O Gabinete Institucional de Segurança (GSI) avaliou como de “normalidade” a situação em 8 de janeiro pouco antes de começar o deslocamento de manifestantes que estavam no acampamento em frente ao quartel-general de Brasília, segundo o relatório do Exército sobre a atuação e mobilização das tropas na ocasião. Por conta disso, a mobilização de tropas também foi baixa.
A CNN teve acesso ao documento enviado para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura o ataque aos Três Poderes em 8 de janeiro.
Na avaliação de fontes que participam da CPMI, o relatório demonstra uma omissão do GSI – órgão do governo responsável por fornecer informações e assistência direta e imediata ao presidente da República – durante os atos.
Segundo o documento, o primeiro contato feito pelo GSI ao Exército ocorreu no final da manhã.
Nesse momento, foi enviada uma unidade de pelotão de choque, composta por 30 militares, para reforçar a segurança do Palácio do Planalto. O pelotão estava posicionado no local e em condições de ser empregado a partir das 12h30.
“Em razão da avaliação informada pelo GSI, a mobilização dos meios do EB [Exército Brasileiro] foi realizada de acordo com a situação de normalidade”, diz o relatório do Exército, se referindo à situação por volta das 12h de 8 de janeiro.
O pedido de reforço feito pelo GSI acontece apenas minutos antes do início do deslocamento dos manifestantes do acampamento em direção à Praça dos Três Poderes, por volta das 12h05.
Veja linha do tempo da movimentação das tropas do Exército no 8 de janeiro
Segundo o relatório, somente após as 15h – quando os manifestantes já haviam invadido o Congresso Nacional –, o Exército tomou a iniciativa de requisitar um batalhão adicional.
Fontes no Exército confirmaram que o envio de reforços foi feito por iniciativa própria das Forças, sem que tenha ocorrido uma nova solicitação por parte do GSI.
O ministro à frente do GSI durante o 8 de janeiro era o general Gonçalves Dias. A CNN divulgou, em abril, imagens que mostram Dias dentro do Palácio do Planalto durante a invasão do prédio. Pouco depois, o ministro pediu demissão do cargo.
A CNN contatou os advogados de Gonçalves Dias, mas ainda não obteve retorno.
Ex-diretor da Abin diz que Gonçalves Dias foi avisado sobre movimentação “não usual”
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Nesta terça-feira (1º), o ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura da Cunha, durante depoimento para a CPMI do criminosos do 8 de janeiro, disse que o GSI foi avisado de uma movimentação “não usual” no Distrito Federal.
Cunha disse que, na tarde do dia anterior, 7 de janeiro, avisou aos órgãos do governo do Distrito Federal e do governo federal sobre um incremento no número de ônibus que chegavam à capital.
“No dia 7, do ponto de vista de inteligência, você tem um aumento significativo desses números de ônibus. Informamos o incremento, uma atividade não usual na chegada para Brasília. Na tarde do dia 7, os órgãos de segurança do governo do Distrito Federal e do governo federal já tinham, sim, a informação que teríamos uma manifestação com grande participação de pessoas”, afirmou Cunha.
Além disso, o ex-diretor também disse que trocou mensagens diretamente com Gonçalves Dias na manhã do dia 8, e repassou todos os alertas da Abin. De acordo com Cunha, ao receber a mensagem pelo WhatsApp, Gonçalves Dias teria respondido: “Acho que vamos ter problemas.”