Da Redação Avance News
Os casos de coqueluche têm apresentado um aumento expressivo no Brasil neste ano de 2024, marcando o maior número de ocorrências da doença nos últimos dez anos. De acordo com os dados reportados principalmente pelas Secretarias de Saúde estaduais, estados como Paraná (1.224 casos), São Paulo (870 casos), Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal são as regiões mais afetadas.
A maior preocupação é que o crescimento está relacionado à queda na cobertura vacinal nos últimos anos. A vacinação contra coqueluche, que deveria atingir 95% da população (recomendação da Organização Mundial da Saúde), ficou em torno de 77% em 2022 e cerca de 83% em 2023, segundo dados oficiais. Além disso, a falta de reforços vacinais em adolescentes também contribui para a maior vulnerabilidade da população.
O período de inverno é um dos fatores que também intensifica o surto da doença, que tem alta contagiosidade. Uma pessoa infectada pode transmitir a coqueluche para até 17 outras pessoas, o que reforça a importância da vacinação para conter a disseminação.
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O que é coqueluche?
A coqueluche, também conhecida como tosse comprida, é uma doença infecciosa respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis. É altamente contagiosa e afeta principalmente o sistema respiratório, causando episódios de tosse intensa que podem durar semanas ou até meses.
A bactéria Bordetella pertussis adere ao revestimento das vias respiratórias e libera toxinas que prejudicam os tecidos respiratórios e interferem no sistema imunológico. A transmissão se dá de pessoa para pessoa por meio de gotículas respiratórias liberadas ao tossir, espirrar ou falar. É ainda mais contagiosa nas fases iniciais da infecção, antes que os sintomas característicos se manifestem.
A doença evolui em três fases principais:
Fase catarral (1-2 semanas)
- Sintomas semelhantes aos de um resfriado comum, como coriza, febre baixa, cansaço e leve tosse;
- Alta contagiosidade.
Fase paroxística (2-6 semanas ou mais)
- Tosse intensa e persistente, frequentemente em crises ou “paroxismos”. Cada episódio de tosse é seguido por um som agudo durante a inspiração, conhecido como “galope” ou “guincho”;
- Pode haver vômitos após a tosse;
- É nesta fase que a coqueluche é mais debilitante e característica.
Fase de convalescença (semanas ou meses)
- Os episódios de tosse começam a diminuir em frequência e intensidade;
- O paciente pode demorar a recuperar completamente devido ao desgaste respiratório.
A coqueluche pode afetar pessoas de todas as idades, mas bebês com menos de 6 meses são os mais vulneráveis, pois têm sistemas imunológicos imaturos e, frequentemente, ainda não foram completamente vacinados. Outros grupos de risco incluem idosos, pessoas com imunidade reduzida e não vacinados ou com esquema vacinal incompleto.
Se não tratada, a coqueluche pode levar a complicações graves, como apneia (pausas na respiração, comum em bebês), pneumonia, convulsões, desidratação e perda de peso, hemorragias internas devido à força dos episódios de tosse e morte em casos graves, principalmente em lactentes (bebês que ainda estão sendo amamentados, independente da idade).
Como proteger as crianças de pegar coqueluche
Proteger as crianças contra a coqueluche envolve medidas preventivas, com destaque para a vacinação e práticas de higiene.
A vacinação é a forma mais eficaz de prevenir a coqueluche. No Brasil, a vacina pentavalente, disponível no SUS, protege contra coqueluche, difteria, tétano, hepatite B e infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo B.
O esquema vacinal recomendado é:
- Doses primárias: aos 2, 4 e 6 meses de vida.
- Reforço: entre 15 e 18 meses e aos 4 anos com a tríplice bacteriana (DTPa).
Além disso, é recomendado que gestantes recebam a vacina DTPa a partir da 20ª semana de gravidez para proteger o bebê nos primeiros meses de vida por meio de anticorpos transferidos via placenta
A vacinação também deve incluir adultos próximos. Pais, avós e cuidadores também devem ser vacinados para criar um “cinturão de imunidade”, minimizando o risco de transmissão para o bebê (estratégia conhecida como “cocooning“).
A higiene respiratória é muito importante. Práticas simples ajudam a reduzir a exposição:
- Cobrir o nariz e a boca com lenço ou antebraço ao tossir ou espirrar.
- Lavar as mãos frequentemente com água e sabão ou usar álcool em gel.
- Evitar contato com pessoas que apresentem sintomas de infecções respiratórias.
Evite levar recém-nascidos e crianças pequenas a locais fechados ou com grande concentração de pessoas, especialmente em períodos de surtos ou no inverno.
Se houver exposição a alguém com coqueluche ou surgirem sintomas como tosse persistente, é essencial procurar atendimento médico rapidamente para diagnóstico e tratamento adequado, evitando complicações.
Essas medidas combinadas ajudam a proteger as crianças, especialmente os bebês que ainda não completaram o esquema vacinal, diminuindo o risco de infecção.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da coqueluche é feito por meio de histórico clínico (sintomas característicos), exame físico e testes laboratoriais, como cultura de secreção nasofaríngea ou PCR para identificar Bordetella pertussis.
O tratamento inclui antibióticos, como macrolídeos (azitromicina, claritromicina) para reduzir a duração da doença e a contagiosidade. Em casos avançados, os antibióticos podem não aliviar completamente os sintomas, mas evitam a disseminação da bactéria.
O suporte sintomático deve ser feito com hidratação, uso de oxigênio em casos graves e cuidados para minimizar o desconforto durante as crises de tosse.
As informações contidas nesta matéria têm caráter exclusivamente informativo e não substituem orientações médicas, diagnósticos ou tratamentos profissionais. Sempre consulte um médico ou profissional de saúde qualificado para esclarecer suas dúvidas e avaliar suas condições específicas.