O trecho da praia de Copacabana na altura da rua Figueiredo de Magalhães, no Rio de Janeiro, foi ocupado por um grupo de amigos, com música ao vivo, churrasco e um vaivém frenético de bolinhas no ar. Era um encontro de praticantes do beach tennis, modalidade esportiva que tomou as praias do litoral brasileiro.
O esporte, uma variação praiana do tênis convencional, ganha mais adeptos a cada verão e deve se estender para as demais estações do ano. Em boa parte da orla da cidade, da praia do Flamengo à Barra da Tijuca, há quadras e escolinhas.
No Rio, a modalidade já não está relegada a um cantinho na areia. Segundo a Secretaria Municipal de Esportes, hoje há 80 quadras de beach tennis nas praias da cidade, mais do que quadras de futevôlei (70) e vôlei de praia (48). As escolinhas se multiplicaram.
Quem pratica afirma que o maior ganho é na vida social. “O beach tennis agrega duas coisas muito importantes: esporte e sociabilidade. Tira até a vontade de consumir álcool”, diz Paulo César Aguiar Gomes, 64, funcionário público que descobriu a modalidade ao retornar para o Rio de Janeiro, em 2016, depois de uma temporada vivendo em Goiânia.
“Vim morar em Copacabana, passei um dia por aqui e pensei em fazer um esporte de praia. Era época de Jogos Olímpicos. Hoje, pratico, além de beach tennis, musculação para aguentar a turma mais jovem nas partidas. Antes, só praticava cerveja”, brinca.
Criado na Itália e visto no litoral do Brasil a partir de 2008, o beach tennis é uma espécie de versão competitiva do frescobol, modalidade criada nas praias do Rio em que duas pessoas usam uma raquete de madeira para golpear a bola, sem deixá-la cair.
Por não haver contagem de pontos, não há no frescobol vencedores e vencidos. O escritor e jornalista Millôr Fernandes, morto em 2012, atribuía para si a invenção do esporte, praticado desde a década de 1960 e ainda tradicional nas praias.
Mas o tênis de praia ganhou fama e divulgação. Hoje, há circuitos nacionais para quem atua competitivamente, transmissão de campeonatos na internet e na televisão e quadras instaladas longe do litoral, como na região da avenida Faria Lima, em São Paulo.
Não é um esporte barato. As raquetes, feitas de fibra de vidro ou carbono, não saem por menos de R$ 300, em versão para iniciantes. As peças mais profissionais passam de R$ 1.000. Nas escolinhas, os planos mensais custam cerca de R$ 250 e podem ficar mais caros a depender do bairro.
O jogo é dividido por pontos, games e sets, em contagem parecida com a do tênis convencional. Já o espírito esportivo, em que todos participam e saem felizes, vem do velho frescobol.
“Eu já jogava tênis, e alguns amigos migraram para o beach tennis. Resolvi conhecer e percebi que era um ambiente mais agradável. O círculo social que a gente cria é muito importante aqui”, afirma o administrador Hugo Miada, 39, praticante da modalidade há oito anos, na praia de Ipanema.
Duplas mistas, formadas por homens e mulheres de idades diferentes, não são só permitidas como encorajadas.
A arquiteta Vânia Jacobina, 52, descobriu o esporte há cinco anos, chegou a ser professora substituta de uma escolinha para evitar a debandada de alunos e hoje organiza eventos e competições do Atytude Beach Tennis, em Copacabana, onde, em alguns finais de semana, praticantes se reúnem para um churrasco e um “play” —equivalente à pelada, um jogo sem compromisso, na língua do futebol.
“Você quer ganhar, mas torce pelo outro. O bonito é ver todas as idades e corpos. Você pode ser gordinha, baixinho, magrinha, pode começar tarde e, mesmo assim, vai ser encorajado a ficar e se dar bem”, elogia a arquiteta.
Para o GAE (Grupo Ação Ecológica), o aumento de quadras de beach tennis gerou um problema urbanístico. “É uma descaracterização total do aspecto paisagístico da cidade”, afirma o advogado Rogério Zouein, diretor do grupo, que pretende entrar com uma representação na Promotoria do Rio para que a prefeitura formule um plano de uso e manejo da praia.
“A areia é uma área de preservação permanente, e a lei orgânica do município diz que a paisagem é o maior patrimônio. Mas a praia hoje é um descaso do poder público. Pessoas colocam quantas redes querem. Um triste espetáculo de como não se tratar a praia do Rio de Janeiro. Pensamos na possibilidade de o Ministério Público exigir à prefeitura um ordenamento efetivo no uso”, acrescenta Zouein.
A prática do beach tennis foi regularizada pela prefeitura em 2021, o que garantiu o uso de espaços predeterminados e definiu dias e horários estabelecidos para os treinos.
A bancária Julieta Lima, 47, adquiriu raquetes e bolas, óculos escuros esportivos e passou a acordar antes das 6h, ao menos três vezes na semana, para ter aulas de beach tennis na Barra da Tijuca. “Estou há dois meses, comecei no verão e não vou parar. Venho até no inverno. Foi o melhor investimento que fiz na minha saúde.”