No domingo (9), o governo peruano declarou emergência de saúde a nível nacional por conta do aumento de casos da síndrome de Guillain-Barré
. O país enfrenta um surto e já registrou 4 mortes pela doença desde o início do ano. Até o momento, já foram confirmados 182 casos, dos quais 31 pacientes permanecem hospitalizados.
A síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso. Ela ocorre quando o sistema imunológico do organismo passa a atacar os nervos que conectam o cérebro a outras partes do corpo, resultando em inflamação nervosa. Geralmente, a manifestação da doença acontece apenas uma vez nas pessoas — e comumente o organismo se recupera sozinho. No entanto, pode haver complicações.
“Basicamente todos os nossos nervos têm uma capa chamada mielina e um núcleo chamado axônio, que é como um fio de eletricidade. O fio é o axônio e a capa de borracha, a mielina, faz com que os impulsos sejam mais rápidos. No Guillain-Barré, existe uma reação autoimune em que ou a capa de mielina ou o nervo são agredidos pelo próprio sistema imunológico da pessoa. Isso geralmente é autolimitado e é monofásico, então a grande maioria das pessoas que apresentam a doença, apresenta só uma vez na vida e costuma resolver sozinho”, explica Denis Bernardi Bichuetti, neurologista do Hcor, professor da Unifesp e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia.
Sintomas
O sintoma mais frequente da síndrome de Guillain-Barré é a perda de força e sensibilidade, que parte dos membros inferiores para os superiores. Geralmente o primeiro sinal é sentido nos pés, por meio de formigamentos sensação de perda de sensibilidade. Os sintomas “sobem” até a cintura, levando a dificuldade para andar, podendo fazer com que a pessoa passe a mancar ou tropeçar.
Em alguns casos, ocorre a dificuldade de segurar objetos. Alterações de voz também podem ser sentidas, assim como engasgos e até mesmo insuficiência respiratória.
“A evolução da doença pode levar de uma a 3 semanas. Em grande parte dos pacientes, melhora sozinho, mas em 30% dos casos pode haver insuficiência respiratória com a necessidade de apoio hospitalar”, pontua o neurologista.
Outros sinais e sintomas que podem estar relacionados à Síndrome de Guillain-Barré:
- Sonolência;
- Confusão mental;
- Coma;
- Crise epiléptica;
- Alteração do nível de consciência;
- Perda da coordenação muscular;
- Visão dupla;
- Fraqueza facial;
- Tremores;
- Redução ou perda do tônus muscular;
- Dormência;
- Queimação ou coceira nos membros.
Diagnóstico e tratamento
Segundo Alex Baeta, neurologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, o diagnóstico é fácil de ser realizado por um médico neurologista com expertise.
“É importante juntar os dados clínicos, o exame neurológico alterado, o exame do líquor, que em torno de 75 a 70% mostra um aumento do teor de proteínas no líquor isoladamente, a ressonância magnética dos nervos, que se mostram alterados desde o primeiro ao quarto dia de doença, além de um estudo eletroneurofisiológico”, orienta.
O tratamento é mais efetivo nas primeiras semanas, sendo que a síndrome tem um quadro de evolução de 4 a 8 semanas, e logo após o paciente entra numa fase de estabilização dos sintomas neurológicos.
“Duas possibilidades de tratamento que são orientadas de acordo com a literatura médica mundial são a imunoglobulina humana intravenosa feita com 400 miligramas por quilo dia por 5 dias consecutivos ou a plasmaferese, que é a filtração do plasma sanguíneo, retirando substâncias que podem agredir o nervo”, afirma Baeta.
Relação com vírus da Zika
Durante o período mais crítico da pandemia de Covid-19, foram diagnosticados vários casos da Síndrome de Guillain-Barré. Isso porque o próprio processo infeccioso é capaz de desencadear a doença.
O zika vírus também tem relação com a Síndrome de Guillain-Barré, conforme explica o neurologista Alex Baeta.
“Os vírus envolvidos são inúmeros, tais como Zika, chikungunya, citomegalovírus, vírus do sarampo, da hepatite B, da hepatite C e do HIV. Algumas bactérias como mycoplasma pneumoniae e outras bactérias também podem levar ao desenvolvimento”.
Ainda é um incógnita porque alguns pacientes desenvolvem a doença e outros não. Sabe-se que quando o paciente tem uma doença autoimune, ele é mais suscetível a ter outras doenças autoimunes também.
“O sistema imunológico pode agir de uma maneira correta, mas ele também pode agir de forma errônea interpretando que o vírus ou bactéria sejam agressores e fazendo com que as células de defesa passem a agir e atacar as estruturas do sistema nervoso, achando que elas não pertencem ao sistema nervoso normal”, complementa Baeta.