Da Redação Avance News
Arqueólogos em Pompeia fizeram uma descoberta impressionante: um afresco de grandes dimensões retratando um antigo culto a Dionísio, focando na iniciação de uma mulher sob a escuridão da noite. O achado foi revelado pelo Parque Arqueológico de Pompeia na última quarta-feira (26), durante a apresentação da recém-escavada Casa de Thiasus.
A pintura, quase em tamanho real, cobre três paredes de um grande salão de banquetes, enquanto a quarta parede se abre para um jardim. Com um fundo vermelho vibrante, o mural retrata mênades – seguidoras do deus do vinho, Dionísio – caçando e carregando espadas, além de jovens tocando flautas e participando de rituais.
Culto a Dionísio: mulheres, caçadas e rituais secretos
- Afrescos revelam mulheres fora do padrão da época: as mênades eram retratadas como mulheres que se libertavam da ordem masculina, dançavam livremente e participavam de caçadas, algo incomum na sociedade romana, segundo o Live Science.
- A relação entre os mistérios dionisíacos e os animais: os murais sugerem que os iniciados no culto de Dionísio (chamado de “mistério”, porque as práticas eram mantidas em segredo) poderiam caçar como parte dos rituais, reforçando a conexão da divindade com o mundo selvagem.
- Registro histórico de um culto proibido: embora as celebrações dionisíacas tenham sido oficialmente proibidas em 186 a.C., os afrescos indicam que os rituais continuaram sendo praticados na região.
O significado dos afrescos e o impacto da descoberta
No centro da pintura, um velho sátiro (que na mitologia grega eram seres com corpo metade humano e metade bode) aparece ao lado de uma jovem prestes a ser iniciada no culto dionisíaco. Esses rituais eram conhecidos por envolver substâncias como vinho e ópio para induzir estados de transe. Segundo os historiadores, o culto prometia renascimento espiritual e a imortalidade aos seus seguidores.
A descoberta é especial porque se trata de uma “megalografia“, ou seja, uma grande pintura que retrata figuras em tamanho quase real. Para se ter uma ideia, há apenas um outro mural semelhante, encontrado em 1909 na Villa dos Mistérios, nos arredores de Pompeia.
Embora ambos retratem iniciações, o novo afresco se diferencia ao incluir cenas de caça, algo nunca antes documentado como parte dos rituais iniciáticos do culto a Dionísio. Essa descoberta sugere que a conexão entre Dionísio e o mundo selvagem era mais forte do que se imaginava.
Gabriel Zuchtriegel, diretor do Parque Arqueológico de Pompeia, destacou a importância cultural do achado: “Esta é a mulher que se liberta da ordem masculina para dançar livremente, caçar e comer carne crua nas montanhas.”
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Já o ministro da Cultura da Itália, Alessandro Giuli, classificou a pintura como “um documento histórico excepcional”, afirmando que ela oferece uma visão única sobre aspectos pouco conhecidos da vida mediterrânea clássica.
Pompeia continua a revelar seus segredos
A Casa de Thiasus, onde o afresco foi descoberto, agora faz parte das visitas guiadas nas escavações em Pompeia, conforme o site oficial do parque. O achado reforça a riqueza cultural da cidade soterrada pela erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C. e mantém Pompeia como uma das principais janelas para a vida na Roma Antiga.
Os dois murais de megalografia datam de meados do primeiro século a.C.. Ou seja, eles tinham mais de um século quando o Monte Vesúvio entrou em erupção em 79 d.C., preservando as pinturas por dois milênios.