Na semana passada, Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde
(OMS), revelou que a OMS convocará uma reunião “o mais breve possível”
para determinar se o recente aumento nos casos de Mpox, conhecida como varíola dos macacos,
na África, impulsionado por uma cepa mais perigosa do vírus, deve ser classificado como uma nova emergência de saúde pública de importância internacional.
O alerta surge diante da crescente preocupação com a variante atual do vírus, que é até 10 vezes mais letal do que a cepa que causou o surto global em 2022. A República Democrática do Congo (RDC), onde a Mpox é endêmica, tem enfrentado um aumento alarmante de casos e mortes, mas a recente detecção do vírus
em países vizinhos intensificou o medo de uma nova propagação global.
Celso Granato, infectologista da Clínica Felippe Mattoso, do Grupo Fleury, destacou ao jornal O GLOBO a gravidade da situação: “Estamos observando as mutações do vírus e seu impacto na versão que está circulando em 2024. O que observamos é que ele está se espalhando na África com uma taxa de mortalidade mais alta do que a versão de dois anos atrás”.
A OMS detalhou que, neste ano, a RDC já registrou mais de 14 mil casos e 511 mortes devido à varíola. Em comparação, o surto global de 2022, que atingiu todos os continentes habitados, teve 85 mil casos e pouco mais de 120 óbitos. Tedros Adhanom observou que o número de casos em 2024 já iguala o total do ano passado, e que a doença se espalhou para novas províncias na RDC.
Além disso, em um período recente, foram identificados cerca de 50 casos confirmados e outros suspeitos em Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da África (CDC Africa), o número de diagnósticos de Mpox na África subiu 160% em relação a 2023, que por sua vez já havia registrado um aumento de 60% em relação a 2022.
Jean Kaseya, diretor-geral do CDC Africa, mencionou que a organização pode declarar uma emergência de saúde pública no continente na próxima semana, o que facilitaria o acesso a recursos e ferramentas para enfrentar a epidemia. Pelo menos 16 países africanos estão atualmente afetados.
O vírus Mpox possui duas principais cepas: o Clado 1, associado à África Central, e o Clado 2, ligado à África Ocidental. O surto global de 2022 foi causado pelo Clado 2, que tem uma taxa de mortalidade de cerca de 1%, enquanto o Clado 1 é significativamente mais letal, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 10%. A cepa atual é uma nova ramificação do Clado 1, denominada Clado 1b.
A transmissão da varíola dos macacos ocorre através de contato físico com pessoas infectadas, materiais contaminados ou animais. O surto global de 2022 foi impulsionado pela transmissão sexual, e evidências recentes indicam que a nova cepa também está se propagando dessa maneira. Richard Hatchett, da Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI), alertou para o risco de uma disseminação global, comparando a situação à transmissão do HIV.
Os sintomas incluem febre, dores musculares, cansaço e erupções cutâneas que geralmente começam no rosto e se espalham pelo corpo. No caso de transmissão sexual, as lesões podem aparecer nas genitálias. O aparecimento dos sintomas pode levar de 6 a 13 dias após a exposição.
Em 2022, a OMS já havia declarado a doença como uma emergência de saúde pública de importância internacional. Com a atual escalada de casos, Tedros Adhanom convocou uma nova reunião para avaliar se essa classificação deve ser reestabelecida.
A OMS também está incentivando os fabricantes a submeterem vacinas contra o vírus para aprovação de uso emergencial. Vacinas desenvolvidas para a varíola oferecem proteção contra a Mpox, e a aprovação rápida dessas vacinas pode acelerar o acesso, especialmente em países de baixa renda.
Atualmente, duas vacinas aprovadas por autoridades regulatórias internacionais e recomendadas pelo Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização da OMS (SAGE) podem se beneficiar deste processo de autorização emergencial.