quarta-feira, 19 março 2025
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Dólar em queda: entenda os motivos e os impactos no Brasil

Valter Campanato/Agência Brasil

Dólar fechou o dia com queda de 0,19%

O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira (18) em queda de 0,19%, cotado a  R$ 5,6755 — a menor cotação desde 24 de outubro, quando a moeda registrou R$ 5,6635.

A taxa de compra ficou em R$ 5,6846 e a de venda em R$ 5,6852, conforme dados do Banco Central. Com isso, a moeda americana acumula uma baixa de 3,06% nas últimas seis sessões, refletindo o movimento positivo dos ativos brasileiros.  

Especialistas apontam que essa queda do dólar é resultado de uma combinação de fatores internos e externos, com destaque para o desempenho positivo das contas públicas brasileiras e o enfraquecimento do dólar em meio às tensões comerciais globais.  

Lucas Tavares, especialista em câmbio na WIT Exchange, explica que o mercado interno ficou mais otimista após os resultados positivos das contas públicas. “Em janeiro, o setor público, que inclui o governo federal, os estados e os municípios, gastou menos do que arrecadou, conseguindo um saldo positivo de R$ 104,1 bilhões. Esse superávit primário, divulgado pelo Banco Central, mostra que o país está controlando melhor suas despesas, o que aumenta a confiança dos investidores e pode ajudar na valorização do real”, analisa o especialista, em entrevista ao portal iG.

Além disso, economista destaca que o IBC-Br — indicador que serve como prévia do PIB — veio acima do esperado em janeiro, a 0,90%, reforçando a percepção de que a economia brasileira está em recuperação.  

Tavares também destaca que o cenário externo contribuiu para esse movimento. “No mercado internacional, o ‘tarifaço’ do presidente Donald Trump, que ameaçou impor tarifas de até 200% sobre bebidas alcoólicas da União Europeia, gerou tensão. No entanto, o fato de ele não ter avançado nesse sentido trouxe um certo alívio ao mercado”, destaca. 

Políticas de Donald Trump estão ajudando o dólar a ter queda no Brasil, dizem especialistas
Vladimir Solomianyi/Unsplash

Políticas de Donald Trump estão ajudando o dólar a ter queda no Brasil, dizem especialistas

Em entrevista ao iG, André Matos, CEO da MA7 Negócios, acrescenta que o principal fator externo é justamente a política comercial dos Estados Unidos.

“As tarifas impostas por Trump estão afetando a economia global e fazendo com que outras moedas ao redor do mundo se valorizem frente ao dólar. Isso coloca pressão sobre o dólar, que tem enfraquecido globalmente. Os fatores internos aqui no Brasil têm pouca influência sobre a desvalorização do dólar frente ao real”, comenta.

A combinação de fortalecimento do real e enfraquecimento da moeda americana é um ponto de consenso entre os analistas. Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, explica que a política monetária interna também tem peso nesse movimento. “A elevação da taxa Selic em 1 ponto percentual tornou os títulos brasileiros mais atrativos para investidores estrangeiros, que buscam rendimentos mais altos. Isso trouxe mais dólares para o Brasil, fortalecendo o real”, explica o especialista ao portal iG

Impactos sobre inflação e preços

A queda do dólar tem reflexos diretos sobre os preços e a inflação no Brasil. Segundo Tavares, um dólar mais barato significa que produtos e matérias-primas importadas ficam mais acessíveis.

“Isso pode ajudar a reduzir a inflação, porque produtos como petróleo e seus derivados — gasolina e diesel — ficam mais baratos, o que pode reduzir os preços nos postos. Fertilizantes, máquinas e outros produtos usados na produção agrícola também ficam mais baratos, o que pode ajudar a conter a alta nos preços dos alimentos”, relata.  

A queda do dólar também acontece pelo aumento da taxa básica de juros
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

A queda do dólar também acontece pelo aumento da taxa básica de juros

André Matos concorda, destacando o impacto positivo sobre o custo de vida. “Com a moeda americana mais fraca, as importações se tornam mais baratas, o que pode ajudar a aliviar a pressão inflacionária sobre produtos importados, como eletrônicos, combustíveis, insumos industriais e alimentos, como o trigo, por exemplo, usado para fazer o pão. Esse efeito pode ser positivo para o controle da inflação no curto prazo e deixar os produtos um tanto quanto mais baratos”, comenta.

No entanto, o especialista ressalta que é importante lembrar que a dinâmica da inflação também depende de outros fatores, como a demanda interna e os custos de produção, que podem ser influenciados por questões locais como a alta dos juros, que dificulta o acesso ao crédito de empresas e consequentemente impacta o empresário local.

Monteiro complementa que o alívio inflacionário pode ajudar o Banco Central a atingir suas metas sem precisar aumentar ainda mais os juros. “Se o dólar continuar em queda, o custo de vida pode cair, e isso permitiria ao BC adotar uma política monetária mais branda, o que estimularia o consumo e o crescimento econômico”, ressalta.  

Setores beneficiados

setores exportadores, como o agronegócio, commodities como o minério de ferro e algumas indústrias, podem ser prejudicados,
Agência Brasil

setores exportadores, como o agronegócio, commodities como o minério de ferro e algumas indústrias, podem ser prejudicados,

A valorização do real beneficia principalmente os setores que dependem de importações, como o de tecnologia, eletrônicos e automobilístico. “Com o dólar mais barato, os custos de aquisição de componentes e produtos importados diminuem, o que pode reduzir os preços para o consumidor”, explica Matos.  

Monteiro reforça que setores como o de eletroeletrônicos e o de máquinas também se beneficiam. “Com os custos de produção menores, essas empresas podem aumentar sua margem de lucro ou repassar a redução para o consumidor final”.

Por outro lado, o cenário é menos favorável para os setores exportadores, como o agronegócio e a indústria de commodities. “Com o real mais forte, os produtos brasileiros ficam mais caros no mercado externo, reduzindo a competitividade. Isso pode impactar negativamente o saldo da balança comercial”, alerta Monteiro.  

Movimento pontual?

Sobre a possibilidade de o dólar continuar em queda, os especialistas divergem. Para André Matos, a baixa pode se sustentar no curto e médio prazo, mas depende da continuidade das políticas comerciais dos EUA. “Não existe uma previsão para que Trump recue em relação às tarifas. Se ele mantiver essa postura, o dólar pode continuar sob pressão.”  

Monteiro, no entanto, vê o cenário como mais volátil. “Embora o movimento recente reflita um ambiente mais positivo para o real, a sustentação dessa tendência depende de fatores externos, como a política monetária dos EUA e o comportamento dos investidores internacionais”, comenta.

Lucas Tavares pondera que o cenário fiscal brasileiro também será decisivo. “Se o governo conseguir manter o equilíbrio das contas públicas e a confiança dos investidores, o real pode continuar forte. Mas qualquer sinal de deterioração fiscal pode inverter rapidamente esse movimento.”  

Impacto das mudanças no governo brasileiro

As recentes medidas do governo brasileiro, como a redução ou eliminação de tarifas de importação, também podem influenciar o comportamento do câmbio.  Tavares acredita que a abertura comercial pode ajudar a valorizar o real ao aumentar a oferta de produtos e reduzir a inflação. “Se os preços internos caírem, isso pode dar mais espaço para o Banco Central manter uma política monetária mais favorável ao crescimento econômico”, disse.

Matos, por outro lado, vê um impacto mais limitado. “A redução de tarifas pode melhorar a competitividade das empresas e ajudar a controlar a inflação, mas o efeito sobre a valorização do real tende a ser pequeno, já que o movimento de queda do dólar tem sido mais influenciado por fatores externos”, comenta.

Monteiro avalia que, apesar de o impacto ser restrito no câmbio, a redução de tarifas pode melhorar o ambiente econômico interno. “Se o governo mantiver um equilíbrio entre abertura comercial e incentivo à produção interna, o Brasil pode ganhar competitividade sem prejudicar setores estratégicos”, finaliza.



Fonte: iG

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