O primeiro-ministro François Bayrou na Assembleia Nacional francesa, em 5 de fevereiro de 2025, em Paris
Julien de Rosa
O primeiro-ministro francês, o centrista François Bayrou, sobreviveu nesta quarta-feira (5) a duas moções de censura, que socialistas e ultradireitistas preferiram não apoiar, e conseguiu a adoção dos orçamentos do Estado no Parlamento.
Apenas 128 deputados, incluindo seis socialistas, votaram a favor da primeira moção de censura apresentada pelo partido A França Insubmissa (LFI, esquerda radical), comunistas e ecologistas; enquanto seriam necessários 289 votos para derrubar o governo.
A segunda moção de censura contra Bayrou, aliado histórico do presidente de centro-direita Emmanuel Macron, também apresentada pelo LFI, também não prosperou pela falta dos votos dos socialistas e dos ultradireitistas do partido Reagrupamento Nacional(RN).
Ambas as moções foram apresentadas em resposta à adoção, por decreto, na segunda-feira, do orçamento para 2025.
Esse tipo de manobra é comum na França quando o governo não tem maioria, e a única maneira de os deputados da Assembleia Nacional (câmara baixa) derrubarem a medida é com uma moção de censura.
Embora Bayrou possa apelar novamente nos próximos dias, na reta final do procedimento parlamentar, a votação desta quarta-feira confirmou que ele conseguiu afastar a censura, mas não os riscos de instabilidade política que o país enfrenta desde 2024.
Com isso, a Assembleia Nacional poderá aprovar os orçamentos do Estado para 2025. O Senado se pronunciará sobre o assunto a partir de quinta-feira, e provavelmente votará a favor, o que permitirá que o texto seja adotado pelo Parlamento.
Ao contrário de dezembro, quando a oposição de esquerda e de extrema direita derrubou seu antecessor conservador Michel Barnier, os socialistas não apoiaram uma censura desta vez, em nome do “interesse geral”, quebrando a unidade da esquerda.
O orçamento busca sanear os cofres públicos reduzindo o déficit para 5,4% do PIB em 2025 — quase o dobro do limite estabelecido pelas normas europeias — com um aporte de 52 bilhões de euros (313 bilhões de reais).
Para isso, o governo da segunda maior economia da UE planeja cortes drásticos nos gastos públicos, somados às novas receitas provenientes de um aumento temporário de impostos sobre as empresas mais lucrativas e as grandes fortunas.
“As decisões que temos que tomar são difíceis e dolorosas, porque este não é o nosso orçamento”, disse o líder parlamentar socialista Boris Vallaud à France Info, alertando que “a estabilidade está longe de ser garantida”.
O RN, de Marine Le Pen, também é a favor de não censurar o governo por enquanto, em nome da “estabilidade” até que as eleições legislativas possam ser realizadas, de acordo com a lei, só a partir de julho.