O movimento ganhou corpo após a negativa do iFood em adotar critérios mais rígidos para credenciamento
A entrada de concorrentes com isenção total de tarifas no mercado de delivery reacendeu o embate entre o iFood e representantes do setor de bares e restaurantes.
A ofensiva da Rappi e o retorno da 99Food, ambos com promessa de zerar taxas por até três anos, expôs um desgaste acumulado com a principal entidade do setor em São Paulo.
A Fhoresp(Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo) passou a incentivar estabelecimentos a deixarem a plataforma, alegando cobranças excessivas e falta de diálogo.
O movimento ganhou corpo após a negativa do iFood em adotar critérios mais rígidos para credenciamento, como exigência de alvará de funcionamento ou licença da Vigilância Sanitária.
Segundo a Fhoresp, que representa cerca de 500 mil estabelecimentos no estado, o modelo atual do iFood concentra poder e impõe uma relação de dependência comercial, em que os restaurantes precisam inflacionar seus cardápios para compensar taxas que chegam a 32%.
Em nota ao Portal iG, o iFood negou ter posição dominante no setor e declarou que mais da metade dos pedidos de delivery no país ainda são feitos por WhatsApp, telefone ou aplicativos próprios. A empresa também afirmou manter compromisso com o crescimento sustentável do ecossistema.
Enquanto isso, a federação afirma que, após anos de tentativas de negociação, o impasse revela uma ruptura definitiva com a plataforma, justamente no momento em que alternativas começam a se viabilizar no mercado.
O diretor-executivo da Fhoresp, Edson Pinto, declarou que a entidade tentou negociar com o iFood ao longo dos últimos anos, sem sucesso.
“Ela é inflexível. As taxas excessivas que pratica fazem com que, praticamente, os restaurantes trabalhem para ela”, afirmou.
Para a federação, o modelo adotado pela empresa se consolidou em um cenário de concentração de mercado, o que teria permitido à plataforma impor condições sem contrapartida adequada aos estabelecimentos parceiros.
Ainda segundo Pinto, “o monopólio não fez bem ao iFood, que estabeleceu uma relação predatória e de dominância”.
A entidade também critica a ausência de exigência de alvará ou licença sanitária para credenciamento de restaurantes na plataforma.
A Fhoresp afirma ter solicitado que o iFood condicionasse a entrada de estabelecimentos a esses documentos, mas o pedido foi negado.
De acordo com a federação, essa decisão representa risco à saúde pública, por não garantir a procedência dos alimentos, nem as condições de armazenamento e preparo.
Outro ponto destacado é o impacto direto das taxas sobre os preços ao consumidor final. Segundo a Fhoresp, restaurantes são obrigados a reajustar os valores dos cardápios em razão das comissões cobradas, que variam entre 18% e 32%.
Força do boicote
Aplicativo de entregas iFood
A campanha de boicote ganhou impulso após os anúncios feitos por concorrentes. A Rappi informou que irá zerar todas as tarifas para novos e atuais parceiros pelos próximos três anos.
Já a 99Food anunciou medida semelhante, oferecendo isenção por dois anos. Para a Fhoresp, a movimentação representa uma oportunidade de restaurar o equilíbrio nas relações entre os aplicativos e o setor de alimentação.
A federação também manifestou apoio à paralisação nacional de entregadores, realizada no dia 31 de março, que reivindicou reajuste na remuneração das corridas e melhores condições de trabalho.
Para a entidade, a estrutura atual das plataformas precisa ser revista para garantir viabilidade econômica aos restaurantes e aos trabalhadores da entrega.
Posição do iFood
Em nota, o iFood declarou que “defende o livre mercado e a livre concorrência” e afirmou estar “comprometido com o crescimento sustentável de todo o ecossistema, oferecendo a melhor experiência para restaurantes, entregadores e consumidores”.
A empresa também contestou ter mais de 90% do mercado e afirmou que “cerca de 65% dos pedidos de delivery no Brasil ainda acontecem pelo WhatsApp, telefone e aplicativos próprios dos restaurantes”.
Segundo o iFood, mais de 400 mil estabelecimentos utilizam a plataforma e têm acesso a ferramentas como pagamento online, prevenção a fraudes, dados de consumo e ações de marketing.
Ainda de acordo com a empresa, seu ecossistema gera mais de 900 mil postos de trabalho diretos e indiretos no Brasil.