Pedro Caixinha, 52, se perde para dizer em quantos países trabalhou.
“São oito”, cravou.
“Não são.”
“Não?”
“Portugal, Arábia Saudita, Grécia, Romênia, México, Qatar, Escócia, Argentina e Brasil.”
Ele acompanha a citação de cada um com balançar de cabeça, a concordar. No final, sorri.
“Sim. São nove, então.”
Apesar da rodagem, o atual técnico do Red Bull Bragantino não gosta de ser visto como andarilho do futebol. O que deseja mesmo é fincar raízes, fazer um trabalho de longo prazo. Foi isso o que o atraiu ao receber a oferta do clube do interior paulista no início do ano.
Chegou ao Brasil convencido que era o melhor projeto possível. Nesta segunda-feira (20), às 21 horas, na Vila Belmiro, Caixinha pode colocar o Bragantino na final do Campeonato Paulista pela primeira vez desde o título de 1990. Terá de vencer como visitante o Água Santa, a maior surpresa do torneio.
A equipe foi sensação no início da década de 1990. Ficou também com o vice no Brasileiro de 1991. Depois da fusão com a Red Bull, em 2020, chegou à decisão da Copa Sul-Americana de 2021.
“Eu gosto de ficar amarrado mais tempo a um determinado lugar, mas as circunstâncias têm me levado a fazer diferente. O que temos muito claro aqui é a filosofia e o caminho que temos de percorrer para chegar a um objetivo”, afirma.
É uma estrada acidentada. Na última quarta-feira (15), foi eliminado da Copa do Brasil pelo Ypiranga-RS por 3 a 1. O resultado foi inesperado.
“Como se faz um time grande? Vamos pegar o exemplo de Portugal. O que faz o Benfica grande? É a tradição, o número de adeptos e os títulos. O projeto do Red Bull Bragantino é de longo prazo”, acredita, citando a necessidade de ter paciência para obter tudo isso.
A lógica era que o Bragantino enfrentasse, na semifinal, o São Paulo. Se isso acontecesse, poderia ser considerado zebra pelos três quesitos citados por Caixinha: tradição, torcida e títulos. Mas contra o Água Santa, a situação muda.
Dono de uma carreira discreta como jogador, Caixinha nunca passou mais de dois anos em time nenhum como técnico. Seus trabalhos mais duradouros foram no Santos Laguna-MEX (2013-2015) e no Al-Gharafa-QAT (2015-2017). Foi no México que conquistou seus principais títulos. Ganhou o Apertura de 2014, o Clausura de 2015 e o Apertura de 2018. Este último pelo Cruz Azul.
Ele sabe que navega em uma onda no futebol brasileiro: a dos treinadores portugueses. Depois do sucesso de Jorge Jesus no Flamengo e de Abel Ferreira no Palmeiras, várias outras equipes buscaram um profissional do país europeu. O Red Bull Bragantino, entre eles.
“Todos os países são diferentes, são diferentes culturas e há um intercâmbio, O futebol é um microcosmo da sociedade em geral e não podemos dissociar essa necessidade de novas ideias. A mostra disso é que no começo do Campeonato Brasileiro nós teremos pela primeira vez dez técnicos estrangeiros”, ressalta.
Não que seu estilo seja igual aos dos demais portugueses que se tornaram referência no Brasil. Ele não perde a voz à beira do campo. Caixinha não faz gestos exagerados e nem reclama com arbitragem (de fato, ele pede também aos seus jogadores que não façam isso). É oposto de Jesus e Ferreira. Passa boa parte das partidas parado, a observar o que acontece em campo. As instruções aos atletas, durante as partidas, são transmitidas por seus auxiliares.
Isso contrasta com sua didática durante a semana, de exibir em vídeos e diagramas exatamente o que deseja nos treinos.
Exigir nas atividades e observar nos jogos o que os jogadores brasileiros podem mostrar o fez descobrir o que de melhor e pior eles têm a oferecer.
“Já trabalhei com muitos brasileiros em diferentes países. O que observo é que o jogador brasileiro, quando vai cedo para a Europa, tem uma visão e um conhecimento do jogo que são muito interessantes. Agora que estou aqui vejo a diferença. O jovem jogador brasileiro tem menos conhecimento do jogo, de quando deve atacar, da situação de posse de bola mais larga para chamar o jogo ou ajustar as linhas. Temos jovens aqui de muita qualidade, mas falta um pouco de conhecimento do que o jogo precisa”, analisa.
A experiência de Pedro Caixinha é rara. Formado pela escola portuguesa de técnicos, passou pelo leste europeu, Oriente Médio, esteve em uma liga rica, mas pouco valorizada mundialmente (a mexicana) e conheceu o caos que é o campeonato argentino, embora tenha trabalhado em um dos times mais organizados do país, o Talleres.
E como treinador do Rangers viveu, por dentro, aquela que é talvez a maior rivalidade deste esporte, contra o Celtic.
Apesar disso, ele gosta mesmo é de falar sobre táticas, do comportamento dos atletas em campo e do projeto do Red Bull Bragantino. Isso é mais importante, para ele, até do que possível preconceito que ainda existe no Brasil contra profissionais estrangeiros ou que não foram grandes jogadores.
Caixinha sorri, como quem considera isso uma enorme bobagem.
“Há pessoas competentes em todas as áreas. Se essa pessoa foi jogadora, não foi jogadora, tem de procurar pela competência. As que passaram e ganharam vão perdurar por muito mais tempo”, finaliza.
É isso o que ele planeja, enfim, fazer no Red Bull Bragantino.