Da Redação Avance News
O dólar comercial fechou a R$ 5,7349 para venda, com valorização de 1,43%. A moeda americana atingiu o maior valor em relação ao real desde o fim de 2021. A disparada do dólar foi determinada pela valorização do iene e saída de capital de outras moedas, como o real. Incertezas fiscais, tom do Copom visto como duro por alguns analistas e queda das commodities puxaram a cotação da moeda norte-americana.
“A escalada do dólar foi intensificada dado os conflitos geopolíticos no Oriente Médio, desconfiança da relação entre Estados Unidos e China; o ouro subiu, alta dos ativos de risco soberano, o que acaba prejudicando as moedas dos países emergentes”, relaciona Ariane Benedito, economista e especialista em mercados de capitais. Ela apontou como questão importante o fato dos comunicados dos BCs terem colocado o arrefecimento da atividade, que está derrubando os preços das commodities.
“Estamos vendo muita interferência do banco central japonês dentro do mercado cambial para a valorização da sua moeda. Várias moedas perdem valor frente ao dólar dada essa procura pelos ativos de risco soberano, ou seja, uma saída do fluxo dos ativos de demanda para os ativos de risco”, completa. A questão do iene, segundo Benedito, bateu nas bolsas americanas, da Europa e do mundo todo e tem impacto sobre os ativos de risco. “Aqui teve muito stop nas posições de venda, dado a quantidade de posições compradores no dólar e acaba fazendo com que o dólar suba frente ao real”.
Lucas Brigato, sócio da Ethimos, disse que a alta do dólar frente ao real é atribuída a ata dura do Copom. “O tom da ata acabou gerando desconforto aqui. A mensagem passada foi que a Selic em 10,5% não é mais possível e o cenário está aberto para uma alta na reunião de novembro. Não se vê corte de juros no curto prazo”.
Na visão de Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a depreciação do real reflete a valorização do iene. “Os operadores falam de um efeito da valorização do iene, com agentes levando recursos da maioria das moedas para lá. Quando passa dos R$ 5,70, estoura o ‘stop loss’ em algumas posições. A operação de stop loss consiste em desfazer investimentos quando a moeda atinge um certo patamar de desvalorização”.
Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus, disse se vê desmonte de posição e o fiscal doméstico pesa. “Estamos presenciando o desmonte de posições no Iene (devido política monetária do Japão) e a saída de divisas do Brasil. Além disso, na área fiscal, existe ainda uma incógnita, e os esforços anunciados ainda são insuficientes, pois o governo precisa se posicionar de maneira mais austera e focar no centro da meta. Um outro fator que pesa está relacionado às commodities em queda, que contribuem para o disparo da moeda americana, devido ao Brasil ser um dos maiores exportadores do mundo”.
Ontem, o BC manteve a Selic em 10,50%. O balanço de riscos incorporou desancoragem das expectativas de inflação por um período prolongado e teve novo risco altista relacionado a taxa de câmbio mais depreciada.
Assim, diante de um cenário global incerto e uma conjuntura doméstica de resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, o entendimento do Copom é que são necessários na condução da política monetária um acompanhamento diligente e ainda maior cautela.