Pascal GUYOT
O grupo Carrefour lamentou, nesta terça-feira (26), que sua parceria com a agricultura brasileira seja questionada, após o CEO da empresa, Alexandre Bompard, anunciar que não venderia “nenhuma carne proveniente do Mercosul” em seus supermercados na França, o que provocou um boicote por parte dos fornecedores brasileiros.
“Lamentamos que nossa comunicação tenha sido percebida como um questionamento à nossa parceria com a agricultura brasileira e uma crítica à mesma”, afirmou o distribuidor francês em comunicado em seu site.
A “declaração de apoio ao mundo agrícola francês, feita na última quarta-feira em relação ao acordo de livre comércio [da União Europeia] com o Mercosul, provocou discordâncias no Brasil que devem ser apaziguadas”, acrescentou o comunicado.
Na quarta-feira, Bompard escreveu ao dirigente do principal sindicato agrícola da França, o FNSEA, para anunciar que o Carrefour “não venderia carne proveniente do Mercosul” na França, um e-mail também publicado em suas redes sociais em meio aos protestos agrícolas.
Na carta, o CEO menciona “o risco de transbordar o mercado francês com uma produção de carne que não atende aos seus requisitos e padrões”.
Mas “do outro lado do Atlântico, compramos quase toda a nossa carne brasileira no Brasil e continuaremos a fazê-lo”, destaca o comunicado desta terça-feira.
O anúncio causou indignação no Brasil, onde o governador do Mato Grosso liderou uma convocação para boicotar as lojas do Carrefour em nível nacional.
“Se o Brasil não serve para vender carne para eles, então eles não servem para vender produtos franceses”, manifestou-se o governador mato-grossense, Mauro Mendes (União Brasil), em um vídeo publicado na sexta-feira nas redes sociais.
O Carrefour tem quase 305.000 funcionários em oito países, onde administra diretamente as lojas (França, Espanha, Itália, Bélgica, Romênia, Polônia, Brasil e Argentina).
Dos 93 bilhões de euros (cerca de US$ 97 bilhões ou R$ 566 bilhões na cotação atual) de faturamento em 2023, 23% foram realizados no Brasil.
Na semana passada, agricultores franceses lançaram uma nova série de mobilizações para protestar, entre outras coisas, contra uma possível assinatura do acordo comercial entre a UE e a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai pelo Mercosul.