Distanciados de uma democracia suprema
Em suas declarações à imprensa depois das conversas oficiais, Putin e Xi confirmaram que cada Estado possui suas próprias características históricas, culturais e nacionais, e que “tem o direito de escolher seu próprio caminho de desenvolvimento”, sem necessidade de uma “democracia suprema”.
Nesse sentido, o mandatário russo insistiu em que Moscou e Pequim opõem-se a que um Estado imponha a outro seus valores, trace linhas ideológicas, crie uma falsa narrativa sobre a suposta oposição entre democracias e autocracias, e utilize a democracia e a liberdade como pretextos e instrumentos políticos para exercer pressão sobre outros.
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A esse respeito, Putin destacou que seu Governo concede “grande importância” e estudará a Iniciativa de Civilização Global chinesa.
Reafirmou o compromisso de Moscou com o princípio de “uma só China”, reconhecendo que Taiwan é parte integrante da nação asiática, ao mesmo tempo em que declarou que “opõe-se à independência da ilha em qualquer de suas formas”, apoiando firmemente as ações de Pequim para proteger sua soberania estatal e integridade territorial.
Associação econômica, pedra angular
A consolidação da cooperação mutuamente benéfica no setor financeiro marca a rota dos dois países frente à guerra de sanções imposta arbitrariamente pela administração dos Estados Unidos e de seus aliados da Europa.
Para alcançar as metas propostas para 2030, as autoridades das duas potências garantirão a fluidez dos pagamentos entre suas entidades mediante um maior uso das moedas nacionais no comércio bilateral, nos investimentos, nos empréstimos e em outras transações comerciais e econômicas.
O presidente do banco russo VTB, Andrey Kostin, membro da equipe negociadora, disse em entrevista à imprensa que a economia de seu país demonstrou que seguirá resistindo aos embates das ações hostis, inclusive com a ajuda dos sócios e, em primeiro lugar, da China.
“Temos muitas expectativas, particularmente dadas as circunstâncias. Creio que deveríamos almejar que o nível de nosso comércio alcance cerca de 500 bilhões de dólares”, acrescentou.
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Kostin advogou por diversificar os vínculos com Pequim, os quais se concentram principalmente na área energética, mas que podem expandir-se a outros setores, como a agricultura, a química e o turismo.
“Damos as boas vindas aos turistas chineses, e também esperamos mais produtos da China, tanto de alta tecnologia, que servirão para substituir a tecnologia ocidental que recebemos, como produtos de consumo”, concluiu.
No encerramento das negociações, das quais resultaram 10 documentos reitores além das declarações, Moscou e Beijing propuseram-se a levar a cabo uma “associação energética ainda mais estreita” com vistas a apoiar suas empresas na execução de projetos de cooperação nos setores de petróleo, gás, carvão, eletricidade, energia nuclear e outros.
Também concordaram em proteger em conjunto a segurança energética internacional, inclusive as infraestruturas transfronteiriças críticas, a estabilidade da produção de energia e as cadeias de abastecimento. Também promoverão transições energéticas justas em nível global.
Diálogo é igual a paz na Ucrânia
Outro tema abordado em profundidade por Putin e Xi foi a busca de uma solução para o conflito russo-ucraniano, tema em que ambos concordaram na necessidade do diálogo como principal via para a paz.
Advogaram pelo cumprimento dos objetivos e dos princípios da Carta da ONU, assim como pelo respeito ao direito internacional.
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O líder chinês lembrou que em fevereiro publicaram sua posição sobre uma solução política para a crise da Ucrânia, baseada em uma postura objetiva e imparcial, e na qual propõe ativamente a reconciliação e o restabelecimento das negociações. “Nossa posição se baseia na própria essência do problema e da verdade. Sempre defendemos a paz e o diálogo; estamos firmemente do lado correto da história”, enfatizou Xi.
Putin afirmou que muitos dos preceitos do plano de paz da China estão de acordo com os enfoques russos e podem ser tomados como base para um acordo pacífico quando estejam prontos para isso no Ocidente e em Kiev. “No entanto, até agora não observamos tal disposição”, acrescentou.
“Para resolver a crise ucraniana, é necessário respeitar as preocupações legítimas de todos os países no âmbito da segurança e prevenir a formação de enfrentamento entre blocos, assim como pôr fim a ações que contribuem para a escalada do conflito”, diz a declaração assinada pelas partes.
Frente à incessante entrega de armamentos ao regime de Kiev, e às provocações sobre a utilização de arsenal nuclear feitas por Washington, Londres e outros aliados, ambos presidentes reafirmaram que “não haverá vencedores em uma guerra nuclear” e que “nunca deve desencadear-se uma corrida armamentista”.
Os líderes da China e da Rússia também expressaram sua preocupação com a “intensificação dos esforços globais de defesa antimísseis dos Estados Unidos” e a implantação de seus elementos em diversas regiões do mundo, junto com o desenvolvimento de capacidades de armas não nucleares de alta precisão para o desarmamento e outros usos estratégicos.
Concordaram em solicitar ao Governo estadunidense que deixe de prejudicar a segurança internacional e regional, e a estabilidade estratégica global, para assegurar vantagem militar unilateral.
A similitude de ideias, o entendimento, a comunicação e a confiança demonstrados na recente cúpula entre os presidentes da Rússia e da China, demonstram que as relações bilaterais alcançaram um nível sem precedentes.
E isto em um quadro de cooperação integral que envolve comércio, investimentos e grandes projetos em muitos campos, que resistem à prova do tempo e também a pressões ocidentais.
Odette Díaz Fumero | Correspondente da Prensa Latina na Rússia.
Tradução: Ana Corbisier.
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