Mesmo após o a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) em reduzir a taxa de juros em 0,5 ponto percentual (p.p.) na quarta-feira (2), as ações do setor de varejo seguem em baixa.
O movimento vai na direção contrária das expectativas do mercado, uma vez que, com a redução nos juros, os custos de financiamento e de crédito ficam mais “baratos”.
Com isso, a queda na Selic poderia beneficiar principalmente os papeis de setores como varejo, shoppings, construção e educação.
Porém, logo no dia seguinte ao anúncio do BC, as ações de varejistas, apesar de abrirem a sessão no positivo, inverteram sinal ao longo do dia e acabaram figurando entre as maiores quedas do Ibovespa na quinta-feira (3).
Os papéis da Via, por exemplo, fecharam em baixa de 8,65%. Já a startup Méliuz teve queda de 6,24%, enquanto o Magazine Luiza perdeu 5,11%.
Na sexta-feira (4), o setor continuou operando no vermelho. As ações da Via fecharam em queda de 1,58%, a Marisa perdeu 1,10% e o Magazine Luiza teve baixa de 3,16%.
Nesta segunda-feira (7), o fim do pregão também foi de perda de 6,94% para a Méliuz, 1,63% para a Magazine Luiza e 0,62% para as Lojas Renner.
O consultor de mercado da Raz Consulting Rafael Ribeiro, reitera que o cenário de corte nos juros é favorável ao setor, mas explica que a baixa se deve à retirada de capital estrangeiro de acionistas após o corte na Selic.
“É lógico que, com a diminuição da taxa de juros, a bolsa perdeu muito, uma vez que tem muito investidor estrangeiro que estava aqui somente em função das taxas super elevadas”, avalia.
“Esse capital especulativo vai embora conforme a taxa básica diminui”, complementa.
Já para Marco Caruso, economista-chefe do PicPay, a principal explicação para o movimento está na falta de condições macroeconômicas para um juro baixo de forma consistente.
“Apesar de o Copom ter ‘surpreendido’ com o corte de 0,50 p.p., quando olhamos os vencimentos da curva futura de juros, a partir do terceiro ano, o que vemos, na verdade, são taxas subindo”, avalia.
Para Caruso, essa movimentação deixa claro que as condições para que a queda na Selic se sustente ao longo do tempo não estão dadas, mesmo que o mercado entenda que o Banco Central (BC) possa “exagerar” nos cortes neste e no próximo ano.
“Isso tem cara de um certo ‘exagero’, então a curva futura lá na frente não está aliviando tanto quanto se imaginava”, explica.
Além disso, Caruso também destaca que o setor está sofrendo com a atividade econômica.
“A partir daqui, a atividade econômica é muito mais complicada”, afirma.
“É como se a gente estivesse vivendo os melhores momentos da atividade econômica nesse primeiro semestre, mas a partir daqui tem uma desaceleração e quem sabe até números negativos de PIB”, avalia.
O economista explica que especialistas vinham revisando o PIB para cima devido a fatores que não colaboram muito com o varejo.
“O PIB, que o Focus já estima acima de 2%, ele só está acima de 2% por causa de setores que têm menos a ver com a atividade doméstica. Então, o resto está sofrendo”, conclui.