Da Redação Avance News
Jovens agricultores familiares de diferentes regiões do Brasil estão adotando práticas sustentáveis como sistemas agroflorestais (SAFs) e plantio direto para aumentar a produtividade, reduzir os impactos ambientais e tornar a produção mais resiliente às mudanças climáticas. A iniciativa faz parte da campanha Mãos da Transição, que visa valorizar e disseminar práticas responsáveis entre pequenos produtores rurais, especialmente os jovens.
Em Pacaraima (RR), na fronteira com a Venezuela, Ana Karoliny Calleri, da comunidade indígena Kawê, adotou os SAFs para a produção de café arábica. O resultado foi um produto de alta qualidade, com certificação de origem e comercializado em cafeterias renomadas do estado.
No município de São Miguel do Guaporé (RO), o produtor Willians Santana observou benefícios do SAF na produção de frutas e café. “Deu para ver a diferença onde introduzimos o sistema. Por serem áreas sombreadas, a temperatura é mais amena, o que equilibra o ecossistema”, relata.
Em Tomé-Açu (PA), produtores da Cooperativa Agrícola Mista (Camta) apostam nos sistemas agroflorestais como alternativa para diversificar a produção e manter a tradição. A jovem pesquisadora Patricia Mie Suzuki, doutoranda em Engenharia Florestal, integra a gestão da propriedade da família, onde consorcia o cultivo de dendezeiro com mais de 15 espécies nativas.
No Vale do Jequitinhonha (MG), Gleici Maria Pereira Alves optou pelo sistema de plantio direto em sua propriedade de um hectare. Com o apoio do esposo, cultiva banana, pitaya, abacaxi, mamão e milho. “Quero ser a maior produtora em plantio direto da região e incentivar outros agricultores”, afirma.
Esses jovens compartilham suas experiências nas redes sociais por meio da campanha Mãos da Transição, que registra em vídeo a rotina e os resultados alcançados por sete produtores de estados da Amazônia e do Cerrado. A ação é uma parceria entre Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes) e o Laboratório do Clima da Purpose.
A campanha também envolve atividades de capacitação e apoio a organizações que trabalham com agricultura familiar e sistemas alimentares sustentáveis. “Queremos mostrar que práticas como agroecologia, SAFs e plantio direto são viáveis, aumentam a produtividade e geram renda”, afirma Karina Yamamoto, da Purpose.
Segundo o IBGE, a agricultura familiar responde por grande parte dos alimentos consumidos no país, como feijão, arroz, milho e mandioca. Por isso, tornar esses sistemas produtivos mais adaptados às mudanças climáticas é essencial para reduzir a vulnerabilidade à inflação de alimentos.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que mais de 90% das propriedades rurais no mundo são familiares, e produzem mais de 80% dos alimentos em termos de valor. Apesar disso, muitas dessas propriedades têm menos de 2 hectares e carecem de políticas públicas adequadas.