Da Redação Avance News
Segundo uma pesquisa de um historiador da Universidade de Southampton (Inglaterra), a última pessoa condenada no país por bruxaria que se acreditava ter sido executada, na verdade, pode ter escapado da morte.
O professor Mark Stoyle entende que houve um erro ortográfico cometido por um oficial do tribunal local, o que pode indicar que estudiosos ignoraram evidências que levam a crer que a mulher acusada não teria sido enforcada, mas, sim, vivido por bastante tempo, reporta a Universidade de Southampton.
Conheça a história da mulher condenada por bruxaria que teria escapado da forca
- Alice Molland foi sentenciada no Castelo de Exeter, em Devon, no ano de 1685, por, supostamente, “enfeitiçar” três vizinhos;
- Os historiadores acreditavam que ela foi executada na área de Heavitree, localizada na cidade, no mesmo ano;
- Durante mais de um século, os especialistas acreditavam que Molland foi a última acusada de ser bruxa executada no país;
- Tanto que ela ganhou uma placa comemorativa em nome de sua duvidosa honra. Ao lado dessa homenagem, encontram-se os restos mortais das chamadas bruxas de Bideford, comprovadamente enforcadas em Exeter em 1682;
- Agora, evidências apontam que não foi Alice Molland que foi condenada, mas, sim, Avis Molland.
Stoyle pensa que um erro administrativo causou a confusão. “Os registros da corte do século XVII foram escritos em latim e, nessa forma, seria preciso apenas um único golpe errado da caneta do escrivão da corte para transformar ‘Avicia’ (Avis) em ‘Alicia’ (Alice)”, explica.
Quase nada se sabe sobre a vida de Alice e tentativas de esclarecê-la falharam. Então, quando vi uma referência a uma ‘Avis’ Molland em arquivos locais – sabendo que Molland era um nome incomum em Exeter – fiquei impressionado com sua grande semelhança. Imediatamente me perguntei: ‘Alice’ Molland existiu? Alice é, de fato, Avis?
Mark Stoyle, professor da Universidade de Southampton e autor do estudo
“Independentemente de minhas investigações, o colega historiador Peter Elmer também observou essa possibilidade em nota de rodapé do artigo, o que me estimulou a tentar descobrir mais”, salienta.
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Após pesquisas nos registros do tribunal local, bem como registros de nascimentos, casamentos, óbitos e documentos fiscais, Stoyle encontrou várias referências a Avis.
Ela se casou com Cornelius Molland na Catedral de Exeter em 1663 e teve diversos filhos. Um deles chamava-se Elizabeth, nascida em 1667. Neste ano, o casal foi acusado de induzir um menino a roubar tabaco, mas o caso acabou sendo arquivado.
O suposto crime poderia ter ocorrido porque a família precisava batalhar para sobreviver; eles estavam entre os mais pobres da cidade. Mais tarde, em período de dez anos, três dos filhos do casal morreram e, em certo momento, Cornelius também faleceu.
Na época do julgamento de 1685, Avis Molland era uma viúva pobre, de meia-idade, que estava sobrecarregada com a perda – precisamente o tipo de mulher que provavelmente seria acusada de bruxaria na Inglaterra moderna.
Mark Stoyle, professor da Universidade de Southampton e autor do estudo
Existem, ainda, provas circunstanciais que ligam Avis à prisão no castelo de Exeter. Existem registros desse fato em 1685, que narra que ela testemunhou contra uma mulher acusada de prever a revolta de 2,5 mil tecelões em rebelião civil.
Pode ser que Avis ouviu a mulher se gabando da insurreição enquanto visitava seu marido preso no castelo por provocar tumulto. Se isso for mesmo real, Avis estaria na cena da prisão durante o julgamento da suposta Alice.
Avis morreu em 1693. O registro paroquial data sua morte em 26 de novembro, com seu pseudônimo sendo mantido por oito anos. Caso Alice era uma grafia errada de Avis, quer dizer que nenhuma delas foi a última bruxa executada na Inglaterra, mas, sim, que este título seria de uma das três Bideford: Temperance Lloyd, Susannah Edwards ou Mary Trembles.
A falta de registros da vida de Alice e as evidências circunstanciais em apoio ao caso de Avis ser nossa mulher condenada apontam para uma bruxa que sobreviveu! Mas a verdade é que, apesar de toda a minha busca diligente, talvez nunca saibamos com certeza se a história errou.
Mark Stoyle, professor da Universidade de Southampton e autor do estudo
O artigo de Stoyle, “Em busca de Alice Molland: um fogo-fátuo de bruxaria inglesa”, será publicado neste mês, na The Historian.