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Os dois Fernando Diniz podem chegar ao primeiro título – 30/03/2023 – Esporte

Foi de soslaio, mas chamou a atenção porque Fernando Diniz, 49, quase nunca sorri em público. A pergunta sobre “o que faltou” para o Fluminense divertiu até o treinador, às vezes elogiado, outras criticado pela excessiva seriedade.

“Você é um cara exigente…”, respondeu para o repórter.

O Fluminense havia acabado de vencer o Volta Redonda, pela semifinal do Campeonato Carioca, por 7 a 0.

A mesma pergunta “o que faltou” costumava tirar o técnico do sério.

Único nome nacional cotado para dirigir a seleção brasileira, ele pode chegar neste ano ao seu primeiro título de expressão na carreira. Está na final do estadual. Neste sábado (1º), às 20h30, sua equipe começa a decidir o torneio contra o Flamengo, no Maracanã.

Neste ano, ele já venceu a Taça Guanabara, o equivalente ao primeiro turno do estadual.

Em 14 anos como treinador, ele ganhou também a Copa Paulista e a Série A3 de 2009 (pelo Votoraty) e a mesma Copa Paulista de 2010 (Paulista de Jundiaí). Desde 2018 tem feito trabalhos em clubes da elite do país, como Athletico, São Paulo, Santos e Vasco, além do Fluminense.

Se o italiano Carlo Ancelotti, preferido pelo presidente da CBF (Confederação Brasileira de Fuebol), Ednaldo Rodrigues, não emplacar, Diniz pode ter chance.

Ele repetiria, caso aconteça, a trajetória de Sebastião Lazaroni, contratado para comandar a seleção por ter vencido o Carioca de 1988 pelo Vasco.

Lazaroni chamou a atenção pelas expressões incompreensíveis. Como “galgar parâmetros”, por exemplo. Ao atender o telefonema de um jornalista, disse não poder conversar naquele porque estava em uma “situação de barzinho”. Era o “lazaronês”.

Tite, recém-saído da CBF após derrota nas quartas de final na Copa do Qatar, também tinha seu vocabulário próprio, como o “oportunizar”: o “titês”.

Fernando Diniz possui o “dinizismo”. Mas não são palavras e sim, atos. É a sua maneira de ver o futebol e o seu trabalho, o que ele reconhece transformar em personagem singular.

“Eu aceito a minha singularidade e não teria como fazer diferente. Faço exatamente aquilo que sinto, mas para mim é uma coisa comum. Procurar melhorar, enxergar o time. Pode ser uma coisa diferente aos olhos dos outros, mas procuro fazer simplesmente aquilo que acredito”, disse para a FluTV.

O dinizismo ficou mais conhecido pela resistência em sair da defesa com lançamentos longos. A ordem é troca de passes curtos, sem importar a circunstância da partida. Mas não é apenas isso. É a pressão constante, tentar se impor, a velocidade nos passes e movimentação. A crença no futebol ofensivo. São características que o fizeram ser louvado e criticado na mesma intensidade.

Elogiado pela filosofia, já foi ironizado pela falta de resultados. No Brasileiro de 2020, o São Paulo tinha sete pontos na liderança durante o segundo turno e a desperdiçou. Em clubes como Vasco, Santos e na sua primeira passagem pelo Fluminense (em 2019), acabou alvo de reclamações pela intransigência de ideias. Por não ter um plano B quando algo vai mal.

A questão da personalidade já lhe trouxe problemas. Um integrante da diretoria santista disse à Folha que a demissão de Diniz em 2021 não aconteceu apenas porque o time patinava em campo. Tornou-se uma situação em que era preciso escolher: a jovem revelação Ângelo ou o técnico. Não havia como os dois continuarem juntos e nem dispensar um atacante que poderia render milhões no futuro.

No São Paulo, seu conflito em campo, flagrado pelas câmeras de TV, com o volante Tchê Tchê, ajudou a fazer o São Paulo perder o Brasileiro. Em expressões que foram lembradas por meses, ele chamou o jogador de “perninha” e “mascaradinho”, gírias para designar preguiça e arrogância.

“Não fez mal só para mim. Eu sei quem sou. Mas você ver a proporção que a coisa tomou, seu pai te ligar chorando, é totalmente na contramão do que fui criado. Não sou perna, não sou mala, não sou arrogante. Ele foi mal naquilo. Depois a gente conversou e não me senti à vontade. As coisas não ficaram legais”, disse Tchê Tchê ao podcast Podpah.

Diniz é capaz de se agarrar com a mesma fé em jogadores nos quais acredita no potencial. No seu período no Morumbi, via em Nestor um potencial enorme e fez de tudo para deixá-lo pronto para o time principal. Chamou Ganso, seu meia no Fluminense, de “gênio” e afirmou que ele já deveria ter disputado três Copas do Mundo.

O próprio técnico já brincou, nas poucas entrevistas que costuma dar, ter uma dupla personalidade. O Fernando Diniz à beira do campo é diferente do dia a dia. Quando se destacou como técnico, na campanha do Audax vice paulista de 2016, chegou a proibir a entrada de jornalistas nos treinos. Não por desejar esconder escalação ou opções táticas. Mas para a imprensa não ouvir os palavrões que gritava para os atletas.

O caso do amor com o Fluminense, se acabar em título estadual, poderá reforçar a certeza do presidente do clube, Mario Bittencourt, de que não deve liberá-lo em caso de interesse da CBF.

Formado em psicologia, ele passou a carreira ouvindo elogios ao futebol de seus times e críticas quanto aos resultados. A final do Carioca deste ano pode mudar isso.

Fonte: Folha de S.Paulo

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