Da Redação Avance News
A terapeuta da beleza Karyn Flett, de 52 anos, foi diagnosticada com a síndrome rara de abstinência de esteróides tópicos (TSWS, na sigla em inglês), também conhecida como síndrome da pele vermelha, após usar cremes esteroides por 40 anos.
A britânica começou a usar o medicamento para reduzir manchas de eczema que tinha no rosto, mãos e articulações aos 11 anos. Porém, desde esse período, ela manteve o produto na rotina para aliviar coceiras, secreções e inflamações na pele.
Segundo o Manual MSD de Tratamento e Diagnóstico, os corticosteroides são os medicamentos mais fortes disponíveis para reduzir a inflamação no corpo. Eles foram feitos para imitar a ação do cortisol, um hormônio esteroide produzido no córtex das glândulas supra-renais – gônadas.
No entanto, eles podem causar sintomas danosos.
“Os cremes de corticosteroides não devem ser usados por muito tempo devido aos possíveis efeitos adversos, [por exemplo], atrofia – diminuição da espessura da pele –, estrias, telangiectasia (vasos dilatados embaixo da pele), acne e infecções, porque os corticosteroides diminuem a imunidade da região – tanto infecções fúngicas, bacterianas e virais como pelo vírus do herpes simples”, informa Leonardo Abrucio Neto, médico dermatologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo
E acrescenta: “se forem usados por muito tempo, podem ser absorvidos e causar efeitos adversos sistêmicos, como o aumento da pressão arterial, aumento da glicemia, a longo prazo, osteoporose e também alterações do sistema nervoso central, como agressividade.”
No caso de Karyn, após começar a sentir efeitos parecidos com os da menopausa, como suores e erupções cutâneas, e sabendo de outros danos que os cremes poderiam causar, ela decidiu parar com o medicamento – em setembro de 2022. Foi então que ela começou a sofrer com os impactos da dependência de corticosteroides.
“Aos 45 anos, comecei a me preocupar com uma única coisa que pensei que os esteroides faziam com você, que era afinar a sua pele. Comecei a pensar: ‘certo, preciso usar menos'”, lembrou a britânica, ao portal de notícias Daily Record.
Porém, a situação se tornou mais grave do que ela esperava.
“Eu estava entrando em crises de abstinência e tendo sintomas graves”, contou.
De acordo com o dermatologista, a abstinência pode ser desencadeada pelos cremes, já que eles, de fato, deixam o indivíduo dependente.
“O uso prolongado dos corticosteroides pode causar dependência, porque o organismo fica acostumado com o uso crônico da redução local da inflamação e não consegue, de uma forma abrupta, se recuperar dessa falta de efeito do corticosteroide. Então vai ter um aumento da reatividade local e aumento do processo alérgico do eczema. A retirada da medicação deve ser de forma gradual”, explica.
Após abandonar os cremes, a terapeuta começou a desenvolver erupção cutânea (manchas vermelhas, escamosas e com bolhas ou vergões) em todo o corpo, enquanto lidava com tremores e sudorese. Os sintomas a obrigaram a se afastar do emprego e ficar em casa por seis meses.
“Tive uma erupção cutânea que queimava desde os pés e por todo o corpo. Meu rosto estava pegando fogo, estava inchado. Meus olhos estavam muito difíceis de abrir, estavam inchados”, relatou a britânica.
A sensação que tinha, por exemplo, quando a água tocava seu rosto, era de queimação e muita coceira. Karyn relata que tinha vontade de “rasgar-se até os ossos”. Tomar banho, portanto, era extremamente doloroso.
Para evitar que o rosto entrasse em contato com o travesseiro e aliviar os sintomas, como a coceira, ela usou balaclava e ataduras na parte superior do corpo por três meses.
“Quando voltei para casa, minhas roupas grudaram na minha pele. Tive bolhas da panturrilha até a parte de trás da coxa e pude sentir um líquido escorrendo pela minha perna”, disse.
No Facebook, ela conta que, em torno do quinto mês sem os cremes, as erupções eram constantes na pele seca, descamada, rachada e, em partes, cerosa (parecida com calos).
Como se trata de uma síndrome, também há sintomas não relacionados à pele. No caso da britânica, ela enfrentou fadiga, insônia, ansiedade e perda de cabelo.
Além desses incômodos, Karyn teve de lidar com a baixa autoestima. Os costumes de fazer cabelo, maquiagem, cílios e unhas foram substituídos por dores, isolamento social e uma pele lesionada e marcada.
“Você perde toda a sua autoconfiança e simplesmente não sabe como voltará a ser a pessoa que era. Os primeiros quatro a seis meses são os piores. Tem sido comparado [a síndrome] como pior do que um vício em heroína”, lamentou a terapeuta.
Hoje, ela compartilha a sua história no TikTok para conscientizar outras pessoas acerca do uso de corticosteroides, das opções naturais ao medicamento e para exigir que os médicos sejam mais rigorosos ao prescrever os corticosteroides a pacientes.
Durante esse tempo, Karyn se recupera bem da síndrome e consegue, por exemplo, tomar banho diariamente. Como ela classifica, está curando o corpo “de dentro para fora” e conta com o auxílio de suplementos, principalmente de vitamina C.
Enquanto isso, não abandona um dos seus maiores sonhos: o de não ter mais a pele comprometida.
“Agora posso ver um futuro sem pele inflamada e dolorida que me impedirá de fazer coisas na minha vida. Talvez a última parte da minha vida não seja ditada por uma condição de pele causada pelas drogas”, celebrou.
Nas redes sociais, ela comenta que espera ansiosa “por um dia que eu possa me sentir confortável e bonita como na foto de antes, beber álcool de novo, socializar e ser a garota que eu era uma vez”.
*Estagiária do R7, sob supervisão de Giovanna Borielo
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