Da Redação Avance News
21 de Abril de 2023 às 11:47
Duas vítimas tiveram lesões graves; artefatos tinham potencial lesivo capaz de matar pessoas
A investigação da Derf reconstruiu o passo a passo de todo o planejamento do crime, rastreando desde as aquisições do equipamento eletrônicos usados nas bombas. Conforme apurou a equipe policial, o autor estudou desde as formas de preparação da bomba até o processo de aquisição de moedas virtuais e formas de evitar a rastreabilidade do dinheiro caso houvesse sucesso no pagamento da extorsão promovida por ele contra os proprietários da rede de supermercados.
Uma das bombas fabricadas pelo autor explodiu no dia 04 de abril em um supermercado no bairro Vila Operária e feriu quatro pessoas, duas delas atingidas com gravidade. Outra bomba foi colocada em uma loja da rede no Jardim Tropical, mas não houve a explosão. O artefato foi localizado pela Polícia Civil e equipes especializadas realizaram a detonação.
R.M.O. foi preso preventivamente no dia 12 de abril e na residência dele, no Residencial Farias, os policiais civis apreenderam objetos utilizados na fabricação dos artefatos explosivos, como pólvora, mecanismo eletrônico de detonação à distância, munições, além da motocicleta e outros objetos usados no crime. Todos os materiais passaram pela perícia da Politec.
A investigação realizada ao longo de uma semana pela Derf de Rondonópolis, com apoio da Delegacia Regional, Delegacia de Homicídios e Diretoria de Inteligência da Polícia Civil, chegou, primeiramente, na localização de um veículo que foi usado na ação criminosa. Após a identificação do proprietário do veículo, foi feita a representação pela busca e apreensão domiciliar, deferida pelo juízo da 2° Vara Criminal de Rondonópolis.
Interrogatório e confissão
R.M.O. foi interrogado na delegacia especializada e confessou a autoria, alegando ter agido sozinho. Além de dar detalhes de como planejou o crime, contou como instalou artefatos explosivos nos estabelecimentos no dia 31 de março e, quatro dias depois, foi ao local dos fatos para acionar as bombas, após a recusa no pagamento da quantia exigida na extorsão.
Por volta das 8h30 do dia 04 de abril, o serviço de atendimento ao consumidor de uma rede de supermercados de Rondonópolis recebeu mensagens por aplicativo de uma pessoa que se dizia ser ‘membro de uma organização que efetua ações de altíssima violência’ exigindo o pagamento de R$ 300 mil em moeda virtual, tipo Bitcoin, sob pena de um ataque contra as lojas da empresa.
No mesmo dia, perto das 18h, na loja da Vila Operária houve a detonação de um artefato explosivo que causou lesão corporal grave em duas pessoas, sendo uma delas uma criança de sete anos, além de lesões em outros clientes. Após a denotação do primeiro artefato, o indiciado fez novo contato com o atendimento ao consumidor da empresa exigindo, novamente, o pagamento sob pena de um novo ataque.
Planejamento
A investigação apontou que, em outubro do ano passado, ele deu início ao projeto, com a compra de equipamentos para as bombas, escolha da vítima e planejamento operacional, como o estudo de câmeras de segurança e rotas de fuga.
No dia em que colocou a bomba no supermercado, ele foi até o local e usou um capacete para levar o dispositivo até dentro do local simulando que estaria de motocicleta e não levantar suspeita.
Depois de pegar alguns produtos, ele disse que procurou um lugar para deixar a bomba, onde não houvesse câmeras de monitoramento e fixou a bomba em uma das prateleiras. Depois de pagar pelos produtos que comprou, ele foi para outra loja da rede a fim de instalar a segunda bomba. O criminoso disse ainda que escolheu a segunda loja aleatoriamente, mas que não queria colocar em uma que fica próxima à sua casa por medo de alguém reconhecê-lo.
Já o celular que usou para enviar as mensagens da extorsão, ele declarou no interrogatório que
comprou o aparelho logo após ter a ideia de usar as bombas para extorquir dinheiro e pegou um número de CPF aleatório para habilitar o número.
Indiciamento
O delegado Santiago Sanches, titular da Derf de Rondonópolis, pontua ainda que indícios levantados na investigação são concretos e seguros quanto à autoria e materialidade dos crimes, tendo causado lesão grave em duas vítimas, entre elas uma criança de 07 anos, além da exposição de perigo de vida em diversos clientes que estavam no local dos fatos no momento da explosão, ferindo outros dois adultos.
“Somado ao material probatório produzido durante a busca e interrogatório, as investigações da Polícia corroboram a autoria do crime, restando demonstrado através de análise de imagens de câmeras de segurança, afastamento de sigilo de dados decretado nos autos, oitiva de testemunhas, laudo periciais, que o indiciado foi o autor dos crimes apurados nos autos, descartando-se a participação, a priori, de outras pessoas na ação”, aponta Santiago.
O autor do crime foi indiciado ainda por quatro homicídios tentados contra clientes, que faziam compras no momento da denotação da bomba. A criança sofreu graves lesões por todo o corpo.
“Os trabalhos periciais apontaram que o artefato usado tinha potencial lesivo capaz de matar pessoas e que o autor foi até o local do crime pessoalmente para acionamento da bomba, somente não havendo óbito e ferimentos de mais pessoas por circunstâncias alheias à sua vontade. Pode-se dizer que foi um verdadeiro milagre que nenhuma pessoa tenha morrido com a denotação da bomba, uma vez que os artefatos foram colocados intencionalmente em setor de venenos e aerossóis tendo como finalidade potencializar o efeito da explosão”, explicou o delegado.