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Mulheres trans x mulheres cis em competições esportivas – 29/03/2023 – Mariliz Pereira Jorge

Na Rio-2016, não se falava de pessoas trans, apesar de o Comitê Olímpico Internacional já ter regras definidas. Fui colunista do caderno Esporte durante três anos e meio e cobri basicamente os assuntos que podem ser chatos para o leitor que gosta mesmo é de bola rolando: machismo, homofobia, racismo, doping (meu favorito), corrupção. Transfobia ou a possível desigualdade entre mulheres cis e trans não eram questões.

Havia um burburinho de que a delegação do Reino Unido não havia declarado a presença de transgêneros, mas nem a polêmica em torno da sul-africana Caster Semenya ganhou atenção. A velocista foi medalha de ouro nos 800 metros depois de ter enfrentado acusações de que era “homem” por seus altos índices de testosterona.

Só em Tóquio, ou seja, em 2021, tivemos o registro oficial de trans na competição. Mais ou menos ontem. Por isso é tão importante que o assunto seja discutido, mas infelizmente não há muita gente disposta a isso, o que deixa o debate restrito a ativistas da causa trans e a outros dois grupos para quem essas pessoas nem deveriam existir: feministas radicais e a extrema direita.

Agora, a World Athletics (Associação Mundial de Atletismo) baniu transgêneros das competições femininas e determinou a redução de testosterona para aquelas que mostram diferença no desenvolvimento sexual (DDS), como Caster Semeya. A medida, diz a entidade, é para proteger a categoria, mas não é definitiva.

A WA quer investigar se atletas trans teriam o desenvolvimento beneficiado pelos hormônios masculinos durante a puberdade e se não perderiam essa vantagem ao fazer a transição de gênero na fase adulta. Parece bem razoável. Interessa (ou deveria) a todos que as regras sejam justas, que pessoas trans sejam acolhidas no esporte, que as dúvidas sejam esclarecidas para desarmar os transfóbicos e, obviamente, que as mulheres cis não sejam injustiçadas.


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Fonte: Folha de S.Paulo

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