A pausa por 90 dias das tarifas recíprocas sobre as importações para os Estados Unidos, anunciada nesta tarde de quarta-feira (8) pelo presidente Donald Trump, poderá permitir que a taxa de câmbio siga operando em patamares mais baixos do que os picos registrados nos últimos dias, pós-tarifaço.
É o que avalia o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, comparando o pico do valor do dólar nesta manhã, acima de R$ 6, e a queda para perto de R$ 5,80 logo após o anúncio da pausa do tarifaço.
Em entrevista ao Portal iG, Campos Neto enfatizou que o mundo vive um cenário de extrema volatilidade, por conta das sinalizações controversas do governo de Trump e todo o peso que a postura do presidente norte-americano tem nos mercados internacionais.
“Num primeiro momento, com o tarifaço anunciado e, principalmente, com a escalada que houve entre Estados Unidos e China no anúncio das tarifas, tudo isso desencadeou um ambiente de muito pessimismo”, diz ele.
Cenário de riscos
Nesse cenário de muitos riscos, de acordo com o economista, moedas de países emergentes, como o Brasil, e, principalmente, de países que exportam commodities para a China, que também é o caso do Brasil, acabam sofrendo muito mais.
“O problema não é só as tensões que isso gera, mas também o efeito que isso traz sobre os preços de commodities, sobre as ameaças para a própria economia da China. Isso, para o Brasil, significa menos dólares entrando, por conta das nossas exportações. A consequência que a gente observou nos últimos dias foi uma alta forte do dólar por aqui”, enfatiza.
Na sua opinião, ainda que mantendo a pressão sobre a China, o recuo de Trump foi um sinal de que há margem para negociar.
“Isso até faz sentido, porque as tarifas vão ser muito ruins para a economia norte-americana. Ninguém sabia muito bem até onde ele [Trump] estava disposto a levar essa situação, mas fica claro que ele está ciente do impacto negativo dessa política que ele vem conduzindo”, analisa Campos Neto.
Expectativa de negociações
Para o economista, o movimento do presidente norte-americano sugere que, provavelmente, ele não vai muito longe com a guerra comercial que criou logo no início do seu governo, mesmo que os Estados Unidos mantenham um aumento de tarifas, no caso dos 10% neste período de 90 dias, como anunciado.
“O resultado disso é que o dólar caiu com essa melhora de ambiente, com esse alívio, pela expectativa de negociações. Se for mantido, isso pode permitir com que a nossa taxa de câmbio siga operando em patamares mais baixos do que esses picos vistos nos últimos dias”, projeta o economista.
No entanto, tudo vai depender de eventuais novas medidas.
“É um presidente muito imprevisível, que eventualmente pode tomar alguma outra decisão que gere barulho, causando piora de humor dos mercados. Há sempre o risco; é um governo que vai gerar provavelmente muita instabilidade ainda. É difícil cravar uma projeção, mas essa melhora de humor abre espaço, eventualmente, para o dólar voltar a operar mais perto de 5,80”, pontua Campos Neto.
É hora de comprar dólar?
E para quem está precisando comprar dólar, o economista aconselha precaução.
“Num contexto de volatilidade extrema como essa, é importante ter cuidado. Para quem não precisa comprar de forma imediata, talvez valha esperar um pouco. Agora, como houve esse recuo hoje, para quem tem uma demanda, uma necessidade mais urgente de comprar dólares, acredito que já vale a pena fazer uma compra amanhã. Isso para quem realmente precisa de dólares num curto prazo, porque ainda continuamos num ambiente muito instável ”, conclui o economista Silvio Campos Neto.