quarta-feira, 27 novembro 2024
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Com proximidade da campanha municipal, Lula intensifica viagens e entrevistas pelo Brasil

Lula pretende subir em palanques para anunciar investimentos e inaugurar obras ao lado de prefeitos e figuras políticas tentando conquistar mais prefeituras-chave do que oposição. Lula encerra no Piauí a 10ª Caravana Federativa com investimento em áreas portuárias, transformação digital e cessão de terrenos

Eric Souza/g1

A um mês e meio do início da campanha para eleições municipais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue com agenda intensa de viagens pelo Brasil e com entrevistas para rádios locais. Lula pretende subir em palanques para fazer anúncios de investimentos e inaugurar obras, ao lado de prefeitos e outras figuras políticas, na tentativa de conquistar mais prefeituras-chave do que a oposição.

Nas últimas duas semanas, Lula esteve no Rio de Janeiro, Fortaleza, Teresina, Recife, Belo Horizonte e Juiz de Fora. Na semana que vem, a maratona pelo país continua. A agenda prevê eventos públicos em São Paulo, Rio de Janeiro, Feira de Santana, Salvador, Recife, Goiânia e Distrito Federal (DF).

Em todos os destinos, o presidente participa de cerimônias para inauguração de obras, unidades habitacionais e anúncios de investimentos.

Além de viagens pelo país, o presidente também estabeleceu como estratégia dar entrevistas em rádios locais. Lula chegou a declarar em discursos que essa é uma prioridade na agenda.

Em evento de inauguração de extensão do metrô e da construção de um Instituto Federal de Ensino, em São Paulo, o vice-presidente Geraldo Alckmin, ao lado de Lula, explicitou a estratégia. Em discurso, Alckmin vinha exaltando o fato de que o presidente tem percorrido várias cidades nos últimos dias e seguirá assim nas próximas semanas.

“O Milton Nascimento dizia que o artista precisa estar onde o povo está. O governo precisa estar onde o povo está”, afirmou o vice.

O doutor em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB), Leonardo Barreto, lembra que essa estratégia foi exitosa nos primeiros governos de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, mas que hoje “é outro momento.” E, mesmo Lula falando para rádios locais, pode ser difícil “furar os algoritmos das redes sociais.”

“Com as redes sociais, todo mundo pode editar o material, ele pode estar dando muita munição e oportunidades para ser criticado É arriscado, a falta de controle que se tem sobre as narrativas criadas a partir da fala dele”, afirmou.

Por outro lado, segundo o especialista, a estratégia pode trazer alguns ganhos a Lula.

“Ele pode ganhar mais proximidade, vai falar com pessoas diferentes. Ele ir até um veículo local, regional, tudo isso se torna um grande evento, desperta mobilização, agora, é uma estratégia que não tem a potência de outrora com as redes sociais.”

Outra abordagem defendida por Lula é de estabelecer alianças com partidos e lideranças em lugares onde o PT pode não ter candidato próprio. Nos últimos discursos, o presidente tem explicitado que um de seus objetivos é barrar a extrema-direita. Para isso, o PT pode até abrir mão se sua tradição história de encabeçar as chapas nas eleições.

Alguns exemplos de cidades importantes onde o PT vai apoiar aliados são:

Rio de Janeiro: Eduardo Paes (PSD)

São Paulo: Guilherme Boulos (PSOL)

Recife: João Campos (PSB)

Barreto, o cientista político, acredita que o PT não conseguirá recuperar o espaço municipal que já teve no passado. E que pode ser uma boa estratégia o partido estabelecer alianças com outras legendas.

“O PT já teve mais 700 prefeituras, hoje não tem 100, não é de uma eleição para outra que você regenera, você não consegue nem formar liderança suficiência para compensar. Faz sentido ele buscar aliados em outras legendas para compensar a fragilidade, ele sozinho não recupera a capilaridade para dar sustentabilidade para a eleição de 2026”, avaliou.

Lula inaugura viaduto Roza Cabinda em Juiz de Fora

Proximidade com Pacheco

Na última viagem para Minas Gerais, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) acompanhou Lula. Durante as agendas no estado, Lula fez elogios ao senador e fez acenos para uma possível candidatura de Pacheco ao governo mineiro em 2026. Lula chegou a afirmar que o senador “é a figura pública mais importante de Minas Gerais”.

“Eu tenho dito isso para o Pacheco. Ele só não será candidato se não quiser. Eu não sei o que ele quer, se ele quer ser senador, mas eu considero o Pacheco a mais importante personalidade de Minas Gerais. Ele decide o que ele quer fazer e o que eu posso dizer é que eu quero estar junto”. Afirmou o presidente Lula.

Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país. É estratégico não só nas eleições municipais, mas também nas nacionais.

Diálogo com alas conservadoras

Outra aposta do governo federal é se aproximar da ala conservadora da sociedade brasileira. O ministro Silvio Almeida é um dos escalados para a missão. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania tem conversado com líderes evangélicos. Na última semana, discursou em templo religioso em São Paulo.

Para Barreto, muitas pautas sociais defendidas pelas igrejas também estão no guarda-chuva do ministério dos Direitos Humanos, como por exemplo os problemas ligados a violência e dependências de drogas.

“As igrejas dependem também de recursos governamentais, é uma abertura de portas, virando votos para um governo de esquerda. Silvio Almeida ficou identificado, como sendo refém de uma pauta mais identitária, ligada a gênero, essa excursão [diálogo com evangélicos] traz o ministério para agendas que toca também o público conservador”, pontuou.

Busca por melhor relação com o Congresso

O governo do presidente Lula tem enfrentado crises com o Congresso Nacional. O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), já reclamou da articulação do governo e aprovou pautas que não eram de interesse do governo.

Segundo Barreto, ao tentar se aproximar da ala conservadora da sociedade, além de tentar conquistar mais votos nas próximas eleições, o presidente também abre uma porta para diálogos com deputados da base conservadora e de oposição.

“Essa mudança também é voltada para conversar com deputados. Não deixa de ser um reconhecimento do presidente, que o Brasil é um país conservador, ele tenta fazer um ajuste de discurso. O ponto é se ele vai conseguir fazer mantendo a credibilidade”, completou.

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