O Papa Francisco passou por uma operação bem-sucedida de três horas em seu abdômen, disse o Vaticano na quarta-feira (7), depois de renovados temores sobre a saúde frágil do pontífice de 86 anos.
Francisco reagiu bem à cirurgia e à anestesia, e já fazia piadas após acordar, segundo um dos médicos envolvidos no procedimento.
“Ele tem sofrido. Esta não foi uma cirurgia urgente…. Ele continuou sentindo dor, então uma cirurgia foi decidida ontem”, disse o médico Sergio Alfieri durante entrevista coletiva em Roma.
“Não foram encontradas outras patologias ou doenças”, disse Alfieri, acrescentando que o papa retomou seu trabalho no hospital.
“Agora ele está acordado, está bem e já está trabalhando.” Francisco permanecerá no hospital por cerca de 10 dias para recuperação, disse o médico.
Não houve complicações relatadas, segundo informou o Vaticano. Anteriormente, a informação era de que o papa permaneceria no hospital por vários dias.
O papa foi forçado a cancelar vários compromissos de trabalho no final de maio, depois de ficar debilitado por uma febre. Ele também foi hospitalizado em março por bronquite, mas respondeu bem aos antibióticos. Saindo do hospital naquela ocasião, Francisco brincou que “ainda está vivo”.
Tecnicamente chamado de laparotomia, o procedimento de quarta-feira envolve anestesia geral e destina-se a reparar uma hérnia que o Vaticano disse estar causando sintomas “recorrentes, dolorosos e agravantes”.
Segundo fontes médicas, a intervenção provavelmente está relacionada à cirurgia que Francisco fez em 2021 para remover metade de seu cólon.
O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, disse antes do procedimento que se esperava que o papa fizesse uma “recuperação funcional completa”. A Prefeitura da Casa Papal disse que todas as audiências de Francisco foram canceladas até 18 de junho.
Francisco partiu para o hospital na quarta-feira após sua audiência geral na Praça de São Pedro, onde parou para conversar com membros da multidão, informou a Reuters. O papa então viajou para o Hospital Gemelli, em Roma, que tem uma suíte no 10º andar reservada para papas, segundo a Reuters.
Turistas e fiéis no Vaticano disseram à CNN que estavam “rezando pelo Papa Francisco”, quando ele partiu para a capital italiana.
“Fui à audiência hoje e vi o Papa. Então ouvimos a missa e o padre disse para fazer uma oração pelo papa. Estamos orando pelo Papa Francisco agora”, disse a religiosa Annatuli, de 40 anos.
Carina, de 30 anos, disse que viajou do México para visitar sua tia, que é freira em Roma. “Eu posso compreender o quão sério isso é. É difícil porque muitas pessoas são devotas a ele e à igreja. Esperamos que ele se recupere.”
Além de sua cirurgia de cólon há dois anos, Francisco teve parte de um pulmão removido após um grave surto de pneumonia quando jovem. Mais recentemente, em 2019, foi submetido a uma cirurgia ocular na Clínica Pio XI de Roma para tratar uma catarata. Ele também lutou contra a dor ciática crônica.
No ano passado, ele teve problemas no joelho que o limitaram ao uso de uma bengala ou cadeira de rodas.
Se Francisco ficar incapacitado por qualquer período de tempo, o Vaticano poderá enfrentar uma espécie de crise constitucional. Não há “vice-papa” no sistema católico, ou seja, alguém que pode exercer a autoridade do papa em sua ausência.
O secretário de Estado do Vaticano, atualmente o cardeal italiano Pietro Parolin, pode supervisionar o gerenciamento rotineiro do dia-a-dia, mas não tem autoridade, por exemplo, para nomear bispos ou para criar ou suprimir dioceses em todo o mundo.
A carta de demissão foi preparada
Em entrevista ao jornal espanhol ABC em dezembro, Francisco disse que já havia preparado uma carta de demissão em caso de incapacidade médica permanente logo após sua eleição em 2013.
Francisco disse que escreveu a carta há vários anos e a entregou ao então secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que renunciou em 2013.
Em seus primeiros comentários públicos sobre a existência da carta, o papa foi citado como tendo dito: “Já assinei minha renúncia. O Secretário de Estado na época era Tarcísio Bertone. Eu assinei e disse: ‘Se eu ficar incapacitado por razões médicas ou qualquer outra coisa, aqui está minha renúncia.’”
Em 2013, o predecessor imediato de Francisco, o falecido Papa Bento XVI, tomou a decisão quase sem precedentes de renunciar ao cargo, citando a “idade avançada” como o motivo e surpreendendo o mundo católico.
Foi a primeira vez que um papa renunciou em quase 600 anos. O último papa a renunciar antes de sua morte foi Gregório XII, que em 1415 renunciou para encerrar uma guerra civil dentro da igreja na qual mais de um homem afirmou ser papa.
O papa se posicionou como um líder mais progressista do que seus predecessores durante sua gestão de uma década.
Em 2016, ele pediu aos padres de todo o mundo que aceitassem mais as comunidades LGBTQ, mas depois voltou atrás em comentários declarando apoio à união civil para casais do mesmo sexo.
Ele fez visitas históricas a Mianmar e ao Iraque e também foi o primeiro pontífice a celebrar missa na Península Arábica, berço do Islã, em 2019. O papa também tem sido um defensor da paz na Ucrânia.
Francisco também tomou medidas para reprimir o abuso sexual clerical, uma questão que tem atormentado a Igreja Católica em vários países ao redor do mundo.
(Delia Gallagher, da CNN, Xiaofei Xu, Rob Picheta e Sophie Tanno contribuíram com reportagens)