Da Redação Avance News
Na Agrishow 2025, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) propôs ao governo federal um Plano Safra 2025/26 de R$ 599 bilhões — um aumento de 25,7% em relação ao ciclo anterior. A proposta inclui R$ 25 bilhões para equalização de juros e R$ 6 bilhões para o seguro rural. No papel, números expressivos. Na prática, a dúvida persiste: o produtor rural será, enfim, atendido?
A experiência mostra que não. Historicamente, os anúncios do Plano Safra ficam distantes da realidade do campo. Recursos prometidos chegam com atraso, o crédito subsidiado é insuficiente e o seguro rural segue cronicamente subfinanciado.
Pequenos e médios produtores, que mais dependem do apoio oficial, continuam desprotegidos diante de eventos climáticos cada vez mais severos.
Enquanto isso, o setor agropecuário, responsável pelo superávit comercial do Brasil, é sistematicamente utilizado como “poupança anticrise”. Sempre que a inflação ameaça sair do controle, são os produtores que pagam a conta: enfrentam crédito estrangulado, custos em alta e nenhuma contrapartida sólida em infraestrutura ou apoio à renda.
O pedido da FPA de mais R$ 25 bilhões para juros visa, na verdade, corrigir o impacto da Selic, que pode chegar a 15% em 2025. Já os R$ 6 bilhões para o seguro rural, apesar do reforço, estão longe de cobrir as perdas que secas, geadas e enchentes causam a cada safra.
O governo, mais uma vez, acena com promessas de crédito e inovação. Mas sem mudanças estruturais — como liberação ágil de recursos, menos burocracia e seguro rural robusto —, o novo Plano Safra corre sério risco de ser apenas mais um show de cifras sem efeito prático.
O campo brasileiro não precisa apenas de anúncios grandiosos. Precisa de respeito, previsibilidade e reconhecimento real de sua importância estratégica para o Brasil.
Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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