O empreendedorismo feminino
tem crescido no país — e uma das razões está relacionada à maternidade. Uma pesquisa de 2022 do Sebrae mostra que o número de empreendimentos femininos no Brasil subiu cerca de 10,1 milhões. Destes, 52% são liderados por mães.
E o que leva as mães a entrarem no ramo dos negócios? Uma pesquisa da Rede Mulher Empreendedora (RME) tem a resposta: para 87% das empresárias, a premissa de ter mais tempo e flexibilidade para cuidar da família é o que as motiva a seguir — ou até entrar — no empreendedorismo.
Uma jornada dupla de trabalho pode se multiplicar em meio a um contexto adverso — como na pandemia,
por exemplo, em que 54% das mães tiveram seus negócios impactados quando as escolas foram fechadas. Já no caso dos pais, o cenário foi o contrário: 51% não foram afetados nesse período.
Esses dados mostram que apesar da flexibilidade, o empreendedorismo não torna a maternidade mais fácil — ou vice-versa. São desafios e conquistas que se complementam, como mostram as histórias inspiradoras de cinco mães empreendedoras selecionadas pelo
Portal iG
. Confira:
‘Hoje o empreendedorismo me traz mais felicidade’, diz Brunna Farizel
Com mais de uma década de experiência como executiva na área comercial e de novos negócios do mercado de luxo, a capixaba Brunna Farizel, 38, decidiu abandonar a vida corporativa para mergulhar de vez no empreendedorismo durante a sua primeira gravidez, em 2018.
Em parceria com o marido, ela fundou a rede de cafeterias Splash Bebidas Urbanas. A motivação principal dessa virada de chave foi a vontade de ter mais tempo de qualidade para acompanhar o crescimento da filha Helena, hoje com 6 anos.
“Eu tinha uma vida confortável financeiramente falando, mas, hoje, o empreendedorismo é o que me traz mais felicidade”, compartilha Brunna. Ela destaca que, apesar de trabalhar mais como empreendedora, uma das grandes vantagens é ser dona da própria agenda e ter seu processo criativo reconhecido.
Para Brunna, a capacidade de adaptação e a busca por inovação foram fundamentais para o sucesso, tanto nos negócios quanto na maternidade. “A maturidade que a maternidade me trouxe também teve um papel positivo nessa trajetória e nos resultados do negócio: não temos respostas prontas, mas estamos sempre em alerta para as mudanças e reagimos rápido a qualquer imprevisto”, reforça Brunna. Hoje, além de Helena, o time de Brunna também conta com Sophia, 4, e Enrico, de 3 meses.
‘Desafio que me dá forças todos os dias’, diz Jô Melo, dona do ateliê Divina Agulha
“Ser mãe empreendedora envolve equilibrar os cuidados com a família e a casa com as responsabilidades da gestão do próprio negócio. Posso dizer que esse é um desafio interessante e que me dá forças todos os dias, porque quando se tem uma filha você tem um motivo a mais para lutar e alcançar seus sonhos e metas”, diz Jô Melo, fundadora do ateliê Divina Agulha.
Em 2016, ela viu sua vida mudar aos 54 anos, quando se envolveu no projeto social “Costurando o Futuro”, da Fundação Grupo Volkswagen, no qual descobriu o potencial dos tecidos automotivos para criar peças duráveis por meio do patchwork.
Hoje, ela e a filha Jéssica comandam o próprio ateliê, que prosperou, e, hoje, atende a clientes renomados como Volkswagen e Audi. Além disso, o ateliê proporciona oportunidades de emprego, impactando diretamente a vida de outras famílias.
“Graças ao projeto Costurando o Futuro, hoje eu tenho a oportunidade de trabalhar com a Jéssica e pude ser um exemplo de perseverança. Foi no projeto que eu aprendi a colocar todo o meu potencial para fora e renasci com um negócio de sucesso, que hoje emprega outras pessoas. Então, ser mãe e empreendedora me fez ter a força necessária para construir um futuro melhor para outras mulheres como eu, além de outras famílias, como a minha”, finaliza.
‘As fases deles não voltam’, diz Priscila Castro, franqueada da Ecoville
Para Priscila Castro, 40, franqueada da Ecoville e mãe de dois meninos, a maternidade impulsionou a necessidade de empreender.
Segundo ela, quando filho mais velho era pequeno, ele ficava doente com muita frequência. Na época, ela trabalhava como enfermeira e precisava faltar a muitos plantões no hospital para cuidar dele. Priscila, então, acabava sendo demitida.
“Com meu próprio negócio eu consigo me organizar, por exemplo, para ficar em casa na parte da manhã cuidando da família, depois que deixo os meninos na escola, vou para a loja. Isso era impossível de acontecer quando trabalhava como enfermeira”, relembra Priscila.
“Hoje eu acompanho e curto o desenvolvimento dos meninos, porque as fases deles não voltam, inclusive o menor acaba tendo privilégios que o mais velho, infelizmente, não teve”, conta a empresária.
Falta de atendimento adequado aos filhos inspirou sócia-fundadora da Saúde Livre Vacinas
A gaúcha Roseane Argenta, 47, se formou em Odontologia e, em 2003, mudou-se para Lucas do Rio Verde, no MT, e passou a trabalhar com o marido cardiologista em uma clínica.
“Com o aumento na procura por atendimentos e necessidade de gestão, em 2015, parei de dar aulas para me dedicar apenas à clínica, assim, consegui mais flexibilidade para ficar com meus filhos, nascidos em 2008 e 2012. Com o nascimento das crianças, eu e meu marido tivemos dificuldade em encontrar as vacinas para eles e, quando encontrávamos, os locais não eram apropriados e com atendimento mediano. Esse foi o nosso insight
para criar nosso próprio negócio”, explica Rosane.
A médica levou em consideração toda a experiência negativa que ela e seus filhos tiveram nos atendimentos para criar uma rede que tem como premissa “o acolhimento, empatia, inclusão, cuidado e amor”, condições que ela valoriza como mãe e como empresária.
Lislaine deixou um cargo público para empreender e acompanhar o desenvolvimento do filho com autismo
Lislaine Oedmann Vilner, 30, deixou de ser funcionária pública municipal para se tornar franqueada da Mr. Fit, uma rede fast food de alimentação saudável, para acompanhar de perto o desenvolvimento do filho com autismo.
A opção de modelo home office pela franquia Mr. Fit foi a escolhida para que ela pudesse trabalhar ao lado o filho — que, inclusive, participa do trabalho e está presente nas entregas dos pedidos dos clientes.
Com isso, mãe e filho passam mais tempo juntos de forma prazerosa, conseguindo ter mais momentos de passeios e lazer.
Lislaine hoje considera simples o processo de atuar como empresária e, ao mesmo tempo, mãe, pois une o trabalho ao fato de estar perto do filho. “Estar junto em cada momento de dor, queda e, principalmente, ser presente em todos os momentos, faz com que a jornada de mãe se torne cada vez mais única, sem deixar o lado profissional de lado”, comenta a empreendedora.
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