Os assassinatos de três auditores-fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho, em transgressão que ficou publicado porquê “Chacina de Unaí”, completou 20 anos neste domingo (28). Foram assassinados os auditores Eratóstenes de Almeida Gonsalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e o motorista Aílton Pereira de Oliveira.
O incidente, ocorrido na cidade mineira de Unaí em 28 de janeiro de 2004, revelou a dificuldade de coibir o trabalho análogo à escravidão e o Brasil profundo da ação dos privilegiados contra os mais desassistidos. Essa é a avaliação do historiador Gladysson Pereira, pesquisador da Universidade Estadual de Alagoas.
“O transgressão revela o Brasil de uma desigualdade profunda e mostra inúmeros aspectos históricos. É óbvio que o processo de derrogação foi feito de uma forma que não impactava na vida daqueles que eram os ‘donos do Estado’”, afirmou o pesquisador.
A falta de condições adequadas de inspeccionar, mesmo em período democrático, mostra, para o professor, porquê os privilegiados agem contra os desassistidos. E porquê esse comportamento mantêm a força mesmo contra servidores públicos federais.
O professor contextualiza que demorou mais de um século, desde a Supressão da Escravatura (1888), para que o Estado brasiliano reconhecesse, em 1994, que havia “trabalho servo”. “Quando o Grupo Traste de Fiscalização do Ministério do Trabalho, naquele ano, começa a atuar, mexe numa antiga ferida. Os latifundiários mantiveram os trabalhadores sob condições de vida e de trabalho, semelhantes a escravos, durante muito tempo em larga graduação”.
Ferida e crença
A auditora fiscal aposentada Valderez Monte, hoje com 79 anos, foi integrante e uma das coordenadoras do grupo traste de fiscalização. Ela atuou em 151 ações fiscais de 1995 a 2003, que resgataram 2.409 trabalhadores de condições subumanas de vida e trabalho.
Ela recorda que a chacina de Unaí deixou a categoria ferida e mais temerosa. “Mas quem trabalha nessa atividade faz por crença, paixão e certeza de que é verosímil ajudar pessoas de situações muito degradantes”.
Valderez trabalhava principalmente em operações nas regiões Setentrião e Meio-Oeste. Embora conhecesse os colegas assassinados em Minas Gerais, não tinha trabalhado com eles. “Sabíamos que precisávamos de mais contribuição, mas esse transgressão não fez com que a gente parasse. Brigamos por melhores condições de trabalho, mas temos crença do que precisa ser feito”.
Atualmente, ela atua porquê pesquisadora Instituto do Trabalho Digno, uma entidade sem fins lucrativos que elabora pesquisas sobre a atividade laboral no Brasil. “Precisamos de, pelo menos, três milénio auditores, e temos muro de milénio. O país é continental e as práticas dos latifundiários não é muito dissemelhante do que naquela idade”.
Ela recorda ter testemunhado situações muito degradantes, de lavradores que trabalhavam por uma repasto por dia e sequer conheciam numerário. “Muito triste. Isso nos dá força para continuar mesmo com as ameaças que os grandes proprietários fazem contra nós”, afirma.
Resgates
Durante o dia, representantes do governo federalista recordaram que, neste domingo, que marca os 20 anos da chacina de Unaí, é o Dia Pátrio do Combate ao Trabalho Servo. O ministro-chefe da Secretaria de Notícia Social, Paulo Pimenta, afirmou que, em 2023, 3.151 pessoas foram resgatadas em condições análogas à escravidão no Brasil. Esse é o maior número registrado desde 2009.
Ele acrescentou que, em conferência a 2022, as denúncias aumentaram 61%. “Seguimos fortalecendo as instituições de fiscalização do trabalho. Temos um longa jornada pela frente, mas estamos o rumo notório”, apontou no microblog X, macróbio Twitter.
Disque 100
O ministro Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, também na rede social, lamentou que ainda hoje o trabalho análogo à escravidão seja uma verdade. Ele destacou as ações do governo federalista e pediu contribuição da população. “Cada um de nós desempenha papel vital na erradicação dessa prática intolerável e desumana”. Para isso, pediu que denúncias cheguem ao Disque 100.