O presidente do Equador, Guillermo Lasso, assinou a chamada “morte cruzada”, com a qual dissolveu a Assembleia Nacional e poderá governar por decretos-lei de urgência econômica enquanto se realizam eleições para presidente e legisladores, segundo ao decreto publicado nesta quarta-feira (17) pela Presidência da República.
Quem é Guillermo Lasso
Guillermo Lasso, de 67 anos, é o primeiro governante de direita – eleito com as bandeiras do Partido Social Cristão – a chegar ao Palácio Carondelet em 18 anos.
Ele é católico com uma tendência conservadora e é o caçula de 11 irmãos. O presidente é casado com María de Lourdes Alcívar há 42 anos. Eles têm cinco filhos e sete netos.
Lasso esteve ligado ao setor financeiro até ocupar o cargo mais alto do Banco de Guayaquil, um dos maiores do Equador. Ele renunciou à presidência executiva do banco em 2012 para se dedicar totalmente à política.
Ele concorreu à presidência incitando valores liberais, prometendo mais investimento estrangeiro direto e fomentando o empreendedorismo.
O presidente do Equador obteve mais de 52% dos votos contra seu adversário de esquerda, Andrés Arauz, em 2021.
Saúde
Em junho de 2021, ele passou por uma intervenção cirúrgica de média complexidade na coluna para retirada de um cisto na região lombar causado por erro médico ocorrido anos atrás.
O processo de reabilitação o obrigou a usar uma bengala para neutralizar a mobilidade limitada da perna esquerda.
Em agosto de 2022, Lasso confirmou aos membros de seu gabinete que havia sido diagnosticado com melanoma dias após ser operado em uma lesão na pálpebra.
Em seguida, ele viajou para Houston, nos Estados Unidos, para receber atendimento e tratamento e disse que “a operação para remover o melanoma localizado na pálpebra inferior direita foi bem-sucedida”.
Em 2023, Lasso recebeu medicação intravenosa para combater a infecção do trato urinário. Com informações de Ana María Cañizares, Abel Alvarado, Tara John, Karol Suárez, Andrés Oppenheimer e Valentina González Galvis.
Posicionamentos
Lasso foi elogiado por uma bem-sucedida campanha de vacinação contra a Covid-19 no início de seu mandato, desfrutando de altos índices de aprovação na época.
Quando estourou a pandemia, ele liderou a iniciativa Salvar Vidas, para retomar verbas e abastecer o sistema público de saúde com o apoio de empresas privadas. A iniciativa arrecadou mais de US$ 8 milhões, de acordo com seu site oficial.
Mas no início de sua gestão, o presidente também teve que enfrentar o crescente problema de insegurança e violência no país, em meio a motins nas prisões e o avanço do narcotráfico.
Lasso, que tem pouco poder no Congresso e tem lutado para formar coalizões, implementou vários estados de emergência para conter crimes violentos no país e motins entre gangues rivais.
Em outubro de 2021, o presidente decretou estado de emergência por “grave comoção interna” em todo o território nacional para enfrentar a escalada de violência e assassinatos nas ruas que têm gerado medo e ansiedade na população.
Ele descreveu o narcotráfico como o “principal inimigo” do Equador e ordenou a mobilização das Forças Armadas nas províncias de Guayas, Pichincha, El Oro, Santa Elena, Los Ríos, Santo Domingo, Manabí, Esmeraldas e Sucumbíos, por apresentarem os mais altos níveis de atividade criminosa.
Em junho de 2022, durante uma grande greve nacional com protestos nas ruas, Lasso declarou estado de emergência nas províncias de Azuay, Imbabura, Sucumbíos e Orellana por 30 dias para restaurar a “ordem pública”.
Em fevereiro de 2023, o movimento indígena no Equador pediu a renúncia do presidente e declarou mobilização permanente.
Na mesma época, o presidente não obteve o resultado que esperava nas eleições seccionais e no referendo realizado no Equador.
Não só a maioria dos cidadãos rejeitou amplamente as mudanças na Constituição propostas pelo Governo —entre elas a redução do número de deputados e repensar a designação de autoridades de controle do Estado—, mas também a Revolução Cidadã, movimento liderado pelo ex-presidente Rafael Correa, obteve a vitória em várias capitais e em cidades pequenas.
Em abril, Lasso declarou os grupos do crime organizado como terroristas, uma medida que deu poder aos militares para perseguir as gangues, apesar das alegações de corrupção que ameaçavam as forças de segurança.
A violência e a insegurança econômica estão levando mais equatorianos a deixar o país: as estatísticas mostram que milhares seguiram para o norte através do Darien Gap este ano.
Relação com o banco
As acusações contra ele sobre sua relação com o banco gerou ataques de seus adversários, incluindo críticas do correísta Andrés Arauz, contra quem disputou o segundo turno presidencial.
“Todos nós sabemos que foram seus amigos banqueiros que bloquearam os depósitos das pessoas no passado”, disse em um vídeo publicado durante a campanha em suas redes.
Arauz disse que o que Lasso quer é “defender seus privilégios de cobrar comissões até mesmo pela impressão de um recibo”.
Lasso se defendeu dizendo que não tinha nada a ver com “o feriado bancário” de 1999, quando o Equador congelou os depósitos bancários do país devido à “pior crise econômica do século 20”, segundo o ex-presidente Jamil Mahuad.
O Correísmo criou uma comissão em 2012 para investigar o “feriado bancário” durante a crise financeira do país e concluiu que Lasso não beneficiou, nem teve implicações ou responsabilidades naquela decisão de há mais de 20 anos.
“Se eu tivesse algo a ver com essa decisão, já teria sido processado no Equador”, disse Lasso.
Após uma desvalorização acelerada da moeda local, o sucre, o país passou a ser o dólar.
Processo de impeachment
Em 2022, Lasso sobreviveu a uma tentativa de impeachment em meio a protestos de semanas contra o aumento dos preços dos combustíveis e dos alimentos, e seu nome apareceu nos “papéis de Pandora”, uma exposição de 2021 sobre segredos e negócios financeiros no exterior de dezenas de chefes de estado e funcionários públicos.
A lei equatoriana proíbe os funcionários públicos de terem bens em paraísos fiscais.
Lasso disse à comissão legislativa do Equador que o investigava que ele não havia sonegado impostos e que seu registro fiscal era legalmente comprovado. A investigação foi posteriormente arquivada pela Controladoria.
Em março de 2023, uma comissão da Assembleia Nacional do Equador votou a favor do relatório que recomenda o impeachment do presidente Guillermo Lasso por supostos crimes contra a segurança do Estado e a administração pública.
A comissão legislativa era composta por sete parlamentares depois que a Procuradoria-Geral do Estado iniciou em janeiro uma investigação chamada “Caso Encuentro” sobre a suposta existência de um esquema de corrupção em pelo menos quatro empresas públicas.
Em 9 de maio, com 88 votos a favor, a Assembleia Nacional do Equador resolveu prosseguir com o processo político contra o presidente Guillermo Lasso, por suposta participação no crime de peculato.
Segundo a oposição, o presidente não rescindiu contrato entre a Frota Petroleira do Equador (Flopec) e o consórcio Amazonas Tankers para transporte de derivados de petróleo, o que supostamente teria representado prejuízo aos cofres do Estado.
O presidente tem insistido que é inocente e que aqueles que pretendem destituí-lo querem desestabilizar o país e ameaçar a democracia.
Lasso nega desde janeiro a existência de uma estrutura de corrupção em seu governo e insiste que existem instituições estatais “preocupadas em derrubar o governo”.