Da Redação Avance News
Uma pesquisa da Parent-Infant Foundation, no Reino Unido, revelou que uma em cada dez mulheres tem dificuldades de criar vínculo com seus bebês. Além disso, cerca de 73% dessas mães não receberam suporte nem orientação para desenvolver essa ligação de forma saudável e maternal.
No Brasil, o cenário não é muito diferente. A depressão pós-parto acomete cerca de 25% das mães brasileiras no período de seis a 18 meses após o nascimento do bebê. Por outro lado, é preciso diferenciar a depressão do baby blues para conseguir analisar de forma clara os dois diagnósticos, afirma Jacqueline Isaac Machado Brigagão, estudante de Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.
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Depressão perinatal e baby blues
Para diferenciar as condições, Isaac destaca a importância de utilizar o termo “perinatal” para se tratar da doença, já que, em muitas vezes, os primeiros sintomas surgem ainda durante a gestação.
- Segundo Jacqueline, os sintomas do baby blues envolvem mistura entre um sentimento de tristeza e cansaço, e é algo comum, não patológico e pode durar até duas semanas;
- Se esses sintomas se estendem por período maior, há provável diagnóstico de depressão perinatal;
- Entre os sinais dessa condição mais delicada estão: ansiedade, dificuldades em se relacionar com o bebê, sentimentos de inutilidade e culpa, insônia ou excesso de sono, lentidão no jeito de agir, agitação incomum, pensamentos recorrentes de morte.
Durante a gravidez, a mulher passa por muitas mudanças hormonais, físicas, emocionais e sociais. O parto também envolve esforço fisiológico e psíquico intenso, então é comum que a mulher experimente emoções variadas.
Jacqueline Isaac Machado Brigagão, estudante de Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP
Saúde mental e acompanhamento psicológico
Investigando alguns fatores que podem ser determinantes para as duas condições, Renata Pereira de Felipe, pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP, aponta que a romantização em excesso da maternidade pode colaborar diretamente com as complicações da saúde mental das mulheres.
“Há uma romantização da gravidez, do parto, do puerpério e mesmo da criação de uma criança, onde se vende a ideia de que esses acontecimentos envolvem muita felicidade para todas as partes envolvidas, principalmente para a mãe”, explica Renata.
Hoje em dia, 37% das mulheres não desejam ser mãe, conforme estudo feito por Daniele Fontoura e Valeska Zanello publicado em 2022. As razões para a não maternidade vão desde o não desejo de mudanças corporais e possíveis riscos no parto até questões mais existenciais, como a necessidade de liberdade, solidão e de ter tempo para si mesma.
Renata Pereira de Felipe, pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP
A especialista afirma que, para as mães de recém-nascidos, é fundamental garantir o acesso à rede de apoio. Quanto aos profissionais de saúde, é preciso estarem atentos para identificar os primeiros sinais de depressão perinatal.
O tratamento da depressão perinatal é realizado assim como os outros tipos de depressão, com acompanhamento psicoterápico ou psiquiatra. “O acompanhamento psicológico e psiquiátrico é fundamental para auxiliar mulheres com depressão pós-parto e sem depressão pós-parto, mesmo quando não há queixa específica quanto ao melhor tipo de apoio”, complementa.
Com informações de Jornal da USP
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