jornalismo privado a elevar também o seu patamar de qualidade.”

Sob ótica semelhante, o diretor da União Latino-americana de Agências de Notícias, o jornalista argentino Juan Manuel Fonrouge, considera que o principal desafio desse tipo de veículo público é ser competitivo. Isso significa que é necessário atingir a audiência com seu conteúdo pelos portais e redes sociais, e também pelas mídias que utilizam esses conteúdos.

“Os órgãos públicos, mesmo que tenham finalidade não comercial, devem buscar atingir o público e fornecer conteúdo aos meios de comunicação, manter sua relevância”. Isso, para Fonrouge, era muito mais fácil antes da internet, onde o papel dos órgãos nacionais era preponderante para a mídia, “Hoje é diferente. A oferta de agências estrangeiras, como as europeias, tem sido muito mais diversificada”.

Impactos

O professor Josenildo Guerra lembra que o Manual de Jornalismo da EBC orienta a cobertura de um conjunto de temas de respeito à cidadania. Para ele, a Agência Brasil deve fugir de reproduzir modelos e de se ater a declarações das fontes oficiais.

“O arsenal de dados públicos disponíveis hoje, por processos ativos e passivos de transparência, e a facilidade de acesso a fontes relevantes da sociedade civil, por exemplo, abrem possibilidades de ampliação e qualificação da cobertura além dos órgãos e das fontes oficiais”. Isso gera impactos na sociedade, conforme os pesquisadores.

Segundo Rogério Christofoletti, da UFSC, ampliar o público significa alcançar os lugares onde as informações vão importar e impactar. Para ele, esse tipo de conteúdo deve sair da superficialidade.

 “(Deve ter) noticiário econômico e político, com doses generosas de contextualização, um bom noticiário sobre educação, direito do consumidor, direitos humanos, justiça e meio ambiente, também com inteligência, criatividade e linguagem clara”.

Presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC),  o jornalista Hélio Doyle destaca que todos os países com economia desenvolvida mantêm agências noticiosas de caráter público e que prestam grande serviço à população. 

“São reconhecidas pela população. São referências não só para as pessoas de maneira geral, como para formadores de opinião e meios de comunicação. Então, isso é o que nós queremos da Agência Brasil”, afirma Doyle, que foi professor por mais de três décadas na Universidade de Brasília (UnB).

Ele garante que a Agência Brasil busca se firmar como agência de comunicação pública, relevante para sociedade brasileira.

Diversidade de fontes

Na opinião de Christofoletti,  todos os veículos devem priorizar a diversidade de fontes de informação (as pessoas e os documentos que servem de subsídios para os materiais jornalísticos), mas, para a Agência Brasil, há uma dimensão mais importante. 

“Como a Agência Brasil abastece localidades que, muitas vezes, são carentes de outras possibilidades de informação, sua influência no imaginário e na consciência social coletiva é maior. Por isso, garantir a diversidade das fontes e a pluralidade de pontos de vista é elemento de qualidade e de ética jornalística”, afirma.

De olho no futuro-presente 

Para o professor Rogério Christofoletti, o avanço de tecnologias de robotização do jornalismo não deve causar temor para a produção noticiosa. De acordo com os especialistas, humanizar e aprofundar podem ser receitas importantes. 

 “Algumas tarefas podem ser executadas por robôs ou sistemas. Tarefas que demandam o manejo de um volume imenso de dados, por exemplo. Recorrer a tais sistemas nunca pode significar abrir mão da supervisão de humanos. Nunca”.

Josenildo Guerra, da UFSE, também entende que as tecnologias precisam ser analisadas e incorporadas de “modo seguro” ao jornalismo. “O uso responsável e eticamente orientado dessas tecnologias não exclui a humanização e o aprofundamento dos temas. Ao contrário, por exemplo, em termos de aprofundamento dos temas pode haver imensos ganhos”.

Hélio Doyle também considera que pode haver risco com a robotização sem a mediação do trabalho humano. “Não se pode substituir o talento e a inspiração”.

Contra a desinformação

O pesquisador argentino Juan Manuel Fonrouge diz que o combate à desinformação é papel central das agências de notícias. “Caso uma informação publicada em um meio seja citada por uma agência ou reproduzida na íntegra, um material de uma agência de notícias como a Agência Brasil ou a Telam (Argentina), o veículo deve ser uma garantia de veracidade”. 

Na opinião dos pesquisadores, o veículo público pode proteger a sociedade de quem busca perturbar a ordem pública, manipular e desinformar por meio de notícias falsas. “Essa é uma das razões pelas quais as agências de notícias públicas, privadas e mistas não vão desaparecer, a opinião pública precisa delas, devem ser garantidoras de informação verídica e fidedigna”.

Democratização

O fato de a Agência Brasil fornecer conteúdos gratuitos para todo o país é caminho importante para a garantia dos direitos de cidadania dos brasileiros no campo do jornalismo público, afirma o coordenador-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Admilson Ferro Jr.

“A história de luta pela democratização da comunicação não é de hoje e remonta ao período antes da Constituição de 1988. De fato, o país teve avanços com a criação do EBC (2007) e do Conselho Curador, em que a sociedade civil passou a participar de maneira importantíssima desse processo de construção da comunicação no país”. 

O coordenador do FNDC defende que a comunicação pública deve ser fortalecida com maior participação da sociedade e que as necessidades populares pautem os veículos públicos. “O país tem um contingente imenso de pessoas na miséria, sem recursos básicos a que teriam direito”. Os pesquisadores e quem trabalha na empresa concordam: há um caminho de luta pela comunicação pública. Os 33 anos que se passaram são inspiração para o que vem pela frente.

 

Fonte: Agência Brasil

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