As dívidas tributárias da Bombril chegaram a R$ 2,3 bilhões
A Bombril, empresa de produtos de limpeza e higiene doméstica, famosa por sua esponja de aço, anunciou nesta segunda-feira (10) que entrou com pedido de recuperação judicial junto com outras sociedades do Grupo Bombril.
Em comunicado ao mercado, a Bombril alega dificuldades financeiras agravadas por um “ passivo tributário bilionário e altas taxas de juros sobre suas dívidas”, principalmente por conta de autuações da Receita Federal por uma suposta falta de recolhimento de tributos. O valor que a empresa deseja renegociar totaliza cerca de R$ 2,3 bilhões.
Segundo a petição, a empresa busca evitar um colapso financeiro e diz que tem viabilidade para continuar operando. A Bombril, que afirma estar presente “em mais de 90% dos lares brasileiros”, diz que pode sair da crise.
Recuperação judicial
O objetivo do pedido à Justiça é evitar falência. Na foto, fábrica de lã de aço da Bombril
Não é a primeira vez que a Bombril recorre à recuperação judicial. Filipe Denki, sócio do Lara Martins Advogados e especialista em Direito Empresarial e Recuperação Judicial, conta entrevista ao iG que a companhia entrou com um pedido em 2003 devido a dificuldades financeiras por tentativas mal sucedidas de diversificação de seu portfólio — incluindo a entrada no setor de cosméticos. O pedido foi concluído em 2006, mas a empresa continuou a enfrentar altos níveis de endividamento nos anos seguintes.
Um pedido de recuperação judicial é feito à Justiça por empresas em dificuldades financeiras, com o objetivo de evitar a falência. Através desse pedido, a empresa tenta reorganizar suas dívidas com o apoio do Judiciário, para conseguir se recuperar economicamente. Cria-se uma proteção contra cobranças de credores por um período, possibilitando um plano de recuperação financeira em um prazo maior.
Em 2017, a Bombril passou por uma reestruturação que permitiu que voltasse a lucrar, mas não o suficiente para superar a situação de endividamento crônico. Em 2023, a empresa contraiu um empréstimo de R$ 300 milhões para refinanciar parte de sua dívida, que na época era de R$ 401 milhões, com 77% desse montante vencendo em 12 meses.
Motivos do novo pedido
As dívidas tributárias da empresa chegaram na casa dos bilhões de reais
Em 2025, a Bombril pediu recuperação judicial por causa de dívidas tributárias que somam R$ 2,3 bilhões. O pedido foi feito na 1ª Vara Regional Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem.
A decisão foi tomada junto com outras empresas do Grupo Bombril, devido aos altos riscos financeiros causados por impostos e taxas acumuladas nos últimos anos. O principal motivo para a recuperação judicial são autuações da Receita Federal relacionadas à falta de recolhimento de tributos conhecidos por T-Bills, entre 1998 e 2001. No período, a empresa estava sob controle do grupo italiano Cragnotti & Partners.
A empresa afirma que perder esses processos pode prejudicar os bons resultados financeiros que vem alcançando, colocando a Bombril em risco. Isso pode afetar a confiança de fornecedores e financiadores, e até levar ao fim de parcerias comerciais e ao pagamento antecipado das dívidas.
O que são as T-Bills?
Segundo o advogado Filipe Denki, as T-Bills ( Treasury Bills ) são títulos da dívida pública emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos com prazos curtos de vencimento. Geralmente varia entre algumas semanas a um ano.
“Elas são vendidas com um desconto sobre seu valor de face e, no vencimento, o investidor recebe o valor total. A diferença entre o preço de compra e o valor nominal recebido representa o rendimento do investidor”, explica.
Esses títulos são vistos como investimentos seguros, pois são garantidos pelo governo dos EUA e são bastante usados por investidores, grandes e pequenos, para proteger o dinheiro e manter a liquidez.
Ícone da indústria nacional
Comercial icônico da Bombril foi ao ar pela primeira vez em 1978
A Bombril foi fundada em 1948, após Roberto Sampaio Ferreira receber uma máquina de produção de lã de aço como pagamento de uma dívida. Foi a empresa que introduziu no mercado nacional as esponjas de aço, que se tornaram produtos de limpeza essenciais no Brasil.
Além da lã de aço, a Bombril diversificou seu portfólio com marcas como Limpol, Mon Bijou, Pinho Bril, Kalipto e Sapólio Radium, consolidando-se como um dos maiores nomes do mercado de limpeza no país.
Seus comerciais de TV também são um marco na história nacional, entrando para o Livro dos Recordes pela campanha publicitária mais longa da história, com o ator Carlos Moreno como “Garoto Bombril”. As propagandas marcantes foram veiculadas de 1978 a 2004, de 2006 a 2011, de 2012 a 2013, em 2015 e em 2019.